quinta-feira, 11 de março de 2010

Nine não vale o ingresso

Não sou um grande fã de musicais, mas acho “Moulin Rouge” (2001) simpático e gosto de “Chicago” (2002), a última incursão do diretor Rob Marshall no tema. Portanto, apesar da minha aversão, de vez em quando consigo apreciar um ou outro musical, embora não consiga entender muito bem como uma pessoa de repente saia cantando do nada e a cena começa a ganhar ares lúdicos, iluminação diferente, enfim.

Mas por força da minha mania por ver sempre o maior número possível de filmes candidatos ao Oscar antes da premiação que ocorreu no fim de semana, fui ao cinema ver “Nine”. E o resultado só reforçou o meu preconceito contra musicais.

Para começo de conversa, “Nine” é um musical com músicas ruins. Isso já detona 80% do filme. “Chicago”, por exemplo, tinha boas canções. Não é a toa que dos seis Oscar que ganhou em 2003, um deles era o de melhor trilha sonora original. Quanta diferença com “Nine”, que teve apenas uma música, “Take it all”, concorrendo à estatueta de melhor canção numa das quatro indicações que o filme conquistou. E acabou deixando a festa de mãos vazias.

“Nine” é a tentativa de Rob Marshall de contar através de um musical a história de “Fellini 8 ½”, filme do italiano Federico Fellini lançado em 1963 que conta a história de um diretor, Guido Anselmi, em crise criativa com um filme para fazer, mas sem qualquer ideia para o roteiro ou de como começar.

No trabalho do diretor italiano, o papel de Guido é conferido ao ator Marcello Mastroianni. O resultado é uma atuação daquelas que você poderia chamar de única, quase perfeita. Se havia um ator, portanto, que poderia se igualar ao trabalho de Mastroianni, ele poderia ser Daniel Day-Lewis, reconhecidamente talentoso e duas vezes premiado com um Oscar, a última delas por “Sangue Negro” (2007) há dois anos.

Day-Lewis não decepciona (ao menos nos momentos em que ele não canta e apesar da tentativa de sotaque de italiano tentando falar inglês), mas realmente era difícil se igualar ao trabalho ímpar de Mastroianni. Além disso, ele é prejudicado por um filme que não empolga e se divide em esquetes para suas sete atrizes cantarem, dançarem e rebolarem à vontade.

Quando elas entram em cena percebemos assim que Marion Cotillard, que faz Luisa, a esposa de Guido, e que tanto vimos cantar na cinebiografia de Edith Piaf em “Piaf – um hino ao amor” (2007), é realmente uma grande atriz que valeria qualquer ingresso, assim como Judi Dench, a Lilli, responsável pelo figurino do filme falido de Guido.

Indicada ao Oscar de coadjuvante, Penélope Cruz (que dá brilho a este post lá em cima), a Carla, amante de Guido, também não destrói os seus tímpanos e, bem, é Penélope Cruz com toda a extensão de suas pernas.

Kate Hudson (Stephanie) e Nicole Kidman (Claudia), porém, são coadjuvantes de luxo (só porque custam caro) que pouco ou nada acrescentam ao filme enquanto a cantora Fergie (Saraghina) além de não cantar está ali apenas para exibir o seu (belo) corpo. E pensar que no filme do Fellini a sua personagem é uma mulher feinha de doer. E ainda tem a Sophia Loren que, bem, acreditem, meu avô dizia que ela era bonita. Hoje é difícil vê-la e, no caso de um musical, escutá-la.

Apesar de algumas ressalvas positivas “Nine” é um filme mala. Com 1h30m você já está querendo ir embora sem desejar ouvir qualquer música no resto do dia. Dessa vez, Rob Marshall errou a mão. Mas, convenhamos, não dá para fazer um “Chicago” todo dia.

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