sexta-feira, 5 de março de 2010

O segredo por trás dos olhos

Em todas as reportagens que já li, é dada como certa a vitória do alemão “A fita branca” na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro. A Palma de Ouro em Cannes e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro realmente credenciam o bom trabalho de Michael Haneke ao prêmio da Academia. Mas eu não desprezaria completamente o novo filme do argentino Juan José Campanella.

“O segredo dos seus olhos” é um prato gélido de vingança degustado com o ódio da impunidade de uma Justiça mesquinha que se perde em detalhes pessoais ao invés de julgar fatos, provas e confissões imundamente eróticas.

É também a jornada de um homem aposentado que busca na escrita resgatar o passado para se redimir de erros cometidos pela falta de coragem, apesar da paixão que pulsava violentamente em sua corrente sanguínea.

No meio disso tudo, a história é contada com a sutileza dos olhares. Os olhos de desejo de Irene (Soledad Villamil), querendo libertar-se de uma decisão equivocada, mas precisando de uma âncora para isso. Os olhos de Benjamin Espósito (Ricardo Darín, em magistral atuação), pulsante em puro amor que se perde nas duas esmeraldas de Irene e deseja seus lábios carnudos.

Ou o de Ricardo Morales (Pablo Rago), homem que teve a esposa brutalmente assassinada e que planeja com frieza e crueldade a sua vingança após a Justiça não ter feito o que ele acha ser a coisa certa.

Todo o filme de Campanella é contado na viva (ou não tanto assim) expressão da retina dos seus atores. É um trabalho que se desvela pela paixão (e aqui não falo apenas de amor) e na sutileza do olhar.

“Os olhos falam”, diz Benjamin ao explicar muito do que está contido no seu livro para Irene e cujo conceito foi usado para desvendar o assassinato da jovem que em tantas fotos no álbum da família aparece sendo "devorada" por um homem desconhecido.

Paixão, desejo e vingança, sensações primitivas, primevas que se perdem e se encontram neste drama com toques de suspense e de filme policial argentino, filmado cirurgicamente por Campanella. A condução de sua história é como o lento desenrolar de um pergaminho reaberto com a extensão do tempo em que ele ficou ali recluso por 25 anos, embora parecessem séculos.

Um assassinato que marcou seus personagens, principalmente Benjamin, que nunca conseguiu esquecer e sempre se sentiu incomodado e com uma pergunta na cabeça: O que teria acontecido com aquele assassino que se salvara da pena praticamente certa de prisão perpétua?

A resposta vem com a perfídia de quem soube arquitetar um plano perfeito. Apesar de um triste, mas fundamental detalhe: ele o deixou aprisionado para sempre no passado.

Indicação ao Oscar: melhor filme estrangeiro

4 comentários:

Lion disse...

quero ver esse...

marcelo alves disse...

É muito bom. Vale a pena. Deveria ter brigado inclusive pelos principais Oscar.

Lion disse...

Finalmente assisti... tou chapado até agora

marcelo alves disse...

Tive sensação semelhante. É realmente espetacular