quinta-feira, 4 de março de 2010

A gênese do mal

Num pequeno vilarejo no interior da Alemanha, um pastor (Burghart Klaussner) educa com mão de ferro seus filhos e outros jovens catequizados na única escola da região. Com suas crianças, em especial, Klara (Maria-Victoria Dragus) e Martin (Leonard Proxauf), é ainda mais rigoroso, punindo os seus erros com chibatadas e humilhação pública como a obrigação de usar uma fita branca presa no corpo, uma indicação de alguém que está sendo purificado.

Nesse mesmo vilarejo conservador até o último fio de cabelo ariano, começam a surgir cruéis atos de violência contra seus moradores sem que ninguém descobrisse a autoria da maioria deles. É o médico que cai do cavalo porque um fio estava estendido perto de sua casa e fica a beira da morte. Uma jovem criança com síndrome de down espancada brutalmente ou um celeiro incendiado.

Este é o enredo de “A fita branca”, novo trabalho do diretor Michael Haneke, considerado favorito ao Oscar de melhor filme estrangeiro e que ainda concorre à estatueta de fotografia.

Passado um pouco antes da Primeira Guerra Mundial, o trabalho de Haneke, que faturou a Palma de Ouro em Cannes e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, mostra a gênese de uma pura maldade naquele fiapo de terra de uma Alemanha ainda recém unificada que pode criar paralelo com a ascensão do Nazismo de Hitler décadas depois.

Como num pesadelo, o vilarejo exposto pela câmera de Haneke é pesado a ponto de a baronesa (Ursina Lardi), mulher do Barão (Ulrich Tukur), espécie de mecenas da área, não querer mais criar o seu filho naquela região onde se respira a maldade, a desconfiança é latente e o amor floresce com muita dificuldade. Principalmente depois que ele é alvo de ataques.

Talvez como forma de expor com mais crueza a sua história, Haneke opta por filmar em preto e branco. O mesmo branco que deve denotar a pureza reflete a pura maldade de um grupo que permanecerá impune. Mesmo depois que o professor vivido por Christial Friedel, alguém que ainda tenta dar um senso de justiça ao vilarejo, até por não ser local, começa a descobrir toda a verdade. Contudo, em nome das aparências de uma comunidade perfeita, é ele que é devidamente calado. E a vida segue seu fluxo enquanto no resto da Europa o arquiduque Francisco Ferdinando é assassinado no que viria a ser o começo da Primeira Guerra Mundial iniciada pelo Império Austro-Húngaro com o apoio (carta branca) alemão. O mal a partir dali conheceria novas e mais sangrentas camadas.

Indicações ao Oscar: melhor filme estrangeiro e melhor fotografia

2 comentários:

Lion disse...

fiquei com vontade de ver esse tb

marcelo alves disse...

Muito bom trabalho também.
abs,
marcelo