quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Pizza da Máfia do Apito vai para o forno

Um dos maiores escândalos da história do futebol mundial, a Máfia do Apito está muito perto de terminar em pizza. Nesta quinta-feira três desembargadores se reuniram no Tribunal de Justiça de São Paulo para definir o futuro do caso. Dos três, dois votaram pelo arquivamento do processo: Fernando Miranda e Francisco Menin. Christiano Kuntz, o terceiro desembargador, pediu o adiamento da audiência para a próxima terça-feira, quando definirá o seu voto.

Mesmo que Kuntz vote pelo prosseguimento do processo, ele será arquivado a menos que Miranda ou Menin mudem os seus votos. O Ministério Público ainda poderia recorrer ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ), instância imediatamente superior ao TJ de São Paulo.

A pizza da Máfia do Apito começou a ser preparada quando o advogado de Nagib Fayad, o Gibão, entrou com um habeas corpus pedindo a paralisação do caso. A defesa alegava que não foi caracterizado o crime de estelionato no esquema. Gibão, um dos sete denunciados pelo Ministério Público por estelionato e formação de quadrilha, é mostrado nos áudios negociando com Edílson o resultado das partidas.

Na semana passada, Fernando Miranda, o desembargador-relator votou a favor do habeas corpus alegando que havia falhas técnicas na ação e que ela não caracteriza estelionato. Nesta quinta, ele confirmou o seu voto, que foi acompanhado por Francisco Menin.

De acordo com o Código Penal brasileiro, o estelionato é definido como “obter para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício ardil ou qualquer outro meio fraudulento”. Ora, se isso não define o que aconteceu no Campeonato Brasileiro de 2005, que crimes ocorreram então durante aquela competição? Ou não houve crime nenhum e foi instituído o vale tudo no esporte brasileiro?

Para quem não lembra, a Máfia do Apito foi denunciada em 2005 pela revista “Veja”, que revelou que o ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho recebia entre R$ 10 mil e R$ 15 mil para participar de jogos arranjados durante o Campeonato Brasileiro daquele ano. As partidas arranjadas eram arquitetadas por empresários que faturavam alto apostando em sites especializados. Estima-se que a quadrilha tenha faturado mais de R$ 1 milhão.

Depois que o escândalo estourou, o presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), Luís Zveiter, anulou 11 jogos apitados por Edilson Pereira de Carvalho que foram considerados “contaminados”, o que mudou radicalmente o Brasileiro que culminou com o título do Corinthians. Se os 11 jogos não tivessem sido anulados, porém, a taça teria sido conquistada pelo Internacional.

A decisão de Zveiter foi polêmica. Este blog, por exemplo, sempre defendeu que fosse tomada uma medida drástica como o que aconteceu na Itália, que simplesmente anulou o campeonato quando foi descoberto o escândalo conhecido como Calciopoli, envolvendo Juventus, Milan, Lazio, Fiorentina e Reggina. Na ocasião, os títulos de 2005 e 2006 da Juventus, a principal beneficiada pelo esquema, foram cassados e a Velha Senhora foi rebaixada para a segunda divisão. Anular o campeonato era o mínimo que deveria ter sido feito no Brasil, afinal, não há esquema de um homem só, como a Máfia do Apito aparentou ser.

Em entrevista à ESPN, aliás, o delegado Protógenes Queiroz, o mesmo da polêmica Operação Satiagraha, declarou que mais gente poderia ter sido pega se a operação não tivesse vazado para a imprensa.

O escândalo de partidas arranjadas é um câncer no futebol mundial. No ano passado, o jornalista canadense Declan Hill lançou um livro chamado “The Fix – soccer and organized crime”, em que denuncia que houve partidas arranjadas na última Copa do Mundo, entre elas Brasil 3 x 0 Gana, pelas oitavas-de-final da competição. Além disso, o livro mostra que a máfia das apostas esteve presente em todas as principais competições do planeta como as Olimpíadas e a Liga dos Campeões da Europa. Hill também afirma que os mesmos apostadores que vêm atuando no futebol estariam na Copa do Mundo da África do Sul no ano que vem. Um problema sério e que preocupa a Fifa e a Uefa.

Enquanto isso, um processo importante como o da Máfia do Apito, que mostrou provas cabais de jogos arranjados no Campeonato Brasileiro, vai tendo a sua pizza assada no forno. Lamentável.

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