quinta-feira, 7 de maio de 2009

Só Hugh Jackman se salva

Eu já disse aqui neste espaço que Hugh Jackman nasceu para ser o Wolverine. Ele nasceu para ser o substituto ideal de Pierce Brosnan no papel de James Bond também, porém os produtores da série ainda não descobriram isso. Mas enfim, o papo aqui é quadrinhos e o carismático Jackman é a maior estrela de todos os atores que filmam adaptações de HQs.

Em “X-Men Origens: Wolverine”, ele faz o vôo solo que já era bastante aguardado para o mais famoso personagem da trupe de mutantes que “protege a humanidade que os teme e odeia”. É uma pena que o filme do Wolverine seja um tanto quanto decepcionante.

Como o próprio título do filme já diz, a película dirigida pelo sul-africano Gavin Hood, mais conhecido por “Tsotsi” (2005), vencedor do Oscar de filme estrangeiro, foi feita para contar a história do herói antes de entrar para o time de mutantes comandado por Charles Xavier.

A questão é que a história de Wolverine é cheia de pontas soltas. Primeiro porque o personagem não se lembra muito do seu passado, que mais tarde vai descobrindo aos poucos. Na revista “Arma X – A Origem de Wolverine” é que conhecemos mais sobre o projeto Arma X, como o herói ganhou o esqueleto de adamantium, etc... O gibi, aliás, foi uma das inspirações para a construção do roteiro.

Roteiro, no entanto, que tem muitos problemas. A começar pelo excesso de licenças poéticas. Mesmo para alguém que não é xiita como no meu caso, acho que Hood e os roteiristas David Benioff e Skip Woods exageraram em inventar situações que não acontecem nos quadrinhos. Claro que é preciso dar um norte ao filme que por sua vez precisa de uma história linear com começo, meio, clímax e fim. Mas algumas situações ficaram surreais. Além disso, os diálogos são fraquíssimos e cheios de frases clichês.

E o excesso de explicações também atrapalha e muito. Tudo bem que é um filme de origem, ou seja, é preciso mostrar toda a construção da personalidade do herói, mas não era necessário explicar porque Wolverine gosta de motos ou como ele consegue o casaco de couro que gosta de usar. Só faltou explicar quando ele começou a fumar charutos e a beber cerveja. Enfim, desnecessário. Estas são marcas do herói e ponto. Não precisavam de momentos que paralisam o filme para mostrar: “olha, foi assim que aconteceu”. Ainda mais porque não foi bem assim.

E aí entramos em outro problema de “Wolverine”. Talvez o projeto “Origens” não tenha vindo em boa hora. Isso é algo até que poderemos comprovarar melhor em 2011, quando o segundo filme da série dedicado ao Magneto aportará nos cinemas. Uma ousadia, aliás, fazer um filme dedicado a um vilão. Isso porque o filme chega quando o personagem já está consolidado com suas características e personalidade no imaginário cinematográfico coletivo por causa da trilogia dos X-Men.

Se já sabemos que o Wolverine é de um jeito não dá para voltar atrás e vê-lo aprendendo a ser do jeito que conhecemos. Isso pode até funcionar nos quadrinhos, mas nos cinemas ficou esquisito.

Talvez tenha sido melhor – e aí caberia uma interessante licença poética – que o primeiro filme do Wolverine começasse a partir da saída dele temporariamente dos X-Men após o filme “X-Men: O Confronto Final” (2006). Poderíamos encontrá-lo no Japão, quando conheceu Mariko (deixa que o atual filme dá para uma possível e até provável continuação) ou embarcar com ele para outras viagens. Acho que seria mais proveitoso continuar a voltar atrás. Do jeito que ficou, “Wolverine” é uma película perdida no limbo. Mas é só uma opinião.

Claro que o trabalho de Hood tem bons momentos. Além das cenas protagonizadas por Jackman, que salva o filme do completo desastre, há ainda o Dentes-de-Sabre vivido por Liev Schreiber e suas batalhas com Wolverine. Físicas e mentais, pois mais do que um meio-irmão Dentes-de-Sabre é o que Logan poderia ter se tornado se tivesse se deixado dominar pelo seu lado animalesco. E olha que no cinema até teria sido melhor para evitar frases bobas e interpretadas de forma canastrona por Lynn Collins, que no papel de Silverfox diz: “Logan, you are not an animal”. O trabalho está cheio de momentos de canastrice, diga-se de passagem.

Aliás, o filme de Hood não é plenamente satisfatório como película de ação, muito menos como trabalho que se disponha a ser “filosófico/freudiano” debatendo como se livrar dos monstros interiores de cada um. Fica no meio do caminho de ambos, sem agradar a nenhuma corrente.

Apesar disso, há um outro ponto positivo no filme que é o surgimento de Gambit (Taylor Kitsch) na história dos mutantes. Um dos meus X-Men favoritos, Remy LeBeau tem seus bons momentos. Tomara que volte a aparecer nas franquias.

No fim, a conclusão a que se chega é que Jackman e seu personagem mereciam um filme melhor, mais bem construído, mais bem acabado e com diálogos mais inspirados. “X-Men Origens: Wolverine” fica bem abaixo dos filmes dos X-Men, algo imperdoável em tempos de trabalhos tão bem feitos como os recentes “Watchmen” (2009) e “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008). Vamos ver se acertam da próxima vez, pois o personagem que é “o melhor no que faz” merece algo que pelo menos chegue perto destes seus atributos.

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