domingo, 10 de maio de 2009

Nem tão feliz assim

Poppy (Sally Hawkins) é uma mulher irritante e infantil que não pára de sorrir mesmo diante das maiores mazelas da vida ou uma personagem brilhantemente construída por Mike Leigh para nos mostrar que podemos encarar a vida de outra maneira mesmo diante dos nossos problemas mais terríveis com ou seu aspas? É uma dúvida que passa pela minha cabeça enquanto vejo “Simplesmente Feliz”.

Confesso que me irritou o jeito quase bobalhão de Poppy e poderia ter saído do cinema cuspindo abelhas africanas e reclamando do quão ruim era o filme que acabara de ver não fosse a cena definitiva no final do trabalho de Leigh com o desabafo do instrutor de auto-escola Scott (Eddie Marsan).

Scott diz um monte de coisas que gostaria de ter dito se passasse pela minha frente uma Poppy. E também outras que nem passou pela minha cabeça que ele sentia durante a película. As frases de Scott salvam o filme e me jogam numa sinuca de bico que gera a reflexão acima e coloca a personagem de Hawkins em outro patamar: a da maníaca por uma suprema atenção para si mesma. Aquela que quer fazer o mundo e as pessoas girarem em torno de si. Atitude de quem, como ela, passa por um momento de solidão na vida.

É quando o filme começa a ficar mais interessante e tudo aquilo que eu considerava irritante mais para trás começa a ganhar um significado desabando como uma fileira de dominós.

Poppy, a sorridente Poppy, não passa de uma mulher em busca desesperada de atenção. Ela é boazinha, gosta de ajudar as pessoas, oferece a outra face, mas, contraditoriamente, pode magoar as pessoas justamente por seu estilo de vida um tanto quanto avoado. E isso vale não apenas para Scott, mas também para sua irmã grávida, com quem ela disfarça dizendo que tem uma vida ótima e podemos ver pela primeira vez um sorriso amarelo ao perceber que está com 30 anos e não é casada nem tem filhos. Como se isso fosse importante, aliás.

Contudo, Poppy pode ser também uma metáfora para levarmos uma vida menos na ponta da faca em que deveríamos dar importância a coisas que realmente valem a pena. Confuso leitor? Só estou oferecendo duas interpretações possíveis entre outras tantas que você poderia estar aí imaginando. Quem disse que a arte é uma via de mão única? O cartaz brasileiro do filme, por exemplo, fala que “é um filme sobre o otimismo, uma celebração da vida”. Então tá... Quem sou eu para contrariá-lo.

Mais do que gostar ou não – e eu tenho minhas ressalvas pessoais que independem da qualidade do filme – “Simplesmente Feliz” tem seu valor por pelo menos abordar os assuntos listados acima de uma maneira diferente da melancólica a que estou acostumado com aqueles filmes, normalmente franceses, de cortar a alma com estilete. E prefiro, diga-se de passagem.

O único conselho que este blog dá é para assistir ao filme. Veja e saia feliz. Ou nem tanto assim. Fica ao gosto do freguês.

2 comentários:

fábio balassiano disse...

eu já tinha visto.
e saí feliz
valeu a pena mesmo
abs, fábio

Marcelo Alves disse...

Eu sai um tanto desapontado. Mas este ano eu ando meio chato com as produções cinematográficas.