sexta-feira, 1 de maio de 2009

Um herói chamado Ayrton Senna

Onde você estava no dia 1º de maio de 1994? Esta data é uma daqueles que ficam para sempre guardadas na memória coletiva por causa de um acontecimento marcante. Eu lembro bem onde eu estava no dia 11 de setembro de 2001 assim como lembro bem onde estava no dia 1º de maio de 1994. Diante da TV, assistia ao terceiro Grande Prêmio do mundial de Fórmula 1 daquele ano, disputado em San Marino, em Ímola, na Itália.

Ayrton Senna havia acabado de se transferir para a Williams, então melhor equipe da categoria, após seis anos e três títulos mundiais na McLaren. Mas vivia uma fase difícil. Abandonara os GPs do Brasil e do Pacífico todos vencidos pelo jovem piloto da Benetton que conquistaria seu primeiro título naquele ano e atendia pelo nome de Michael Schumacher.

O fim de semana havia sido tenso após a morte do piloto austríaco Roland Ratzemberger no treino classificatório do dia anterior. Senna estava preocupado e disposto a criar novas regras para aumentar a segurança dos pilotos.

Mas ainda no início da corrida, tinha 10, talvez 15 voltas, o piloto brasileiro bateu muito forte na curva Tamburello. A mesma em que Nelson Piquet havia sofrido um sério acidente em 1987. A curva da morte. Ali, num muro sem proteção de pneus ou caixa de brita, acabou estupidamente a vida de um herói do esporte.

Há 15 anos eu vi aquela cena ao vivo pela TV. Revi incontáveis vezes. Muitas explicações foram dadas. Mas até hoje não consigo acreditar que tudo acabou ali naquela maldita curva.

Ayrton Senna foi um dos maiores gênios do esporte mundial. Seus críticos costumam dizer que Senna só dirigiu aviões e nunca teria a coragem de fazer o que fez, por exemplo, Schumacher, que reergueu uma Ferrari que amargava duas décadas sem títulos de suas cinzas. Schumacher era outro gênio, diga-se de passagem.

Bem, eu diria que tanto Lotus quanto Toleman não eram exatamente "boings". E ele brilhou intensamente nas duas equipes. É verdade que só veio a ser campeão na McLaren, mas na Fórmula 1 nenhum piloto, friso bem, nenhum piloto é campeão sem ter um carro bom. Você não precisa ter o melhor carro, mas necessita de um carro bom. Bicampeão em 94 e 95, Schumacher não tinha o melhor carro, título que pertencia aos bólidos de Frank Williams, mas a Benetton era um bom carro que o talento do alemão amplificou diante dos insossos Damon Hill e David Coulthard, que nunca passaram de pilotos razoáveis.

Além disso, ninguém corria na chuva, quando as provas são ainda mais desafiadoras, como Senna. Seu maior rival, o francês e tetracampeão do mundo Alain Prost, por exemplo, era péssimo com pista molhada enquanto Senna corria como se nem ligasse para estes detalhes.

Era alguém que só admitia vencer. Que queria bater todos os recordes e que viu um legítimo sucessor e fã, Schumacher, suplantá-lo, ao menos nos números, brilhantemente. Sua morte deixou uma lacuna difícil de preencher: a do ídolo brasileiro nas pistas, jamais conquistada por Rubens Barrichello e que tenta ser agora preenchida por Felipe Massa.

Senna brilhou numa época tomada por feras ou pilotos de muito respeito na Fórmula 1. Disputou duelos com Prost, Gerhard Berger (AUT), Piquet, Nigel Mansell (GBR), Riccardo Patresi (ITA), Niki Lauda (AUT), Michele Alboreto (ITA), Keke Rosberg (FIN), entre outros. Entre tantos, foi, ao lado de Prost, um dos melhores. Com ele, morreu uma era, perdão pelo clichê, romântica na Fórmula 1.

É difícil saber até onde teria ido Senna se sua carreira não tivesse sido interrompida. Ele tinha 34 anos. Em tese, forçando a barra, poderia ficar mais umas duas temporadas na Fórmula 1. Certamente não teria sido campeão em 1994. Mas será que não viria forte para o ano seguinte em busca do tetra? Teria sido ele capaz de igualar o feito do argentino Juan Manoel Fangio de cinco títulos, ultrapassando o tetra de Prost?

Talvez. Senna era tão genial que acho que o ranking dos campeonatos mundiais seria mais equilibrado hoje. Acho difícil que Schumacher não fosse o recordista, pois estava claro que ele seria o piloto da vez, o substituto de Senna, com quem pouco duelaria na pista devido a diferença de idade. Senna hoje estaria com 49 anos enquanto Schumacher tem 40 anos. Talvez o confronto iniciado em 1993 terminasse numa possível aposentadoria do brasileiro em 1996. Pouco tempo, mas o suficiente para que Senna tomasse pelo menos um dos sete títulos do alemão, que hoje poderia ter algo em torno de seis conquistas contra cinco de Fangio e quatro de Senna e Prost.

Mas isto é só um exercício retórico de possibilidades, futurologia, seja lá o que você quiser imaginar. Uma brincadeira para reescrever o passado. A verdade, a terrível verdade é que a Tamburello estragou todos os sonhos de Senna e de seus fãs que hoje vêem a Fórmula 1 completar 18 anos sem ter um brasileiro campeão. Senna deixou saudades.

Abaixo, alguns dos momentos mais marcantes da carreira de Senna nas pistas:
GP da Europa de 1993, em Donnington Park: a volta mais perfeita da história de um piloto na Fórmula 1:

GP do Japão de 1991: Senna garante o tricampeonato sobre Nigel Mansell e na última volta deixa seu companheiro de equipe, Gerhard Berger, passar, dando a vitória ao austríaco

GP do Brasil de 1991: A primeira vitória de Senna no seu país, com direito a drama, emoção do público e o esforço do piloto para erguer o troféu após uma corrida exaustiva.

GP do Japão de 1988: O primeiro título de Senna. Depois da largada, o motor morre e o piloto cai para a 14ª posição. Vai passando um a um até garantir a vitória e o campeonato

GP de Mônaco em 1984: Começa a surgir o mito do Rei de Mônaco, onde Senna venceu seis vezes. Brilhante sob uma Toleman largou em 13º foi conquistando posições até ultrapassar o bicampeão do mundo Niki Lauda. Quando iria ultrapassar o líder Prost, a direção da prova interrompe a corrida por causa da chuva tirando o que seria a primeira vitória do brasileiro

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