domingo, 20 de julho de 2008

A piada mortal


Há sete meses uma overdose de remédios tirou do mundo um ator que tinha tudo para se tornar um dos grandes de sua profissão. Elogiado pelo seu trabalho em “O segredo de Brokeback Mountain (2005) e “I´m not there” (2007), o australiano Heath Ledger não viveu para ver a sua maior criação, o seu maior trabalho nas telas do cinema.

Alguns meses atrás eu consideraria uma absoluta heresia falar o que pretendo dizer agora, mas, numa comparação direta entre os dois atores apenas no momento em que viveram o mesmo personagem, Heath superou Jack Nicholson. O ator, que morreu no dia 22 de janeiro aos 28 anos, fez do seu Coringa o maior e mais brilhante vilão da história dos filmes baseados em quadrinhos.

Poucas vezes eu vi um personagem dos quadrinhos transposto para a tela com tamanha perfeição. Heath viveu intensamente e foi o próprio Coringa. A cada vez que ele aparece em “Batman – O Cavaleiro das Trevas” domina a cena e coloca o filme no bolso do seu paletó roxo.

A risada assustadora, o gosto sádico de provocar o caos e inúmeras mortes, a indumentária suja, a maquiagem desbotada, os cabelos desgrenhados. O Coringa sombrio de Heath Ledger é brilhantemente construído e quase a criação viva de Bob Kane.

Confesso que quando vi em “Batman Begins” (2005) a carta do Coringa surgindo na última cena, fiquei com o pé atrás. Achava que ninguém faria este personagem tão bem quanto Jack Nicholson e não me parecia que o diretor Christopher Nolan pretendia escalá-lo novamente no papel do mais famoso vilão dos quadrinhos. Algo que se confirmou quando Nolan escolheu Ledger, então famoso por ter vivido um cowboy gay em “Brokeback Mountain”.

Pronto, achei que tudo estaria perdido. Um “viadinho” vivendo o Coringa só poderia ser piada de mau gosto. Até que no ano passado surgiram suas primeiras e assustadoras imagens. Despertou a minha atenção aquela visão de um lunático psicopata com cara de palhaço. Ao assistir ao trailer do filme, fiquei ainda mais animado. O filme, no entanto, não deixa dúvidas: Ledger está perfeito e é o novo dono da atuação definitiva do Coringa. Maldito dia em que ele apareceu morto. Será difícil encontrar um substituto. Por enquanto, o Coringa terá que ficar muito tempo internado no Asilo Arkham enquanto Batman combaterá outros vilões. Outro Ledger não será fácil de encontrar.

Agora se discute se o ator merece ganhar um Oscar póstumo por sua interpretação, o que só aconteceu uma única vez, em 1976, com Peter Finch por “Rede de intrigas”. É difícil dizer se ele merece, porque daqui até fevereiro, outros grandes trabalhos podem surgir. Pesa contra o ator, o fato da Academia nunca premiar filmes baseados em quadrinhos por mais geniais que eles sejam – e "Batman - O Cavaleiro das Trevas" é. Digamos que estes tipos de filmes não são considerados sérios (por isso Jack Nicholson, que merecia ganhar pelo outro Coringa, sequer foi indicado). No que convém lembrar o Coringa e perguntar: “Why so serious?”.

Por outro lado, sua intensa e perturbadora atuação e a sua própria morte podem garantir ao ator uma indicação e até uma vitória como forma de homenagem. Merecida, aliás. Só não sei dizer se isso faria os filmes baseados em quadrinhos serem vistos com a seriedade que são por estúdios (afinal, estes trabalhos dão muito retorno financeiro e de merchandising), diretores e atores, que têm feito um trabalho cuidadoso e de muito respeito para agradar os fãs xiitas como eu e aqueles que nunca pegaram uma revista para ler.

Mas o Coringa é só o ponto mais alto de um filme de muitos acertos. Nolan tem feito um trabalho brilhante ao reinventar a história do Batman dentro da cinematografia do herói, o único a ter seis filmes. Depois de quatro filmes muito irregulares ou excessivamente carnavalescos feitos por outros diretores, Nolan acertou mais uma vez em “O Cavaleiro das Trevas”. Em suas mãos, Gotham é o que sempre foi nas revistas. Uma cidade-problema, com muita violência, um verdadeiro caos, um Rio de Janeiro de hoje em dia.

Para defendê-la, um justiceiro que tenta limpar essa metrópole e se equilibrar na ética e em regras morais básicas. Mas como seguir regras se seus adversários estão dispostos a quebrá-las? O próprio Batman, portanto, será obrigado a quebrá-las. Tempos difíceis e com terroristas, como a polícia gosta de chamar o Coringa, requerem medidas extremas. Certamente um tema atual que o filme aborda e que deve se pensar. Mas Batman não é perfeito como o Superman e também comete seus erros. Não sem tempo de corrigí-los e se doar por um bem maior. Afinal, ele é o herói.

O conflito interno vivido por Batman/Bruce Wayne (o ótimo Christian Bale, que nasceu para ser o homem-morcego) é diametralmente oposto ao caos impetrado pelo Coringa. Eles são protagonista e antagonista. Um não vive sem o outro, como o próprio Coringa faz questão de lembrar, e isso é a essência das histórias em quadrinhos. É uma oposição ferrenha, com um testando o limite do outro.

Entre os dois, o grande trunfo dos filmes do Batman dirigidos por Nolan que não se encontra em outras adaptações. Grandes atores em papéis-chave que dão um peso e uma importância a cada cena com histórias paralelas que se encontram a todo o momento. Não haveria um filme da qualidade de Batman sem Michael Caine como o mordomo Alfred ou Morgan Freeman como Lucius Fox, o presidente das empresas Wayne, além de Aaron Eckhart, como o promotor Harvey Dent, que viria a se transformar no Duas-Caras.

Acima deles e próximo de Ledger está Gary Oldman, que abraçou o papel do tenente Jim Gordon, que agora se torna finalmente o comissário Gordon que conhecemos. Oldman também tem o filme nas mãos quando está em cena e seus duelos com Ledger são ótimos de assistir.

Com tantos talentos, Bale nem precisa aparecer o tempo todo nas 2h32m de filme. Pelo contrário, há um saudável equilíbrio num trabalho que bem poderia ser do comissário Gordon, por exemplo. Ou do Coringa. Há quem diga que já é. A verdade é que o herói é apenas parte de uma história sobre Gotham City, uma metrópole tomada pela violência e com ataques que aterrorizam a população. Uma cidade que tenta ser salva por um justiceiro e a boa vontade e a coragem de alguns poucos cidadãos honestos infiltrados numa polícia e numa política tomada pela corrupção e os vícios do crime organizado. Poderia ser o Rio de Janeiro. Poderia ser o Brasil. Mas nos falta um herói para nos encorajar. Falta-nos um Batman.


“Batman – O Cavaleiro das Trevas” (em que pese o título nada ter a ver com a história em quadrinhos original de mesmo nome escrita por Frank Miller) é um dos melhores trabalhos sobre quadrinhos que eu já vi. Como há uma deixa para um terceiro filme – eu captei a história do uniforme a prova de gatos e não engoli a “morte” de Rachel Dawson (Maggie Gyllenhaal). Será que ela vai virar a Mulher-Gato? – que ele venha o quanto antes. Já estou ansioso para ver o próximo capítulo dessa história de Gotham e seu justiceiro. Só lamento que Ledger não possa continuar na pele do Coringa. Um triste desfecho para seus fãs e para os fãs do arquiinimigo do Batman.

6 comentários:

Anônimo disse...

eu sabia que você iria escrever sobre esse seu amigo! que bom que você saiu animado, mas é uma pena que o ledger agora faça companhia com a dercy no céu, aprontando das suas. abs, fábio balassiano

Anônimo disse...

É uma pena mesmo, embora eu ache que ele esteja num círculo diferente do inferno do que o da Dercy. É triste perder o melhor Coringa de todos os tempos. Agora, só torcendo para que filme realmente "O Cavaleiro das Trevas" de Frank Miller. Só assim seria possível dar o papel de volta para o Jack Nicholson.
abraço,
marcelo

Luiz Felipe Reis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luiz Felipe Reis disse...

Marcelo,
não sou fã de histórias em quadrinhos, mas isso não me impede de afirmar que esse é o melhor filme que já vi baseado em tal universo.
Heath Leadger promove espetáculo a cada cena. Sua expressividade psicótica, realçada por maquiagem de primeira, é assustadora, mas quem surpreende é Aaron Eckhart, como o promotor Harvey Dent. Apesar de sua atuação ter sido obscurecida pelos papéis principais, vale lembrar que ele é responsável por muitas das ótimas cenas do filme.
Um Coringa psicótico que goza despudoradamente e sem o mínimo de culpa em ver o circo pegar fogo. Um Batman talvez ainda mais ambíguo e, por isso, ainda mais humano. São elementos que fazem de Batman, o cavaleiro das trevas filmaço para todos os gostos, pois não apenas pretende levar às telonas uma história banal de super heróis, ultra poderes e etc. O filme faz pensar!
Deprimido antes de o início das gravações, ficam ainda mais claros os motivos que fizeram Ledger mergulhar no turbilhão de sentimentos auto-destrutivos que o levou à morte. Afinal, seu trabalho consiste em extrair e divertir-se hedonisticamente a partir do que de pior encontramos no ser humano. Seu trabalho de "humanização" pelo que há de mais trágico e repugnante fere a alma. Filme tenso, roteiro super inteligente e bem amarrado, essa fita já é histórica!

Abs

Abs!

Anônimo disse...

Assino embaixo suas palavras. Echkart está realmente excelente como Harvey Dent, mas continuo achando que se o filme tivesse um dono seria o Coringa. Apenas acrescentaria que o que faz o Batman ser tão popular é exatamente o fato de ele não ter superpoderes e fazer tudo apenas com treinamento em artes marciais e muitos equipamentos. Quer dizer, a menos que você considere um poder a sua superconta bancária. E essa ambiguidade moral do Batman é o que o torna tão humano. Ninguém é perfeito ou completamente trágico, não é verdade? É essa personalidade dele que, de certa forma, sempre colocou em lados opostos os fãs do Batman e do Superman (perfeito demais, tão perfeito que tem que viver na figura de Clark Kent um personagem inseguro e quase inocente para viver entre os humanos). Concordo com você que esse é o melhor filme já feito baseado em quadrinhos. Sabe por que? Palavra de quem leu quadrinhos por muitos anos. Tudo o que você viu na tela é exatamente o que eles são nas histórias. Isso para um fã das revistas é a maior glória. Vida longa a Christopher Nolan!!!
abraço,
marcelo

Janice Aliena disse...

Olá Que trabalho milagroso de grande Amiso, eu sou Jose Nuno, minha esposa me deixou porque tenho câncer no corpo, então enviei um email para o Dr.Amiso e explico tudo para ele, ele cura a doença e devolve minha esposa de volta para mim , eu também disse ao meu amigo Olavo que sua esposa está se divorciando em três dias, ele também entrou em contato com o Dr.Amiso, reteve e viu sua esposa ligar para o advogado 2 dias antes do terceiro dia de assinar o documento de divórcio e disse que ela não estava Ao se divorciar do marido novamente, ele deve parar e procurar todos os documentos sobre a questão do divórcio, acredite: agora eles estão vivendo felizes como nunca antes. caso você esteja passando por um problema conjugal, entre em contato com Dr.Amiso pelo herbalisthome01@gmail.com