quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Tomando banho com Madonna

Há dez anos, quando chegava a casa dos 40 e lançava “Ray of Light”, Madonna foi perguntada em uma entrevista se ela se via fazendo a mesma coisa em dez anos. Sua resposta foi: “Não. A Madonna com 50 anos é uma cantora aposentada”. O tempo passou e a cantora americana como todo mundo sabe abandonou a idéia e está mais viva do que nunca, faturando montanhas de dinheiro com uma das turnês mais lucrativas do mundo, a “Sticky and Sweet”, de divulgação do seu novo álbum, “Hardy Candy”, lançado neste ano.

Foi exatamente este novo disco e a nova turnê que a fizeram interromper um longo hiato de 15 anos – desde a turnê Blonde Ambition, quando vestiu a camisa do Flamengo (ninguém é perfeito) e gritou “bunda suja” para o país todo ouvir – e aportar no Brasil.

O que dizer sobre a Madonna que fez dois shows no Maracanã no domingo e segunda, um deles, o primeiro, presenciado por este signatário? Pode-se tirar algumas conclusões. Em primeiro lugar, pode-se dizer que Madonna continua dando as cartas no mundo do pop por dois motivos. Primeiro porque ela é boa mesmo no que faz (e aí, é no sentido artístico, embora mereça a conotação sexual também). Segundo porque falta concorrência. Britney Spears e Justin Timberlake, só para ficar em parceiros recentes da cantora, não engraxariam o sapato de Madonna.

Um outro ponto importante é que Madonna sabe fazer um show. Pensou em entretenimento, no showbizz, pensou em Madonna. Seu espetáculo é tão rico que você até releva alguns momentos de playback, algo que eu abomino em qualquer artista. São luzes, telões, toda uma produção realmente de tirar o chapéu. Talvez eu só tenha visto algo parecido no show do Roger Waters no ano passado.

Claro que justamente desde “Ray of Light” a cantora não faz um disco a contento. “Music” (2000), “American Life” (2003), “Confessions on a dance floor” (2005) e Hardy Candy são apenas álbuns Ok, com seus bons momentos, mas irregulares. Mas foi uma opção dela mergulhar de vez na música eletrônica e tornar o flerte de “Ray of Light” num casamento mais longo do que os seus na vida real. Tem o mérito de ter atraído os jovens e renovado a sua platéia. Do contrário, ela continuaria ganhando muito dinheiro hoje, mas apenas graças ao seu velho público saudoso de álbuns “mais clássicos” como “True Blue” (1986) e “Like a Prayer” (1989). Bons tempos aqueles em que ela compunha com Patrick Leonard.

Mas no show do Maracanã se tem a oportunidade de ver todas as Madonnas. Ela, portanto, não deixa de agradar todo mundo, embora, obviamente o que predomine sejam as cações do novo disco. Em diferentes momentos, nos quatro ou cinco – confesso que não me lembro agora – sets que compõem o show, ela canta sete músicas do disco. De “Candy shop”, que abre os trabalhos com a cantora adentrando o palco num trono se colocando como “Rainha do Pop”, a “She’s not me”, em que bailarinos “vivem” suas diferentes fases e Madonna acaba dando um beijo na boca da bailarina vestida de noiva, como em “Like a Virgin”, passando pela balada “Miles Away” e os sucessos “4 Minutes” e “Give it 2 me”.

Quando abre espaço para seus antigos sucessos, Madonna os apresenta em novos arranjos. Alguns deles dão certo como a versão rock and roll de “Borderline”, que tirante a sua desafinação ficou bem melhor do que a original, ou “Human Nature”, também com uma pegada mais roqueira. Parêntesis: Madonna, aliás, tomou gosto pela guitarra. A toca (ou faz pose que toca) em diversas partes do show, faz pose de “frontwoman” e até o símbolo do metal (aquele dos chifrinhos feitos com a mão) ela ousou fazer. Sua entrada no Rock and Roll Hall of Fame deve tê-la deixado empolgada.

Outras versões ficaram satisfatórias, como “Vogue”, “Into the groove” e “Like a Prayer”, que, contudo, foram responsáveis por alguns dos momentos mais emocionantes para a platéia que pulou, dançou e estremeceu a arquibancada em que eu estava.

La Isla Bonita, porém, ficou bem abaixo com sua versão meio cigana, meio sei lá o que dos confins da Romênia. Parecia que o Gipsy Kings estava tocando com a Madonna. Enfim, não se pode acertar sempre. Só não se pode acusá-la de não ter arriscado.

Em duas horas de espetáculo (e chuva ininterrupta, que fez a cantora, visivelmente irritada, entoar um “Fuck the rain” e até limpar o palco com um paninho), Madonna revisitou toda a sua carreira. Se minhas contas estiverem certas e eu não esqueci de nada, apenas três álbuns não tiveram canções lembradas: “American Life”, “Erotica” (1992) e “Like a Virgin” (1984).

Entre uma música e outra, ela procurava ser simpática com a platéia. Respondia com um “I love you to” aos gritos históricos de “I love you”, “We love you” e similares. Até trocou o trecho final da balada “You must love me” para “I must love you”. Truques velhos, batidos, mas que agradam uma multidão ávida por uma palavra de carinho de seu ídolo.

Mas o grande momento da relação artista-platéia aconteceu na parte do show em que Madonna deixa que um fã peça uma música. O felizardo foi um tal de Fábio, um dos que pagaram o explosivo ingresso de R$ 600 para ficar na pista vip (até quando essa aberração vai existir?). Fábio levou um fora de Madonna ao fazer seu primeiro pedido, que não consegui escutar qual foi, mas Madonna disse que era uma boa canção, só que não cantava mais, ou já esquecera a letra, coisa parecida. Andei lendo que foi “Everybody”, que é do seu primeiro disco, “Madonna” (1983), mas infelizmente não posso confirmar.

Fábio teve direito a uma segunda chance e Madonna aceitou cantar “Express Yourself”. Só que com uma condição. Dizendo que ela sabe o quanto os “brasileiros são bons em trabalhar em equipe” (e tome reboladas provocativas), Madonna afirmou que cantaria um verso e o público outro. O improviso até que saiu direitinho. Se gravaram para o DVD não ficará feio.

No final, apesar da chuva, o saldo foi positivo. O show foi melhor do que eu esperava (tudo bem que eu aguardava uma tragédia) e pode-se dizer que pagou o ingresso. Além disso, falem o que quiser, mas Madonna continua gostosa. Pena que provavelmente foi minha última chance de ir para a cama com ela.

Enquanto eu lamento minha falta de sorte, deixo para vocês alguns momentos do show. “Human Nature”, “Vogue”, “Like a Prayer”, “You must love me” e “Borderline”. Infelizmente, apenas o segundo tem uma boa qualidade de imagem, mas dá para acompanhar trechos importantes, Madonna cantando, Madonna em playback. Tem um pouco de tudo.


Borderline

You must love me

Vogue

Like a Prayer

Human Nature

2 comentários:

Anônimo disse...

Comentários da Aline:

1 Cara, só agora você escreveu sobre ela? A essa altura, a notícia é a Carla Bruni!!!!!

2 La Isla Bonita foi muito "Djobi Djoba", mas gostei!

3 Não falou sobre o tombo!

4 Cara, nenhum taxista queria me aceitar, porque eu, encharcada, poderia molhar o assento. Acabei tendo que apanhar dois ônibus para casa - que é 15 minutos do Maracanã. Ridículo, né?

5 Feliz Natal!

Aline Canejo

Anônimo disse...

Vamos às respostas:

1- Mas Memórias da Alcova não é um blog de notícias, mas de reflexões. O tempo era necessário para dar um distanciamento crítico e para que eu pudesse garimpar melhor o texto. Além disso, surgiram inspirações imediatas e mais prementes para os dias anteriores. O importante foi não deixar passar em branco. Carla Bruni também é linda, mas também não vai me dar mole mesmo.

2 - Achei La Isla Bonita, meio assim, assim.

3- Bem lembrado. Esqueci do tombo quando escrevi. Mas ela se saiu bem dando um jogo de pernas. A chuva realmente estava atrapalhando o show dela

4 - Putzgrila. Sacanagem essa dos taxistas. Maior vacilo

5 - Um Feliz Natal para você também e não deixe de ler sempre Memórias da Alcova.