domingo, 7 de dezembro de 2008

Outra contaminação

Um dia antes da última rodada do Campeonato Brasileiro eu planejava fazer um balanço da competição que foi muito emocionante na tabela, mas sofrível dentro de campo. Sem bons times, com poucos jogos dignos de nota, para mim este Brasileiro foi um dos piores. Apesar da tabela.

Ainda assim, num exercício natural em cada fim de campeonato, me arrisquei a fazer uma seleção da competição e até que o cômputo final não ficou tão ruim. Algo como Marcos (Palmeiras), Leonardo Moura (Flamengo), Miranda (São Paulo), Ronaldo Angelim (Flamengo) e Leandro (Palmeiras); Ramires (Cruzeiro), Hernanes (São Paulo), Wagner (Cruzeiro) e Alex (Internacional); Guilherme (Cruzeiro) e Alex Mineiro (Palmeiras). Técnico: Muricy Ramalho (São Paulo). Até que não é nada mal. Levando-se em conta que eu ainda teria no banco jogadores como Rogério Ceni (São Paulo), Jonathan (Cruzeiro), Juan (Flamengo), Thiago Silva (Fluminense), Jean (São Paulo), Arouca (Fluminense), Sandro Silva (Palmeiras), Marquinhos (Vitória), Tcheco (Grêmio), além dos atacantes Nilmar (Inter), Keirrison (Coritiba) e Kleber Pereira (Santos).

Só que meus planos de análise do Brasileirão foram suplantados por uma nova reflexão após mais um possível escândalo de arbitragem no futebol nacional. Dessa vez envolvendo o árbitro carioca Wagner Tardelli, cujo nome estaria sendo usado por alguém que só a CBF sabe, mas não quer contar como vejo na ESPN, para a manipulação de resultados na competição. Em troca disso, duas versões. Uma diz que é dinheiro, outra que é um envelope com ingressos para o show da Madonna. Essa cantora realmente adora um escândalo.

Tardelli, que aparentemente (e por enquanto só aparentemente), não tem qualquer envolvimento no caso foi afastado do jogo decisivo deste domingo entre Goiás e São Paulo, que pode valer o título para o Tricolor paulista na disputa contra o Grêmio, que enfrenta no mesmo horário – 17h – o Atlético-MG. No seu lugar foi escalado Jailson Macedo de Freitas.

A menção de mais uma notícia de manipulação de resultados fez vir à tona a velha expressão “campeonato contaminado” usada em 2005, quando o escândalo Edílson Pereira de Carvalho desvendado pela revista Veja explodiu como uma bomba atômica no futebol brasileiro. Na ocasião, movimentos muito suspeitos de todos os lados (CBF, STJD, etc...) anularam 15 jogos apitados por Edílson que foram decisivos para o título do Corinthians num momento em que Internacional e Fluminense disputavam a liderança da competição.

Sem contar o escandaloso pênalti não marcado pelo árbitro Márcio Rezende de Freitas em cima de Tinga numa partida decisiva entre Inter e Corinthians no Pacaembu. Aquele campeonato (aparentemente, e só aparentemente) tinha que ser mesmo da misteriosa parceria Kia/Corinthians. Aliás, de onde vinha o dinheiro do iraniano?

Se o Brasil fosse um país sério, ou melhor, mais ou menos sério, o Brasileiro de 2005 não teria continuado. Até porque eu não conheço esquema de uma pessoa só e nesta confusão toda só quem se deu mal foi o Edílson. Não que ele não tivesse qualquer culpa. Ele, inclusive, assumiu a sua parte. Os demais é que continuam nas sombras.

Um exemplo de um país que eu considero mais ou menos sério - afinal, quem elege diversas vezes Silvio Berlusconi para primeiro-ministro não pode ser plenamente sério: a Itália. Nos últimos 28 anos, o país teve três sérios escândalos de manipulação de resultados. O primeiro, o famoso escândalo da Totonero em 1980, resultou como principais conseqüências a punição de dois anos para o atacante Paolo Rossi, que, ressaltemos, foi punido não por participar, mas por saber da história e não ter revelado, e o rebaixamento de Milan e Lazio para a segunda divisão.

No segundo, em 1986, também envolvendo a loteria esportiva italiana, um esquema semelhante resultou no rebaixamento da Udinese para a Série B, além de punições para times da segunda, terceira e quarta divisões.

O terceiro, mais recentemente, envolvendo manipulação de resultados, resultou no cancelamento do campeonato de 2004-05, conquistado pela Juventus, no título da Inter na temporada 2005-06 ganho no tapetão por causa do envolvimento da Juventus, que foi rebaixada para a segunda divisão com direito a perda de pontos, e na perda de pontos de diversos times na Série A, o principal deles o Milan, que começou com 15 pontos a menos.

No Brasil, a título de comparação, aconteceram quatro escândalos de arbitragem/manipulação de resultados nos últimos 12 anos, mas ao contrário da Itália a impunidade imperou por aqui.

Por causa da patética cena do ex-presidente Álvaro Barcelos estourando uma garrafa de champagne para comemorar a “virada de mesa” do Fluminense, rebaixado em 1996 e mantido na primeira divisão em 1997 (até cair de novo), pouca gente lembra que aqueles anos foram marcados pelo escândalo Ivens Mendes. O esquema envolvia manipulação de jogos, financiamentos para eleições e figuras que até bem pouco tempo estavam ainda comandando seus clubes como se nada tivesse acontecido. Daquele tempo para cá, nada aconteceu realmente – além da morte de Mendes - e o esquema caiu no esquecimento. A única alteração foi a manutenção de Fluminense e Bragantino na primeira divisão de 97.

Além disso, tivemos o caso Loebeling, cujo chefe na comissão de arbitragem, Armando Marques, o pediu para adulterar uma súmula. Lembravam disso? Pois é. Mais recentemente o já listado esquema de 2005 e agora esse que mancha o campeonato deste ano. Nos três anteriores, uma única marca: a impunidade. Continuará assim? A saber.

O fato é que se houve manipulação de jogos é preciso ter a coragem de pedir desculpas aos torcedores e simplesmente acabar com o campeonato. Sem choro nem vela. Sem volta olímpica, sem grito de campeão. Provada qualquer tipo de manipulação, a “contaminação” do campeonato é inerente. E aí só restará a lamentação. Mas ninguém terá coragem de fazer isso. A CBF jamais teria coragem de fazer isso. Não fizera antes, por que faria agora?

Assim, fica apenas uma pergunta. Enquanto a impunidade estiver mandando no futebol – e no Brasil como um todo, aliás – você confiará no que vê na TV ou no estádio? Eu só sei que hoje meu amor por esse esporte foi novamente atingido, aumentando ainda mais a minha descrença.

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