sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

The show must go on

Uma das vozes mais marcantes da história do rock, Freddie Mercury é considerado por muitos o maior cantor do gênero. Não sei se ele é realmente o melhor, mas certamente deve ser figura presente em qualquer top10. Seu talento aliado à sua presença de palco o credencia facilmente a isso. Portanto, a idéia de substituir o insubstituível seria no mínimo espinha atravessada na garganta de qualquer fã xiita.

Só que o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor nem pensaram nisso quando em 2004 convidaram o cantor Paul Rodgers, ex-Bad Company, Free e The Firm, para formarem uma parceria que ficaria conhecida como Queen + Paul Rodgers. A associação de uma das maiores bandas da história com Rodgers, um vocalista de conhecido talento e que era um ídolo para Freddie, pareceu um tremendo projeto caça-níqueis mais ou menos como a que o tecladista Ray Manzarek e o guitarrista Robby Krieger fizeram ao convidar o vocalista do The Cult, Ian Astbury, para substituir outro insubstituível, o poeta Jim Morrison, para formar o The Doors of 21st Century.

Assim como o baterista John Densmore no caso do Doors, o baixista John Deacon não quis participar da reunião naftalínica do Queen. Cizânia no grupo? No caso do Doors, sim, uma vez que Densmore não concordava com uma banda que não tivesse Morrison nos vocais. No caso do Queen, ninguém sabe, mas May deu entrevistas dizendo que hoje Deacon é um cara recluso e que as portas estão abertas para ele aparecer e tocar quando quiser.

O Queen + Paul Rodgers lançou um disco ao vivo em 2005, “Return of the Champions”, e neste ano saiu “The Cosmos Rocks”, bom álbum de inéditas que começou a dar a impressão de que o projeto era mais para valer do que brincadeirinha para encher as contas bancárias.

O novo disco trouxe a banda ao Rio para uma apresentação na HSBC Arena. E o que se pode dizer da nova banda? Se eu comecei comparando projetos, pode-se dizer que o Queen + Paul Rodgers é muito mais Velvet Revolver, a agora ex-banda que foi formada pelo vocalista do Stone Temple Pilots, Scott Weiland, e pelos ex-Guns N’Roses, Slash (guitarra), Duff McKagan (baixo) e Matt Sorum (bateria), do que The Doors of 21st Century. Uma nova banda formada por membros de outras bandas conhecidas. Ponto. Afinal, como diz uma letra do velho Queen, “the show must go on”.

Assistir ao show com esse espírito é a melhor maneira de aproveitá-lo. Até porque, se Freddie Mercury é, como já disse, insubstituível, Paul Rodgers é um cantor excelente, de luz própria e que não caiu no projeto de pára-quedas. Rodgers tem história e parte dela foi vista na apresentação do grupo quando ele cantou duas ótimas músicas de suas antigas bandas, “All right now”, do Free, e “Feel like making love”, do Bad Company, além de “Seagull”, também desta banda.

Se seu alcance vocal não atinge o que era conseguido por Freddie, Rodgers é um cantor, digamos, mais rock and roll e dá um peso ainda maior a, vamos chamar assim, este novo Queen.

E essa diferença de som é marcante quando são mostradas as músicas do novo disco. “Cosmos Rocking” é uma pauleira sensacional com uma pegada blueseira. Rock clássico. “C-elebrity” uma canção forjada para ser o single de uma banda enquanto “Say it’s not true” se revela uma linda balada. Ainda foram tocadas as ótimas “We Believe” e “Surf’s up school’s out”. Definitivamente, “The Cosmos Rocks” é um álbum que precisa ser ouvido com atenção e sem pré-conceitos.

Rodgers também não faz feio quando canta as canções do velho Queen. “Hammer Fall”, que abre o show, e “Tie your mother down” ficam ótimas na sua voz, assim como “Another one bites the dust”, “Crazy little thing called love”, “Radio Ga Ga”, “We will rock you” e “I want it all”, canções acompanhadas com fervor pela platéia.

Mas o Queen + Paul Rodgers sabe respeitar a história e tem consciência de que nem sempre Rodgers funciona em algumas músicas do antigo Queen. É por isso que Brian May canta a balada das baladas “Love of my life” – o guitarrista ainda faz um agrado à platéia dizendo que “ainda ouve aquelas vozes” do Rock in Rio de 1985, na histórica apresentação da banda com Freddie nos vocais – muito ligada a Freddie Mercury. Ele ainda pede para o público “cantar por Freddie” e é prontamente atendido sem esconder uma lágrima caindo no canto do olho. Taylor também coloca as cordas vocais para funcionar em “Underpressure”, “Kind of magic” e “I’m love with my car”.

Mas a presença de Rodgers é tão marcante, que é possível estranhar o longo tempo em que ele fica ausente do palco no meio do show. O cantor já havia conquistado a platéia e por mais criativa e espetacular que seja Taylor usando as baquetas para tocar o baixo de Danny Miranda (também acompanham a banda o guitarrista James Moses e o empolgadíssimo tecladista Spike Edney) ou o baterista tocando uma bateria que era montada na hora pelo rodie, faz uma falta danada no palco.

Mas são irregularidades naturais para um show de 2h30m. Só vi uma banda ser espetacular do início ao fim de uma apresentação, o Pearl Jam. No cômputo geral, o show do Queen + Paul Rodgers é ótimo e emocionante. Muita gente deve ter se emocionou quando Freddie Mercury apareceu no telão cantando “Bohemian Rhapsody” num “dueto espírita” com Paul Rodgers. Uma bela homenagem ao cantor que morreu em 1991 em decorrência de complicações causadas pela Aids.

Para finalizar, a clássica “We are the champions”. Se o tempo não está para perdedores, como diz a canção, o Queen + Paul Rodgers mostra que já nasce vencedor. E que é mais do que uma banda que vive do passado, mas que o reverencia e também aponta para um futuro honesto. Superior aos grupinhos da moda de hoje, ele é. Portanto, God save the (new) Queen.

Abaixo, alguns dos grandes momentos do show:
"Bohemian Rhapsody"


"I Want it All"



"The show must go on"


"We will rock you"

"Cosmos Rocking"

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