quinta-feira, 29 de maio de 2008

Duelo de titãs

Se houve alguma injustiça entre os indicados ao Oscar deste ano (e sempre há), ela aconteceu com Denzel Washington e Russel Crowe. Astros e antagonistas do mais recente trabalho de Ridley Scott, “O Gângster”, os dois brilham no filme e mereciam ao menos indicações como atores. É claro, porém, que eles não teriam vencido Daniel Day-Lewis e sua soberba atuação em “Sangue Negro”. Mas uma lembrança teria ficado de bom tamanho.

“O Gângster” conta a história real do traficante Frank Lucas (Denzel Washington em mais um de seus grandes trabalhos), que assumiu os “negócios” no Harlem após a morte de seu mentor Bumpy Johnson. Lucas era, contudo, um traficante incomum e que por isso incomodava a máfia tradicional, formada pelas famílias italianas e que sempre dominavam o comércio de drogas.

Ele era um outsider no seu meio que adquiria o melhor produto diretamente de fornecedores no Vietnã, onde os americanos estavam afundando numa guerra, e outros países do sudoeste asiático e o vendia por um preço mais barato que a sua, digamos, "concorrência". Toda a droga vinha diretamente dentro de caixões de aviões militares que traziam soldados mortos no conflito. Por conta de atitudes como essa e poderosos contatos, dizia-se que Lucas estava acima da máfia.

No seu encalço, outro outsider, mas da polícia. O detetive Richie Roberts (Russel Crowe) é visto como um pária na sua corporação por ter uma qualidade que deveria ser lei na polícia: é honesto. E ele prova a seriedade que pauta o seu trabalho ao achar e devolver US$ 1 milhão, que não lhe pertencia, em uma batida policial.

Nem suas amizades com indivíduos de ética duvidosa e até envolvidos com o mundo do crime o deixam misturar as coisas e seguir caminhos que não seja o que ele acha ser o mais correto.

Desse duelo de outsiders, o diretor Ridley Scott constrói uma boa briga de gato e rato digna dos melhores filmes do estilo, como “Fogo contra fogo” (1995), quando outros dois grandes atores, Robert de Niro e Al Pacino, duelavam na tela. E o final inesperado, que revela o verdadeiro objetivo de Roberts com a prisão de Lucas, traz uma curiosa reviravolta ao filme e acaba sendo um alívio para os que durante a película passaram a nutrir uma certa e natural simpatia pelo vilão.

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