quarta-feira, 14 de maio de 2008

O fã

Olhando para o relógio com o tempo que teimava em passar rápido demais, Carlos não escondia a ansiedade para chegar logo ao Citibank Hall. “Será que vai dar para ver da frente do palco”? “Será que eu posso entrar com câmera”?, questionava-se ele enquanto, para sua sorte, o trânsito fluía até normalmente para aquele horário de um dia de semana.

Ser fã é sofrer e aguardar com apreensão e ansiedade antes e ter o regozijo, o ardor e a satisfação quase sexual depois. Carlos não escondia o seu amor. Pelo contrário, o declamava a plenos pulmões.

“Acho que essa é a única banda pela qual eu pagaria R$ 120 para ver um show. Eles e o Nelson Gonçalves. Se ele fosse vivo, eu iria a todos os shows dele”.

Carlos definitivamente era uma figura estranha. Mas amor não lhe faltava. Tanto é que ele não precisou nem pagar pelo ingresso. Ficou como um presente da namorada Lúcia, compreensiva e disposta a lhe dar esta noite de alegria em comemoração ao seu aniversário.

Também não falta amor ao Whitesnake. Se isso não era visível na satisfação do cantor David Coverdale ao voltar ao Rio para o seu terceiro concerto com a banda, podia ser medido nas músicas do set list. Nada mais nada menos do que seis músicas tinham o amor nos seus títulos: os clássicos “Love ain’t no stranger” e “Is this love”, “The deeper the love”, “Give me all your love tonight”, e “Fool for your loving” e a nova “Lay down your love”.

Se não faltava amor para dar e receber, Carlos tinha apenas uma única preocupação. Não conhecia o repertório novo, do disco “Good to be bad”, lançado neste ano, motivo pelo qual o Whitesnake fazia a sua turnê pelo Brasil.

Logo no início ele foi apresentado a uma delas, “Best Years”, um bom aquecimento para o que viria em seguida com “Fool for your loving”, o primeiro momento de sintonia total entre Coverdale e a platéia.

Outros viriam. Clímax é o que não faltou na apresentação da banda que conta ainda com os guitarristas Reb Beach e Doug Aldrich, o baixista Uriah Duffy, o tecladista Timohy Drury e o baterista Chris Frazier, responsável por um sonolento solo (uma redundância quando se trata de bateria, aliás) estrategicamente colocado no meio do show para que aquele amigo do lado ou a namorada de Carlos dissesse: “Vou pegar uma cerveja e já volto”.

Mas amar também é perdoar. E essa é a deixa para que Coverdale, que, diga-se de passagem, prova ser um dos grandes frontmen da história do rock, diga: “Rio, Is still a place for love? Is this love?”. Braços levantados, muitos isqueiros acesos e uma calcinha jogada nas mãos do cantor, que sorri e, feliz com seu momento Wando, esfrega o suor com a peça e a devolve para a fã mais exaltada. Não mais do que a outra que prometeu um boquete com gestos quase universais lá do alto do camarote. O cantor corresponde com uma coreografia mais safadinha prometendo mostrar mais tarde a sua whitesnake.

A sintonia entre o cantor e a platéia é total. Ávida pelos clássicos da banda, o público nem percebe que as músicas novas funcionam no palco e são bastante agradáveis para um grupo que já foi dado como acabado e não lançava um disco de inéditas desde “Restless Heart”, de 1997. Embora David Coverdale tenha lançado um disco-solo, “Into the light”, de 2000.

Aos 54 anos, Coverdale ainda canta muito bem para quem faz um rock que costuma castigar a voz e ser cruel com o tempo. Mas ele sabe dosar as músicas e pedir a ajuda da platéia quando necessário. O refrão de “Burn” foi só da galera. Ficaria bonito num DVD. Além disso, ele alterna músicas mais pesadas como Crying in the rain” e “Still of the night” com momentos mais calmos como a execução apenas com um violão de “The deeper the love” e um “Soldier of Fortune” à capela.

Tudo é perfeitamente encadeado no show do Whitesnake e em “Here I go again”, um dos momentos mais emocionantes do espetáculo, já é possível ver algumas almas em completo êxtase.

Um showzaço que não poderia terminar melhor do que com um medley de “Burn/Stormbringer”. Para Carlos uma noite inesquecível. E, por que não arriscar dizer, para cada uma das almas que encheram o Citibank Hall e deixaram a casa ainda mais apaixonados.

Quatro momentos especiais da apresentação do Whitesnake tirados do youtube. Primeiro eles cantando “Here I go again”. Em seguida, “Love ain’t no stranger”, “Soldier of Fortune/Burn/Stormbringer” e, fechando, “Is this love”. Magia pura.








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