domingo, 1 de junho de 2008

A volta do velho Indy

Harrison Ford não é mais um garoto. Já não era quando em 1989 estrelou “Indiana Jones e a última cruzada”, último filme do arqueólogo aventureiro criado por George Lucas e Steven Spielberg. Mas não é difícil tirar um sorriso de felicidade do rosto quando o vemos colocar aquele chapéu na cabeça, fazer aquele olhar cínico e dar as tiradas debochadas que nos acostumamos a ver nos três filmes da série (além da película de 1989, Ford ainda estrelou “Os caçadores da arca perdida”, de 1981, e “Indiana Jones e o templo da perdição”, de 1984).

E, sobretudo, ao soar da característica trilha sonora que embalou os sortudos que estudavam pela manhã que, por vezes, acompanhavam suas aventuras nas Sessões da Tarde da década de 90, não é difícil se emocionar.

Passaram 19 anos desde o último filme da série. Pelo menos duas gerações nunca viram o velho Indy na telona e com a voz de Ford. Mas foi pensando nos fãs que ainda mantêm viva nas suas mentes a memória dos três primeiros filmes, que Lucas e Spielberg, além do roteirista David Koepp, fizeram este novo trabalho, “Indiana Jones e o reino da caveira de cristal”.

Estão lá todos os elementos que os adoradores de Indy tanto se gostam. Do humor às cenas fantásticas/escabrosas – destaque para Mutt Williams (Shia LeBouf), andando com cipós na floresta amazônica como nem Tarzan faria -, do sarcasmo às saídas sempre mirabolantes que Indy encontrava para escapar dos vilões. Além, evidentemente, do chicote.

Mesmo aos 65 anos, Ford mantém o espírito do herói com cenas de tirar o fôlego e Spielberg, com suas tomadas maravilhosas, sabe alimentar o mito de Indiana Jones. Como arqueólogo, dizem muitos especialistas, ele não iria muito longe. Mas para os fãs isso não importa muito. O que vale é entrar no cinema, ouvir o “tãtãrãtã tãtãrã” e entrar no clima da história que inclui sempre um enredo fantástico baseado em algumas histórias reais e muitas especulações.

A deste filme envolve a tão famosa Área 51, que os fãs de “Arquivo X” conhecem muito bem, alienígenas, povos pré-colombianos e a tal da caveira de cristal do título que deteria todo um conhecimento inimaginável para a humanidade.

A partir daí levanta-se a tese do quão avançados eram os maias (assim como os incas e os egípcios), ao construírem uma civilização com conhecimento que só seria desenvolvido milhares de anos depois. Muita gente levanta a tese de que eles foram alavancados por alienígenas, seres de outros planetas, ou qualquer coisa do gênero. O roteiro de Koepp embarca na fantasia e como a história se passa nos anos 50, aproximadamente 20 anos depois da última aventura de Indy, cria a figura do velho vilão soviético disputando o que há de mais moderno com os americanos encarnado em Irina Spalko, "a favorita de Stalin", vivida por Cate Blanchett.

Ao seu lado na aventura, Indy terá a ajuda de Mutt, um produto de um mundo que ele acha estranho com toda a paranóia anticomunista, macarthista, mas que já via o rock nascer como mostra a trilha sonora e o visual James Dean em “Juventude Transviada” (1955) de LeBouf.

Mais tarde, ao reencontrar Marion Ravenwood (Karen Allen), seu grande amor que retorna à série depois de participar dos “Caçadores da Arca Perdida”, Indy descobrirá que Mutt é seu filho. Assim temos uma aventura família, como em “Indiana Jones e a última cruzada”, quando Ford protagonizava cenas hilárias com Sean Connery, que fazia o seu pai. Aposentado, Connery não quis participar deste filme e é lembrado como um figura importante que morreu nos últimos anos durante o hiato que separa as duas últimas aventuras.

No novo Indiana Jones, Spielberg, portanto, traz de volta tudo o que fez a série ser um grande sucesso. Uma decisão mais do que acertada e que não foi seguida, por exemplo, quando os produtores dos filmes de James Bond decidiram substituir Pierce Brosnan por Daniel Craig para as filmagens de “Cassino Royale”, mais recente filme do 007.

Indiana Jones e James Bond têm em comum o fato de serem heróis em que seus fãs sabem o que querem ver. Mudar isso é mexer em time que está ganhando. E muitas vezes isso dá em fragorosa derrota.

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