quinta-feira, 22 de maio de 2008

O pequeno pardal

Adaptações de livros e cinebiografias são sempre difíceis de fazer. As primeiras pelas complicações de transpor para a tela tudo o que está em 200, 300, não sei quantas páginas. O filme nunca fugirá de um resumo do romance, por melhor que ele seja. Mas não é raro, apesar disso, ele ser bem sucedido.

No caso das cinebiografias, a dificuldade está em tratar de ídolos com a reverência necessária sem que o filme seja “chapa branca”, mostrando defeitos e virtudes, momentos de genialidade e de geniosidade.

Apesar disso, recentemente o cinema contou com bons exemplos aqui e lá fora. Apesar das críticas do cantor Lobão, que na época chamou “Cazuza – O tempo não pára” (2004) de um mega videoclipe, achei o filme de Walter Carvalho e Sandra Werneck um exemplo positivo de cinebiografia e o Daniel de Oliveira estava perfeito na figura de Cazuza.

Lá fora, “Ray” (2004), que rendeu um Oscar de atuação para Jamie Foxx, é outro ótimo exemplo e Helen Mirren foi a própria rainha Elizabeth em “A Rainha” (2006). Não por acaso, ela faturou um Oscar de melhor atriz.

Da França, o trabalho da atriz Marion Cotillard, mais conhecida fora da terra de Sartre por filmes como “Um bom ano” (2006), com Russel Crowe, e o ótimo “Peixe Grande” (2003), com Ewan McGgregor, ganha novo status – e uma merecida estatueta do Oscar de melhor atriz – ao levar para as telas as dores e a vida sofrida da cantora Edith Piaf em “Piaf – um hino ao amor”.

Desde o início triunfal com Piaf cantando no palco de um teatro, Marion domina o filme escrito e dirigido por Olivier Dahan. Não é fácil interpretar um ídolo e principalmente um ídolo que tenha tido uma vida tão dura em que a felicidade era demasiada efêmera. Mas em nenhum momento Marion se deixa cair pela pieguice ou a caricatura.

Abandonada pela mãe e colocada pelo pai para viver num prostíbulo comandado pela avó, Piaf começou a enfrentar desafios desde cedo quando contraiu uma doença que a deixou cega por meses. Recuperada e finalmente feliz, ela é tirada da convivência de Titine (Emmanuelle Seigner), prostituta que a criou como uma filha, pelo pai que a leva para o circo.

Mesmo mal tratada, ela gosta do circo, mas uma discussão do pai com o patrão, a faz deixar o convívio com o circo para ganhar dinheiro nas ruas de Paris. Lá, ela se descobre cantora numa passagem patriótica cantando o belo hino francês.

Já jovem e sem muita perspectiva, canta nas ruas para sobreviver até que Louis Leplée (Gerard Depardieu) a vê cantando e resolve lhe dar uma chance de se apresentar numa grande casa. A vida de Piaf melhora até a morte de Leplée. Acusada injustamente de tomar parte do crime, a cantora cai em desgraça.

Reergue sua carreira a partir da ajuda de Marc Barbé (Raymond Asso) que molda a cantora, ajuda-a a ganhar vida e sentir as canções que interpretava. Piaf atinge finalmente o estrelato, mas acaba viciada em remédios e vira amante de um lutador de boxe que morre num trágico acidente de aviã. Por fim, é obrigada pela saúde frágil a se calar.

Uma vida tomada de reviravoltas, de ascensões e quedas, que é conduzida com maestria por Dahan a partir da jóia encontrada que foi Marion. É ela que faz de “Piaf – um hino ao amor” o bom filme que é.

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