quinta-feira, 8 de maio de 2008

Juventude desolada

Alex (Gabe Nevins) é um adolescente com problemas com a família, dúvidas e dilemas próprios de muitos garotos da sua idade. Skatista amador e que se acha inferior ao que propriamente é, ao menos na opinião do seu melhor amigo Jared (Jake Miller), ele descobre um novo e mais aprazível mundo na mítica pista de skate Paranoid Park, onde todos os freaks problemáticos se reúnem e o fazem parecer até um cara normal.

Em Paranoid Park, ele faz novas amizades que acabaram por levá-lo a cometer o maior erro da sua curta existência, o assassinato, mesmo que acidental, de um segurança que tentava tirá-lo de uma pista de trem onde ele não devia estar.

Com essa culpa arraigada na sua alma, Alex se isola ainda mais e não sabe o que fazer para curar a dor de ter tirado a vida de alguém. Não se vê como um assassino, mas não consegue virar para a polícia e dizer que tudo não passou de um acidente.

É nessa jornada de Alex que Gus Van Sant mergulha para fechar, ao menos por enquanto, sua trilogia informal sobre a juventude desolada e niilista norte-americana em “Paranoid Park”. Mais uma vez usando um elenco de desconhecidos e de jovens recrutados sem qualquer experiência na arte de atuar, o diretor se coloca novamente com um interlocutor, ou melhor, um cronista desta juventude que não se apega a nada, não tem objetivos e vive isolada/perdida ao mesmo tempo em que se fecha num mundo que ela depende, mas, de certa forma, a deprime.

“Paranoid Park” é um libelo de culpa sem solução. Apesar de alguns clichês usados para mostrar o que sempre vem procurando apresentar nos seus últimos filmes – a trilha sonora aliada a olhares perdidos ou a imagem dos pais sempre desfocada e não centralizada – Van Sant remexe mais uma vez na ferida da juventude americana (e por que não mundial?) para tentar identificar os problemas de uma geração que vai se perdendo por aí.

Nada muito diferente do que o diretor mostrou em “Elefante” (2003) e “Last Days” (2005). Se no primeiro, ele mergulha e especula sobre o que levou dois jovens a assassinarem seus colegas no massacre da escola de Columbine e no segundo ele se debruça sobre um roqueiro tomado pela depressão e infeliz numa biografia, digamos, informal, de Kurt Cobain, em “Paranoid Park”, ele vai além no niilismo, na falta de estímulo e vontade de viver, num sentido mais nietzschiano do que schopenhaueriano de Alex, tomado ainda pela culpa e com as imagens na cabeça do corpo de sua vítima dividido em duas partes pelo trem que passara e mudou definitivamente a sua vida.

Nem cartas escritas e supostamente exorcizadas pelo fogo vão salvar Alex, pois ele estará para sempre marcado por aquele fato ocorrido num período em que deixou de ter cuidado até porque ninguém cuidou muito bem dele.

“Paranoid Park” é, assim, mais uma crônica de Van Sant sobre esta juventude que nada no nada em busca de uma motivação para que não enlouqueça e acabe entrando para a história pela porta dos fundos. Como os assassinos de Columbine retratados por ele ou o da Virgína Tech, que também atacou colegas de campus no ano passado.

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