quinta-feira, 1 de maio de 2008

Um dos mestres dos Stones

Há exatos 25 anos morria Muddy Waters. Um dos bluesmen mais importantes da história, McKinley Morganfield (seu nome de batismo), foi uma das maiores influências de toda uma geração de roqueiros britânicos que viria a estourar na década de 60 como o Cream, o Led Zeppelin e os Rolling Stones. Além de ter sido um nome fundamental para o rock, Waters também influenciou outros ritmos como o blues, o folk, o R&B e o country norte-americanos. Com sua música, ajudou a fazer história dentro do palco e fora dele, uma vez que foi importante para que um certo Chucky Berry conseguisse seu primeiro contrato com uma gravadora.

Conhecido como “The father of Chicago blues”, Waters foi comparado pelo escritor Peter Guralnick a dois mestres do gênero: Son House e Robert Johnson. Disse ele: “sua peculiar, grave e negra voz, e sua firme, quase sólida personalidade, eram claramente derivada de House. Mas seu belo estilo, sua técnica criativa e maior agilidade nos ritmos eram mais próximos de Johnson”.

A voz e o estilo eram realmente inconfundíveis para este jovem que aos 17 anos começou fazendo covers exatamente de House e Johnson, mas logo iria compor seus próprios clássicos. E mesmo quando as músicas não eram suas, acabavam ficando mais conhecidas na sua voz.

E aqui surge uma passagem importante na história do rock. Duas de suas canções, “Mannish Boy” e “Rollin’Stone” chegaram aos ouvidos de cinco jovens ingleses que pensavam em fazer música para pegar umas mulheres, beber todas e ainda faturar um dinheiro. Entre os poucos versos de “Mannish Boy”, Waters canta “I’m a rolling stone”. Mas é na letra de “Rollin’Stone”, música que fala sobre um homem cuja mãe já previa no parto que viveria como uma pedra rolante (“I got a boy child’s comin/ He’s gonna be, he’s gonna be a rollin stone”) que Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts, Bill Wyman e Brian Jones tiveram a idéia de dar o nome da banda que segue até hoje o lema da canção.

Na letra de Waters, o termo “rollin stone” é uma metáfora sobre alguém que não tem moradia fixa, sem dono, esposa, sem rotina, apenas vagando pelo mundo com sua guitarra. Um conquistador errante. É mais ou menos o que Mick Jagger e os demais Stones têm feito nos últimos 45 anos. Afinal, como diz o velho ditado, “pedras que rolam não criam limo”.

Se Waters é um dos pais dos Stones, ele também deixou boas influências em outro que é considerado um mestre do blues: Eric Clapton. Antes de ser considerado exageradamente Deus pelos que pichavam os muros de Londres, Clapton e seu Cream regravaram no álbum de estréia da banda, “Fresh Cream” (1966) a canção “Rollin’ and Tumblin”, tamanha era a devoção do guitarrista pelo ídolo. A música, aliás, também foi adaptada por Bob Dylan no recente disco “Modern Times” (2006). Clapton também já regravou “Hoochie Coochie Man”, música de Willie Dixon que ficou famosa com Waters.

Para não me estender muito, fico apenas com mais uma lembrança. Outro clássico, “Wholle Lotta Love”, do Led Zeppelin é baseado num dos hits de Waters, “You need love”, outra letra composta por Willie Dixon que ficou muito conhecida na voz do bluesman.

Muddy Waters nasceu em Rolling Fork, no estado do Mississippi no dia 4 de abril de 1913. Viria a morrer aos 70 anos no dia 30 de abril de 1983. Em 42 anos de carreira, gravou 30 álbuns, sendo o primeiro deles apenas em 1958, “The best of Muddy Waters”. Depois de sua morte, ainda foram lançados mais nove discos póstumos, o mais recente deles “The Anthology” (2001).

Nos anos 40, mais ou menos na mesma época em que ganhava de seu tio sua primeira guitarra, foi ajudado por um conhecido bluesmen de Chicago, Big Bill Broonzy, que o deixou abrir seus shows. Em pouco tempo fez sucesso com covers e músicas próprias. É dessa época músicas como “I can´t be satisfied” e “Feel like going home”. No mesmo período, “Rollin’Stone” se tornava um hit.

Na década de 50, mesmo sem ter ainda gravado um disco, Waters viveria o seu auge. Seu som, comumente descrito como um delta country blues eletrificado, era considerado difícil de ser reproduzido, inclusive por sua própria banda. O próprio Waters, porém, não se tocava disso, como ele reconheceu certa vez uma entrevista à Rolling Stone: “Meu blues soa tão simples (como você pode ver nos vídeos abaixo), tão fácil de fazer, mas não é. Eles (a banda), dizem que é o mais difícil blues de se tocar no mundo”.

Nas duas décadas posteriores continuou tocando e gravando discos, muitos deles registros ao vivo como “Live (at Mr. Kelly’s) (1971), “The Muddy Waters Woodstock Álbum” (1974) e “Live at Jazz Jamboree’76” (1976). Além disso, fez apresentações com os Rolling Stones, que sempre o citam como um mestre. No recente “Shine a light”, filme de Martin Scorsese sobre a banda, antes de executar “Champagne and reefer”, música de uma desconhecida banda chamada Bongzilla, Mick Jagger diz em quase tom de reverência que a primeira vez que ouviu a música foi através de Muddy Waters. O bluesmen era um sinal de qualidade. Quando as músicas não eram dele, ela as sabia escolher.

Com sua peculiar sofisticação, Waters faturou cinco grammys entre 1971 e 1979 e virou nome de rua em sua cidade, a “Honorary Muddy Waters Drive”. Mas é claro que o maior prêmio que ele poderia receber é saber o quão foi importante para a música. Durante o seu funeral, em 1983, houve um grande tributo a ele. Em entrevista à “Guitar World”, outro monstro sagrado, B.B.King, certa vez disse: “Levará anos e anos até que as pessoas percebam o quão grande ele foi para a música americana”.

Não apenas para a americana. Eu destacaria a gigantesca importância de Muddy Waters para a música. Nada mal para quem dizia na letra de “They call me Muddy Waters”, “I’m just a restless man as the deep blue sea” (Eu sou apenas um homem inquieto como o azul profundo do mar).

Para saber muito mais sobre Muddy Waters, basta acessar o site oficial do bluesmen: http://www.muddywaters.com/. Abaixo, quatro registros de Muddy Waters ao vivo. No primeiro, ele canta “Rollin’Stone”. Em seguida, “You can´t loose what you never had”, “Got my mojo working”, música de Preston Foster, e “They call me Muddy Waters”. O suficiente para entender porque ele era craque.








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