domingo, 27 de fevereiro de 2011

Um faroeste clássico dos Coen



Há três anos, Joel e Ethan Coen ganharam quatro Oscar, entre eles o de melhor filme, por um trabalho que era uma espécie de ponte entre os tempos do Velho Oeste americano e o mundo atual de uma violência ainda mais banalizada. “Onde os fracos não têm vez” (e seu belo título original, “No country for old man”) tinha no xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) uma voz que refletia sobre as mudanças do tempo em tom nostálgico. Um vetor de lamentações num semi-western que se passava num Texas que para Tom Bell não era mais o mesmo.

Depois de filmarem duas comédias de estilos diferentes – “Queime depois de ler” (2008) e “Um homem sério” (2009) – os irmãos Coen voltam ao tema do Velho Oeste para dessa vez fazerem um western clássico com aquelas pradarias, o estilo enrolado de falar e o bom e velho duelo. E que duelo que Jeff Bridges trava com os vilões no final deste belíssimo “Bravura Indômita”!

Na película, Bridges é o alcoólatra Rooster Cogburn, homem da lei que é contratado pela adolescente Mattie Ross (Hailee Steinfeld) para capturar Tom Chaney (Josh Brolin), o assassino do seu pai. Como se vê, é uma história clássica de vingança em que um desequilibrado e veterano “marshall” terá que provar que ainda é capaz de alguns feitos como nos velhos tempos para faturar uma grana e recuperar a própria autoestima perdida num canto qualquer de uma mercearia onde ele cai bêbado para dormir.

Bridges é aquele herói um tanto amargurado, um tanto sarcástico, sedutor nas palavras e cheio de vícios que volta e meia o cinema produz para qualquer época de qualquer filme de Hollywood. É o cara que vai se sacrificar pela mocinha, dar o sangue por uma jornada heróica que claramente se transformará numa guinada na vida do personagem. Nada de novo, eu sei, mas Bridges interpreta com tanta alma Cogburn que me faz pensar que era neste ano que ele merecia ganhar o Oscar, mais do que no ano passado, quando viveu em “Coração Louco” um cantor country alcoólatra e decadente.

Das interpretações que vi até agora – ainda me falta James Franco em “127 horas” – é a melhor entre os concorrentes a melhor ator. Os outros adversários de Bridges são Colin Firth por “O discurso do Rei”, Jesse Eisenberg por “A rede social”, e Javier Bardem, por "Biutiful", e para mim o que chega mais perto de Bridges.

O ótimo trabalho do ator também quase me faz esquecer de John Wayne. Sim, pois foi o velho herói dos filmes de western quem primeiro interpretou Rooster Cogburn no “Bravura Indômita” original de 1969. Aquele trabalho rendeu o único Oscar da carreira de Wayne em 1970 para um filme que tinha recebido duas indicações.

Hoje o “Bravura Indômita” dos irmãos Coen concorrem a dez prêmios, somente dois a menos do que o recordista deste ano, “O discurso do Rei”. Acho que esse é o melhor desempenho de um western desde o excelente “Os Imperdoáveis” de Clint Eastwood, que ganhou quatro Oscars, incluindo o de melhor filme, em 1993, e recebeu outras cinco indicações.

Pelo pouco que me lembro (e a memória pode estar me traindo), o trabalho dos Coen é quase uma refilmagem quadro a quadro em relação ao filme de Henry Hathaway tamanha a semelhança entre os dois trabalhos. A diferença, claro, está na tecnologia que facilita e muito o trabalho hoje em dia. E na posição do tapa-olho do personagem de Bridges em comparação ao de John Wayne.

Mas o fato de quase copiarem o filme original não diminui o mérito dos Coen que fizeram um delicioso filme para os amantes dos velhos westerns, o gênero que todos tentam matar, mas sempre volta com uma boa história a ser contada (ou recontada).

Diante do favoritismo de “O discurso do Rei” e de um trabalho tão intenso quanto “Cisne Negro”, será difícil que “Bravura Indômita” repita o feito de “Os Imperdoáveis” e leve o prêmio principal. Mas que este filme merecia voos maiores na festa do Oscar de hoje, merecia.


Indicações ao Oscar: melhor filme, melhor ator para Jeff Bridges, melhor atriz coadjuvante para Hailee Steinfeld, melhor diretor para Joel e Ethan Coen, roteiro adaptado, direção de arte, fotografia, mixagem de som, edição de som e figurino.

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