terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Agora complicou

No post abaixo meus seis leitores leram que eu pedia encarecidamente que dessem um Oscar para Christian Bale e sua atuação magistral em “O Vencedor”. Aí eu fui ver “O discurso do Rei” e me surge Geoffrey Rush roubando a cena como o terapeuta Lionel Logue. O que eu digo? Se vira aí, Academia. Eu (não) sou pago apenas para palpitar aqui neste espaço pretensioso em que eu ouso falar um pouco de tudo o que eu listo ali na pequena apresentação a sua direita.

Muito tem se falado de Colin Firth e sua atuação pelo rei gago George VI. Firth é considerado o favorito para o Oscar como uma espécie de compensação por não ter ganhado o prêmio do ano passado por “Direito de Amar”. Era o ano de premiar Jeff Bridges por seu papel em “Coração Louco”. Afinal, o ator já era um veterano (tinha 60 anos) e nunca tinha levado o bonequinho careca amarelo-ouro para enfeitar a geladeira de casa no lugar do velho pinguim.

Firth, com seus 48 anos, poderia esperar mais um pouco. Um ano em que ele se dedicou a filmar George VI para concorrer com Javier Bardem (“Biutiful”), Jeff Bridges novamente (“Bravura Indômita”), Jesse Eisenberg (“A rede social”) e James Franco (“127 horas”).

Agora era, portanto, a vez dele. E vocês sabem que quando a gente vai ao cinema com muita expectativa, a chance de dar errado é grande. Foi a sensação que eu tive. Embora Firth esteja muito bem na película, não foi aquela atuação arrebatadora e que me causou assombro com as que vi em Bale ou Natalie Portman em "Cisne Negro". Ou como a que eu vejo em Geoffrey Rush.

Mais do que Firth, é o ator australiano quem brilha no filme de Tom Hooper. Ele e o seu Logue, com métodos nada ortodoxos para corrigir o grave problema de gagueira do rei num período importante da história inglesa. Estamos no final dos anos 30 do século passado e a segunda guerra está batendo a porta. A Inglaterra precisa de um rei forte e que transmita segurança e firmeza para a população. Nada disso pode ser passado por um homem gago.

Assim, é a futura rainha Elizabeth I (Helena Bonham Carter) que vai em busca de diversos tratamentos até chegar em Logue, um ator australiano frustrado que tem peças de Shakespeare decoradas na cabeça e usa suas técnicas de atuação para dar uma nova vida para o futuro rei.

No início, George VI é muito resistente, mas quando ele percebe que a batata quente vai sobrar para ele, já que Edward VIII (Guy Pearce) vai pipocar na função, passa a se dedicar com afinco para orgulhar e manter o legado do pai, George V (Michael Gambon). Quer dizer, na verdade Edward não ficará muito tempo com a coroa por estar apaixonado por uma mulher divorciada, um verdadeiro pecado dentro da família real britânica.

Aos poucos o rei e o terapeuta vão construindo uma bela amizade e Hooper retrata isso muito bem num filme quase todo bom. A lamentar apenas a atuação um tanto caricata de Timothy Spall no papel de Winston Churchill.

O futuro primeiro-ministro britânico parece um daqueles vilões de desenho animado ou filme B na tela. Nada, porém, que comprometa a essência de um filme sobre amizade e a coragem de um homem para enfrentar todos os problemas e se tornar um rei de verdade para os ingleses.

Indicações ao Oscar: melhor filme, melhor ator para Colin Firth, melhor ator coadjuvante para Geoffrey Rush, melhor atriz coadjuvante para Helena Bonham Carter, melhor diretor para Tom Hooper, roteiro original, direção de arte, fotografia, mixagem de som, trilha sonora original, figurino e edição.

Nenhum comentário: