quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Cotas

No segundo ano em que o Oscar tem dez trabalhos concorrendo ao prêmio de melhor filme, já dá para perceber uma “tendência”. Sim, sei que essa palavra é meio esquisita para este blog, mas não encontrei outra melhor. A tendência é por uma, digamos, política de cotas da academia que faz parte de uma espécie de tentativa de popularizar a premiação. Você tem o dobro de filmes concorrendo, mais gente entrando na festinha, mas no final quem se dá bem são sempre os de mesmo estilo. Pelo menos é isso que a gente espera.

Dentro da política de cotas, neste ano cabe a “Toy Story 3” representar as animações. Fará figuração no prêmio principal, mas ganhará o da sua categoria como aconteceu no ano passado com “Up – Altas aventuras”.

A política de cotas do Oscar reserva ainda espaço para um filme “nice”, caso de “Amor sem escalas” no ano passado e o fraco “Minhas mães e meu pai” neste, um blockbuster, “Avatar” ontem e “A rede social” hoje, e um filme na linha “independente”.

No ano passado, o representante dos “independentes” foi “Guerra ao Terror”, o bom filme de Kathryn Bigelow, primeira mulher a ganhar um Oscar como diretora e que faturou ainda o prêmio principal. O escolhido da classe de 2011 chama-se “Inverno da Alma”. Repetirá o feito de “Guerra ao Terror”? Não acredito.

Também dirigido por uma mulher, a americana Debra Granik, o filme é uma adaptação do livro “Winter’s bone”, de Daniel Woodrell que eu não li e a julgar pelo que o filme me mostrou não pretendo ler. Apesar de que acho que alguma cenas do filme talvez sejam até melhores no livro.

“Inverno da Alma” conta a história de Ree Dolly (Jennifer Lawrence, indicada ao Oscar de atriz), jovem adolescente que tem uma mãe maluca e dois irmãos pequenos para criar enquanto seu pai, um traficante de todo tipo de droga possível, está desaparecido. Só que se ela não encontrar o pai ou uma prova de sua morte, acabará perdendo a casa e ficará na rua da amargura, já que os parentes não parecem ser dos mais confiáveis.

Como uma real Dolly, no estilo “bread and butter”, expressão roceira americana que talvez eu possa exemplificar como se você fizesse 100% parte de algo (traduções melhores, por favor, na caixinha de comentários), Ree encara todos os tipos esquisitos de sua família absolutamente esquisita como famílias do meio-oeste americano para tentar encontrar algum sinal de vida ou de morte do pai. Lembremos que o filme se passa em Ozarks, uma região montanhosa ali perto do Missouri e do Arkansas. É lugar onde se fala aquele sotaque dos mais carregados possíveis. Perfeito para você dizer que é “bread and butter” alguma coisa.

Para atingir seu objetivo Ree se humilha, apanha feio de três mulheres e ganha a aliança do tio drogado Teardrop (John Hawkes), que a salva de uma morte certa. Enquanto isso, a polícia, que trata aquela área como gueto barra-pesada que ela só não extermina porque a lei não permite, segue pressionando-a.

Mais algumas cenas, duas olhadas no relógio e alguns bocejos depois, o filme acaba com tudo resolvido da melhor forma possível com duas crianças e o tiozão tocando uma viola. Nesse meio tempo, o acerto de Debra é conseguir manter o filme com um certo clima tenso, mas disso advém outra coisa que não engulo. Fica sempre aquela expectativa que algo vai acontecer e o resultado é... nada. Mas talvez “Inverno da Alma” não tenha me pego de bom humor.

Indicações ao Oscar: Melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor atriz para Jennifer Lawrence.

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