sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Um Oscar para Bale, bitte

Whitesnake, Led Zeppelin, Aerosmith, Rolling Stones. “O Vencedor” pode até não ganhar o Oscar desse ano. Pode até não ser o melhor filme entre os dez concorrentes (embora seja um filmaço), mas é inegável que ele tem a melhor trilha sonora do Oscar. Isso os velhinhos da Academia não viram, mais preocupados que estão com aquelas músicas insossas enquanto nós queremos mesmo é agitar e ouvir clássicos como “Here I go again” ou “Good times, bad times”.

Não poderia deixar de ressaltar a trilha sonora roqueira, mas é claro que não é isso que faz de “O Vencedor” um excelente filme. O trabalho do diretor David O. Russel e dos roteiristas Scott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson tem um protagonista e coadjuvantes absurdamente excelentes que se refletem em suas sete indicações ao prêmio da academia.

Para começo de conversa, a película é de Christian Bale. Sim, o garotinho de “Império do Sol” (1987) e que hoje enverga a capa e o uniforme negros do Batman – e é o melhor Batman da história, diga-se de passagem – tem aqui provavelmente a melhor atuação de sua carreira. Se não é a melhor, certamente é uma das mais importantes, talvez só comparada com “O Operário” (2004) ou de três filmes que eu gosto muito: “O Sobrevivente” (2006), “O Grande Truque” (2006) e “Os Indomáveis” (2007).

Considerado o favorito para o Oscar de coadjuvante em uma interpretação talhada para a academia que gosta de personagens que sofrem muito e/ou dão a volta por cima, Bale vive o ex-boxeador Dicky Eklund, meio-irmão do também boxeador Micky Ward (Mark Whalberg, muito bem no filme). É na história real dos dois que culmina com o título mundial de Ward que se concentra o filme de Russel.

Eklund treina Micky, mas ao mesmo tempo tem que lidar com o seu vício em crack que o mete em ciladas e o leva a prisão. Com uma atuação avassaladora, Bale é um show à parte num personagem que é dominado pelo vício e tenta dar a volta por cima a partir do seu irmão e o vê como uma segunda chance de ser campeão mundial depois que escolhas equivocadas na vida o fizeram ser uma múmia que vaga pela cidadezinha de Lowell pregando que derrubou, e apenas derrubou, o grande campeão Sugar Ray Leonard, antes de ser espancado por ele numa luta. O “orgulho de Lowell” “teria” derrubado o campeão, mas muitos dizem que na verdade Sugar Ray escorregou no ringue. No primeiro vídeo lá embaixo, você pode tirar suas próprias conclusões.

Eklund, é errado, é psicótico, é uma força motriz carregada de um destrutiva paixão fraterna pelo irmão e Bale joga tudo isso na tela tornando quase oblíquo aqueles a sua volta.

Quase porque embora Bale domine o cenário em cada frame da película de Russel, o restante do elenco também está no mais alto nível. Rivais na tela, Melissa Leo, que faz Alice Ward, a mãe e dublê de empresária de Ward, e Amy Adams, que faz Charlene, a namorada que chega peitando tudo, inclusive as sete irmãs de Ward com quem ela sai na porrada, vão duelar merecidamente pela estatueta de atriz coadjuvante no dia 27.

Melissa está perfeita como a neurótica e passional mãe de Ward enquanto Amy deixa transparecer todo o seu lado leoa apostando desde o início no relacionamento com o boxeador que tinha talento, futuro, mas no estágio em que ela o conheceu caminhava para se tornar mais um fracassado na vida. Assim como sua personagem, uma promessa de atleta de salto em altura que estudou numa boa faculdade e acaba como garçonete de bar depois de muitas festas e bebedeiras e pouco estudo.

O que temos aqui, portanto, é o batido enredo de redenção. Redenção para Charlene, tentando se reinventar a partir do relacionamento com Ward. Para Eklund, que tenta a partir do irmão buscar a coragem e o título que estiveram perto dele e ele conseguiu desperdiçar ao mesmo tempo em que sucumbia às drogas. E para o próprio Ward, que precisa buscar forças internamente e nos treinamentos para provar que pode realmente ser um campeão mundial.

Óbvio que não é preciso ser nenhum gênio para saber como o fil
me termina. Até porque a história de Ward sempre esteve ai para todos os que quiserem ler sobre. E isso não diminui um filme que se junta a “Rocky, um lutador” (1976), “Touro Indomável” (1980), “Hurricane – o Furacão” (1999), “Ali” (2001), “Menina de ouro” (2004), “Luta pela esperança” (2005), entre outros, como mais um excelente exemplo de como o boxe rende bons filmes para Hollywood.

É pouco provável que “O Vencedor” dê um nocaute no rei, no nerd ou na bailarina no dia 27, mas se isso acontecer não terá sido totalmente injusto. Christian Bale por si só sustentaria o merecimento do prêmio para o trabalho de David O. Russel.

Indicações ao Oscar: melhor filme, melhor ator coadjuvante para Christian Bale, melhor atriz coadjuvante para Melissa Leo e Amy Adams, melhor diretor para David O. Russel, melhor roteiro original e edição.

Abaixo, a luta de Eklund contra Sugar Ray, a de Mick quando foi campeão mundial e dois exemplos da excelente trilha sonora de “O Vencedor”.








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