sábado, 7 de junho de 2008

Só uma boa aula de história

Daqui a algumas décadas, quem estiver pesquisando fatos sobre a história do cinema e se deparar com “Elizabeth – A era de ouro” encontrará o seguinte verbete ao lado: “primeiro filme a ser continuação de um filme histórico, Elizabeth (1997)”. Parece pouco, mas, além disso, e do bom trabalho de Cate Blanchett no papel principal pouco sobra do novo trabalho do diretor Shekhar Kapur.

Como aula de história, “Elizabeth – A era de ouro” é excelente. Mostra o domínio da armada espanhola no século XVI, a loucura católica do Rei Felipe de Espanha (Jordi Mollá), as guerras santas feitas pelo monarca espanhol para catequizar os povos, a resistência britânica, o triunfo inglês, que ao mesmo tempo foi considerada a maior derrota espanhola na guerra entre as duas nações, e a traição e tentativa de assassinato da rainha comandada por Mary Stuart (Samantha Morton) que depois seria decapitada.

Como novela, e é o que mais irrita no filme, “Elizabeth” também não deixa a desejar como suas idas e vindas do triângulo amoroso formado pela rainha, o pirata Walter Raleigh (Clive Owen em atuação constrangedora) e Elizabeth Throckmorton (Abbie Cornish). Se algo é absolutamente dispensável são as cenas em que Blanchett mostra a fraqueza da rainha em busca de um amor com ataques dignos de adolescente que foi passada para trás. “Você parece uma tola”, “Isso não são atitudes da rainha que amo e sirvo”, diz burocraticamente Owen, ou melhor, Raleigh, no que concordo plenamente.

Como filme, bem... não é a toa que a película de Kapur teve apenas duas indicações ao Oscar deste ano. Além de Blanchett, indicada e derrotada na categoria de melhor atriz, a outra foi para o figurino, algo básico em qualquer filme de época que retrate todo o luxo e etc. Há pouco para elogiar numa produção que tem mais equívocos do que acertos. São os efeitos especiais das cenas de batalha bem básicos para a tecnologia que existe hoje, a atuação irregular do elenco, um texto que se equilibra entre a novela das oito e a aula de história já citadas...

Não tivesse Blanchett para segurar o filme com gana, “Elizabeth” passaria despercebida pelos cinemas e sequer ganharia qualquer destaque em indicações para prêmios. E pensar que a atriz estava relutante em aceitar retomar o papel. Talvez fosse o inconsciente dela dizendo para ela sair dessa fria. Ela optou por não ouvir essa voz, mas não saiu prejudicada. A culpa recai apenas sobre Kapur que deu um desfecho irregular a uma parte importante da história britânica. Uma pena.

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