domingo, 16 de março de 2008

Solidão no placar

É impressão minha ou o futebol anda meio chato (Liga dos Campeões à parte)? Há alguns meses não vejo uma partida verdadeiramente emocionante, com jogadores de talento mostrando realmente que têm qualidade e disputado até o fim. Exceção é claro, para a espetacular apresentação do Fluminense na goleada sobre o Arsenal por 6 a 0 na Libertadores.

É culpa da falta de craques, diriam uns. É culpa dos regulamentos, argumentariam outros. Bem, os primeiros têm uma dose de razão. Craque, craque mesmo na acepção da palavra têm poucos por aí e a maioria já está se arrastando. É o caso do atacante Romário (se é que não já parou) e do zagueiro Maldini, do Milan. Ronaldinho, me perdoem, ainda não é craque. Kaká, que está muito mais perto de atingir isso do que o jogador do Barcelona, também. Ambos são grandes jogadores.

Quanto ao segundo grupo, me parece uma defesa pessoal contra os campeonatos de pontos corridos. Acontece que não é o regulamento que faz a competição e traz de volta a emoção. O Campeonato Holandês da temporada passada foi emocionante. Decidido na última rodada entre três times que tinham chance de ser campeão: PSV, Ajax e Az Alkmaar. O título acabou com o PSV. Ao passo que o Campeonato Carioca, mesmo com semifinal e final, anda absolutamente chato e previsível. Ninguém aguenta mais esperar pelo óbvio: ver os quatro grandes clubes decidirem o título. Culpa, obviamente, da parte do regulamente que prevê que nenhum grande jogue fora dos seus domínios.

No mesmo período que notava que o futebol anda muito chato, assisti nos últimos quatro meses a uma emocionante e inesquecível temporada de futebol americano. Ela culminou com a vitória do New York Giants sobre o New England Patriots por 21 a 17.

Não sei por que a NFL foi de colocar o coração na boca e ficar de pé na frente da TV – não, não é por causa dos playoffs – mas que a ausência de empates, como acontece em todos os esportes americanos, aliás, ajuda, isso ajuda.

Mais do que técnicos retranqueiros e esquemas fechados e junto da violência em campo (parênteses. Até quando carrinhos serão permitidos no futebol? Até quando vamos suportar partidas no Brasil com mais de 60 faltas?), acho que o empate é o maior inimigo do futebol hoje em dia. Ele é o anticlímax. A imagem do empate é o torcedor com cara de bunda sem o sorriso da vitória nem o choro da derrota. É só aquele olhar blasé, atônito e você dizendo: “É...”.

E a pior modalidade de empate é o 0 a 0. O empate sem gols é a completa solidão no placar. É o torcedor pagando por um produto que não recebeu. É conquistar a garota e não dar um beijo. É relaxar... e não gozar como gosta a ministra.

Há algum tempo penso que o 0 a 0 é tão abominável que não devia dar ponto a nenhum time na tabela. Se você não fez gols, a essência do futebol, não merece pontuar no campeonato. Ao passo que times que ganhassem por uma diferença no placar de quatro ou mais gols, marcariam quatro pontos. Acho que isso resolveria parte do problema da violência, pois ninguém ia querer jogar com brucutus se quanto mais gols você fizer mais pontos somará, e das retrancas, uma vez que os treinadores iriam buscar cada vez mais os gols e escalariam mais jogadores de talento para fazê-los.

Um grande amigo que não se encontra mais entre nós contra-argumentava dizendo que o futebol iria ficar muito complicado e o esporte só é o mais popular do planeta porque é simples. Ok. He got a point. Mas ao menos, devia ter um meio de acabar com o empate.

A Copa da Inglaterra e a Copa da Liga Inglesa já exercitam de certa forma uma saída. Como os jogos são em rodada única, geralmente no campo do time de menor expressão, quando há empate ocorre o que eles chamam de replay, ou seja, uma nova partida no campo do adversário.

Tudo bem que esta não é a melhor saída para campeonatos de pontos corridos, por exemplo. Contudo, os ingleses estão tentando e, como sempre, a frente do tempo do futebol no resto do mundo. E principalmente das malas que são os velhinhos da International Board.

Apesar de alguma argumentação contrária, continuo achando que pontuação diferenciada salvaria o futebol dos empates e tornaria o jogo mais belo, dinâmico, imprevisível e, o que é mais importante e o que interessa de fato, com muitos gols. Certamente deixaríamos de ter um time com um futebolzinho chocho como o da Itália como campeão do mundo.

2 comentários:

Anônimo disse...

No geral, futebol é chato.
Só é bom para quem joga.
Torna-se mais interessante apenas quando é Copa do Mundo, mas por causa daquela comoção geral que agrega as pessoas. Ou será que alguém vê mesmo os jogos de Copa do Mundo? Ou, pelo menos, fico mais interessada nos papos paralelos, no churrasco, na cerveja...

Anônimo disse...

Permita-me discordar, Aline. O futebol é o mais emocionante e o melhor de todos os esportes. Só anda maltratado. E hoje em dia diria que é o contrário. Ele só se torna menos interessante justamente na Copa do Mundo com seus jogos chatos e a grande quantidade de pessoas que não acompanham o esporte falando besteira por aí. Por mim, nem haveria mais Copa do Mundo. A competição perdeu um pouco do respeito.