quarta-feira, 5 de março de 2008

O que é ser Vip?

Abreviatura em inglês para pessoa muito importante (ou very important person), ser Vip no Brasil virou um samba do crioulo doido. Qualquer ex-BBB, galã de quinta categoria de Malhação, jornalista e indivíduos da categoria “estou com um projeto” são considerados Vips neste país surreal que é o Brasil.

As maiores vítimas dos Vips no momento são os fãs de música. Há dois anos que quem gosta da boa música vêm sendo achincalhado por organizadores tão de quinta categoria quanto os galãs de Malhação citados acima em todo show internacional que passa pelo país.

Foi assim nos Rolling Stones, na praia de Copacabana, quando 2.500 pessoas que nada tinham a ver com aquilo atrapalharam o contato direto entre público e Mick Jagger e cia. Tudo bem que os Stones resolveram parte do problema com um mini-palco que ia para o meio da multidão e tocaram quatro músicas por lá, mas ainda assim foi um acinte o que foi feito com os fãs.

Mesma criatividade não teve o Police em dezembro do ano passado, que teve que aturar milhares de Vips na frente do palco enquanto os verdadeiros fãs tentavam ver alguma coisa que não fosse pelo telão. Várias pessoas com quem eu conversei sobre este que foi um bom show disseram que não gostaram muito da apresentação porque não se empolgaram. Talvez a resposta esteja aí. É possível se empolgar quando no seu lugar está o ator da comédia romântica lançada nos cinemas na sexta-feira? Ou a apresentadora daquele programa de variedades matinal? No total eram uns 4.000.

Agora mais uma vez a história se repete. Ao comprar o ingresso para o show do Bob Dylan, no sábado, vejo uma extensa, enorme e inexplicável área Vip entre os verdadeiros fãs e o artista. Uma barreira invisível tomada pelo amarelo da vergonha na divisão dos setores que a atendente do Ticketmaster me mostra.

E mais uma vez volto à pergunta: o que é ser Vip? Vamos combinar que independentemente de você gostar ou não dos indivíduos, o presidente da República, o governador e o prefeito da cidade onde ocorrem os eventos são Vips. E no mundo político é só isso, salvo exceções com parlamentares que tenham um grande histórico e não estejam envolvidos em corrupção, é claro.

A protagonista da novela das oito, por outro lado não é. A menos que ela seja a Fernanda Montenegro, que tem muitos serviços prestados à arte e em especial à dramaturgia brasileira. Jogadores de futebol também não são. A menos que você seja um craque ou um ex-craque. E por aí vai. É questão de critério. Não existem 2.500, 3.000 ou 4.000 Vips neste Brasil. Não existem no continente. Talvez dê para juntar uns 5.000 Vips no mundo. Afinal, você tem que ser “very important” para adquirir a alcunha.

“Vip” não vai assistir ao show. Ele vai para ser visto. Ele não conhece e muito menos sabe cantar as músicas. Talvez só “Satisfaction”. Ele vai para aparecer na coluna social do jornal no dia seguinte. Não para curtir um show que para o fã é sempre histórico, único, inesquecível, por mais que tecnicamente ele nem tenha sido grande coisa.

É muito cruel o que os organizadores fazem com os fãs e com os artistas também. O gargarejo é o que mais empolga o músico. Se você coloca ali a turma da perfumaria, o show fica frio, sem alma. Daqui a pouco, os únicos shows bons do país serão os de metal. Estes, os Vips ainda não descobriram.

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