quarta-feira, 19 de março de 2008

No máximo uma historinha

Estados Unidos, 2009. A cura do câncer é aparentemente descoberta, mas efeitos colaterais fazem com que os humanos se transformem numa espécie de vampiros. O vírus se propaga e três anos depois resta apenas um homem. Robert Neville (Will Smith) é o tenente-coronel do exército e também médico que tenta incessantemente descobrir a cura para o mal.

Enquanto não atinge seu objetivo, Neville vive uma rotina ao lado de sua cadela que se resume basicamente a fazer exercícios pela manhã, caçar à tarde numa Nova York que rapidamente é tomada pela natureza e se esconder das criaturas das trevas à noite. Diariamente ele transmite uma mensagem via rádio na esperança de que alguém o ouça. De que alguém tenha sobrevivido e, como ele, seja imune ao vírus Krippin.

Está é a premissa de “Eu sou a lenda”, novo filme de Will Smith. Um dos atores mais bem pagos da indústria cinematográfica – coisa de US$ 20 milhões por filme – neste trabalho Smith se lança num desafio enfrentando com maestria por Tom Hanks em “Náufrago” (2000): segurar um filme sendo o único em cena por mais de uma hora.

Mostrando um talento dramático já registrado em trabalhos anteriores como “À procura da felicidade” (2006), ele é bem sucedido, embora, diferentemente de Hanks, tenha direito a uns flashbacks que explicam como a terra chegou àquele caos para ajudá-lo.

Seu trabalho é elogiável e quando Alice Braga entra em cena como Ana, uma brasileira que também sobreviveu e está em busca de uma colônia em Maryland onde viveriam os humanos que restaram daquele apocalipse, o filme só ganha em qualidade.

Contudo, assim como naquele no filme citado acima que rendeu a Smith uma merecida indicação ao Oscar de ator, “Eu sou a lenda” não decola. “À procura da felicidade” é um trabalho bonito e uma história emocionante sobre um pai que com muita honestidade e persistência tenta melhorar de vida com estudo e muita garra. Impossível não se emocionar e apenas isso.

Apesar do estilo de “Eu sou a lenda” ser diferente, há um composição de drama e culpa na caminhada de Neville que poderiam ser mais bem exploradas. O diretor Francis Lawrence, no entanto, prefere seguir por outro caminho, o de alguns sustos dados pelos vampiros em recursos típicos de filmes de terror.

Numa comparação entre Lawrence e Robert Zemecks, diretor de “Náufrago”, este último foi mais bem sucedido em explorar o talento de um grande ator (não que Smith já tenha entrado nesta lista, pelo contrário) numa situação inóspita em que o personagem e o próprio ator têm que lidar com a solidão do cenário e do set – apesar das câmeras ali atrás. Entre a conversa com manequins e a bola “Wilson”, fico com a segunda opção.

Até acredito que quem gosta deste estilo de filme – uma coisa entre a ficção científica e o drama - não chegue ao seu fim decepcionado, mas a mim não convenceu. É mais um bom trabalho de Smith num filme que acabou sendo inferior ao seu talento. Uma película que não é tão lendária assim. É no máximo uma historinha.

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