sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Para ficar na memória

Duas das mais lendárias bandas do rock nacional, os Titãs e os Paralamas do Sucesso já fizeram shows épicos e insossos nas mais de duas décadas que vem tocando pelos palcos do país. Com tanto tempo de estrada, alguns dramas também fazem parte da história de cada um.

No caso dos Titãs, a visível ausência em seus shows do guitarrista Marcelo Frommer, morto há seis anos, além de Arnaldo Antunes e Nando Reis, que deixaram a banda com apenas cinco integrantes. Igualmente visível nos Paralamas é a cadeira de rodas que deixou Herbert Vianna imobilizado da cintura para baixo depois de um acidente de ultraleve que acabou matando sua esposa. Nada que o atrapalhe a tocar guitarra e cantar, no entanto.

Com as marcas do tempo ali expostas em plena Marina da Glória, Titãs e Paralamas voltaram a se encontrar para um concerto histórico em comemoração aos seus 25 anos de carreira.

Dezesseis anos depois do primeiro encontro no Hollywood Rock (eles já tocaram juntos duas vezes), as duas bandas fazem um espetáculo que não merece adjetivo menor do que antológico. Da abertura feita pela guitarra de Tony Bellotto para introduzir “Diversão” ao último verso de “A novidade”, num “polimento para o DVD”, como disse Herbert Vianna, o que se vê é um amálgama de clássicos, sucessos e de uma banda tão entrosada e visivelmente se divertindo no palco que mais parecia uma só. “Os Titãs do Sucesso”, como brincou o próprio Herbert.

Quem foi à Marina da Glória e encarou a chuva que teimava em cair em diversos momentos não se arrependeu. Como se não bastasse o entrosamento quase perfeito entre os dois grupos, o show ainda contou com a participação especialíssima do guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, e de Arnaldo Antunes, membro fundador que levou a galera ao delírio nas apresentações oficiais que vão bonitinhas para o DVD de “Comida” e “Lugar Nenhum”, e na improvisada e inebriante “Pulso”, pedida, insistida, clamada pela platéia, que contou com as guitarras de Herbert e Bellotto apoiando Arnaldo e Branco Mello, que se revezavam nos versos doentios.

A apresentação ainda contou com o cantor e guitarrista do Skank, Samuel Rosa, numa passagem mais apagada e menos vigorosa para cantar duas músicas com as estrelas da noite: “Lourinha Bombril” e "O Beco".

O pulso da galera pulsou do primeiro ao último minuto. A cada instante um clássico de cada banda era revisitado na voz da outra. De “A novidade" cantada por Sérgio Britto em dueto com Herbert Vianna, a “Flores”, levada por Herbert Vianna, passando por “O Calibre”, conduzida por Miklos ou “Selvagem", novamente cantada por Britto e Herbert. O vocalista do Paralamas ainda devolve a gentileza cantando “Sonífera ilha” com Branco Mello e cia.

Em “Uma brasileira” um backing vocal excepcional de Britto, Branco e Paulo Miklos juntos. Em “Meu Erro” e, principalmente, “Óculos”, titãs e paralamas se revezam nos verso, e Miklos e a platéia se emocionam quando Herbert muda a letra para dizer que “por cima dessas rodas também bate um coração”. Eles trocam idéias e o cantor diz que “saiu sem querer”.

Titãs e Paralmas se completam. Em raros momentos o show esfria, pois eles se revezam com extrema competência na arte de entreter a platéia. Embora o concerto seja em conjunto, há espaço nas quase duas horas em que tocaram (e quase 30 músicas!!) para sets isolados de cada um. É quando o Paralmas toca canções mais lentas e melódicas como “Ela disse Adeus” e “Lanterna dos Afogados” e os Titãs despejam todo o seu peso com “Cabeça Dinossauro” e “Bichos Escrotos”.

Não que quando estão juntos eles deixam de ter “pegada”. Algo impossível com as duas baterias de João Barone e Charles Gavin tocando juntas e Kisser auxiliando Bellotto numa para lá de raivosa versão de “Polícia”.

Definitivamente foi um show especial que ficará gravado na mente de cada um que lá esteve por muitos anos mesmo que não fosse lançado o registro em DVD, provavelmente em março. Difícil imaginar qual música do repertório dos dois faltou. Particularmente e a título de gosto pessoal senti falta apenas de “Vossa Excelência” e de “Que país é esse?”, música da Legião Urbana que os Paralmas sempre tocam. Ficariam ótimas, aliás, cantadas em seqüência.

A lamentar apenas a dispensável “necessidade” de regravar três músicas para que ficassem mais “perfeitas”, talvez, no registro oficial. Uma bobagem que me fez sentir num showzinho de axé de quinta categoria no Maracanã. Estava tudo perfeito. Mesmo com seus pequenos erros, mas isso faz parte de uma banda que tem alma. Não precisava mudar nada. Infelizmente isso só me fez perceber que nem o DVD será melhor do que o que foi visto in loco. As pormenoridades provavelmente serão retocadas num “photoshop” ilusório.

Um registro extra – e histórico - que provavelmente não vai para o DVD, pois não estava no script. Arnaldo Antunes com alguns Titãs e Herbert Vianna cantando um improvisado “O Pulso”.




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