domingo, 17 de fevereiro de 2008

A new sunshine

Dando prosseguimento às análises dos trabalhos candidatos ao Oscar de melhor filme, neste sábado é a vez de “Juno”, o penúltimo filme analisado. Semana que vem, véspera da cerimônia de premiação em Hollywood, comentarei “Sangue Negro”. Nas últimas três semanas, já foram analisados “Conduta de Risco”, “Desejo e Reparação” e “Onde os fracos não têm vez”. Vamos lá:

O único lugar onde há vida inteligente hoje para as comédias no cinema parece ser no segmento chamado de independente. Depois da sensação “Pequena Miss Sunshine” (2006), no ano passado, o filme que confirma essa aparente regra é “Juno” de Jason Reitman. Assim como o filme anterior, “Juno” também foi indicado ao Oscar de melhor filme e teve a sua atriz principal, Ellen Page, que faz o papel-título indicada para concorrer ao prêmio de melhor atiz (além de outras duas indicações).

Comédia de texto ágil e inteligente escrito pela ex-stripper Diablo Cody, “Juno” é outro achado num segmento que confesso não ser muito fã, principalmente porque nove em cada dez filmes do gênero beiram a escatologia com piadas que exaltam o preconceito e as diferenças sem qualquer fio de narrativa. É o caso de “Todo mundo em Pânico” ou os filmes da série “American Pie”.

Assim como “Pequena Miss Sunshine”, e não é a toa que a comparação tem sido freqüentemente feita, o filme de Reitman parte de uma premissa simples para criar uma série de situações engraçadas, divertidas e humanas, mas sem qualquer moralismo ou pieguice para que Page, mais conhecida como a Kitty Pride do filme dos X-Men, brilhe intensamente. Assim, “Juno” é uma comédia gostosa de apreciar.

Contracenando com Page, um time de atores pouco conhecidos, mas com o timing exato para que o filme se propõe, ou seja, divertir a platéia com uma história humana e com algum cérebro. É o caso de J.K. Simmons, o editor J.J. Jameson do Clarin Diário nos filmes do Homem-Aranha, que faz o pai de Juno, ou Allison Jenney, que faz sua madrasta, e Michael Cera, o namorado de Juno, Bleeker.

Mas é quando Page entra em cena como a petulante, com uma pitada de idealismo e independente Juno que acaba ficando grávida na primeira transa com o melhor amigo que o filme ganha muitos pontos.

Como já adiantei, o filme conta a história dessa garota de 16 anos que se mete numa verdadeira enrascada. Porém, adotando uma postura extremamente racional – e até fria – uma vez que não se considera pronta para ser mãe, ela resolve abortar. Mas ao chegar na clínica, não tem coragem e resolve ter o filho para em seguida repassá-lo a um casal selecionado por ela e sua melhor amiga, Leah (Olívia Thirlby) através de anúncios de jornal.

Vivido por Jennifer Garner e Jason Bateman, Vanessa e Mark Loring são aparentemente normais, mas têm uma série de problemas, entre eles a falta de amor por parte de Mark e a obsessão de Vanessa por ter um filho. Nada que impeça Juno, no entanto, de manter sua promessa.

Tudo no filme de Reitman é incomum e inesperado. Da reação dos pais de Juno ao saberem que a filha está grávida à sua decisão final. São tiros certeiros no roteiro de Diablo, que resolve não usar o trajeto da obviedade e manter o bom humor como marca registrada do seu texto.

Extremamente madura para sua idade, Juno acaba administrando várias situações que não deviam fazer parte de sua realidade com muita habilidade e cabeça erguida até o desfecho diferente e curioso do filme, uma ótima pedida para todos os que apreciam uma boa comédia.

Particularmente, achei “Juno” até melhor do que “Pequena Miss Sunshine”. Mas deve ser porque ela goste de rock e seja fã de Iggy Pop and the Stooges. Independentemente disso é um belo filme em que não seria surpresa, principalmente num ano sem qualquer barbada, se levasse o prêmio principal do Oscar.

Uma homenagem a Juno. Iggy Pop arrebentando tudo em Nova York no ano passado cantando "I wanna be your dog" e "No Fun" ao estilo do que fez aqui no Brasil em 2005:




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