domingo, 3 de fevereiro de 2008

A culpa eterna

Seguindo a série de análises sobre os filmes candidatos à principal categoria do Oscar no próximo dia 24, hoje é a vez de “Desejo e Reparação”:

Briony é uma jovem de talento singular para escrever, mas que pouco sabe da vida. Sua imaturidade e grande imaginação acabariam sendo responsáveis por fazê-la viver um pesadelo até o fim de sua vida, por mais que ele tenha sido parcialmente exorcizado naquela que seria a sua última obra antes que uma doença no cérebro a consumisse.

“Desejo e Reparação” (Atonement, no original, que tem sete indicações ao Oscar) é um filme sobre como Briony, vivida na juventude por Saoirse Ronan, na idade adulta por Romola Garai e na velhice por Vanessa Redgrave, lidará com a culpa de ter destruído duas vidas, uma delas a de sua irmã, Cecília Tallis (Keira Knightley), por ter imaginado demais e tomado conclusões precipitadas antes de uma apuração mais acurada dos fatos.

É em busca da reparação que ela larga o que seria uma brilhante carreira acadêmica nas melhores universidades inglesas para se embrenhar nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial como enfermeira de um hospital. Vê sangue e salva vidas o bastante para aparentemente compensar seu pecado. Mas nada disso é suficiente diante da dor de sua irmã e do grande amor dela, Robbie Turner (James McAvoy).

Com um título brasileiro bastante infeliz – não sei onde o tradutor viu o desejo numa obra que é apenas de reparação – “Desejo e Reparação” é tão perfeito na transposição de um livro para a tela que mesmo quem não leu o romance original de Ian McEwan (como foi o meu caso) que se chama apenas, assim como o título original do filme, “Reparação”, sente como se estivesse lendo/vendo um grande romance.

Essa história de amor interrompida por uma criança imatura que vê demais e não compreende a pureza do sentimento do apaixonado casal Cecília e Robbie trespassa a guerra e faz do conflito uma tentativa de Briony de se curar do mal que causou.

Da busca de Briony por redenção, Joe Wright conduz um filme lírico de fotografia impecável – não é a toa que esta é uma das indicações - e com um desfecho surpreendente e de tocar o coração. O diretor comanda a história com tamanha delicadeza e procura dar vivacidade a cada trecho da obra de McEwan que cada passagem, cada diálogo, cada imagem parece simetricamente construída para que seu filme fosse o romance falado/visto/filmado.

Trazer livros para a tela grande, assim, vai se tornando uma especialidade de Wright, que em 2005 comandou uma ainda desconhecida Keira Knightley em “Orgulho e Preconceito”, filme baseado num romance da água com açúcar Jane Austen. Lá como aqui, seu cuidado com a história era visível e o talento de Keira já despontava.

Resta a ela agora, que não foi indicada pelo seu bom trabalho, assim como McAvoy, pegar papéis com igual destaque, mas mais diversificados. A moça apaixonada destes dois filmes e a heroína rebelde dos três “Piratas no Caribe” e da bomba de mau gosto “Rei Arthur” (2004), quando viveu uma, digamos, diferente Guinevere, ela já provou que sabe fazer. É preciso agora levar o seu belo sotaque britânico além. Por enquanto, ficamos com o belo “Desejo e Reparação”.

“Desejo e Reparação”, “Orgulho e Preconceito”. Diretores iguais. A mesmo atriz principal. Obras baseadas em livros. Será que os tradutores brasileiros acharam que era uma continuação e não atentaram que um é McEwan e outro é Austen? Que título desagradável.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu