segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

A magia de uma megabanda

A introdução de “Message in a bottle” é o estopim que marca o fim de 25 anos de espera para muitos dos 74 mil espectadores presentes no Maracanã no sábado. Outros tantos não eram sequer nascidos, mas sonhavam com aquele momento desde que foi feito o anúncio de que o The Police tocaria no Brasil 25 anos depois do show que acontecera no Maracanãzinho.

Se no último show eu tinha apenas um mês de vida, neste piso o sagrado gramado do Maracanã para assistir a um dos maiores espetáculos do ano capitaneados pela guitarra do agora sessentão Andy Summers, pela bateria de Stewart Copeland e pelo baixo e voz de Sting, estes dois na faixa dos 50 anos.

E tudo começa com “Message in a bottle”. Poucas bandas podem iniciar um show com um de seus maiores clássicos e segurar a barra por quase duas horas sem que a apresentação caia de qualidade. O Police é uma delas.

Sting e seus dois parceiros envelheceram bem e parecem ter voltado melhores do que no passado para a nova turnê que marca o reencontro do grupo. Sem um novo álbum para apresentar, o show é uma compilação de clássicos emendados a cada cinco minutos – ou um pouco mais do que isso quando é permitido a Summers voar alto em solos tão espetaculares quanto inesquecíveis.

Nada de novo. O Police é mais e melhor do mesmo. Com um baixo gasto, arranhado, riscado e velho, esta pequena rima mostra que a saudade que Sting sentia por voltar a tocar com os antigos companheiros aparentemente era maior ainda do que a que ele dizia sentir pelo Brasil. Nem parece que se passaram mais de 20 anos desde o último show do trio. A sintonia é fina, cada um tem o seu espaço para brilhar num equilíbrio, uma harmonia própria das megabandas.

E com apenas os cinco discos lançados nas décadas de 70 e 80 – “Regatta De Blanc” (1979), “Outlandos D´Amour” (1979), “Zenyatta Mondatta” (1980), “Ghost in the Machine” (1981) e “Synchronicity” (1983) – o Police volta a ser uma megabanda. Conceito presente tanto na qualidade dos seus três músicos quanto na superestrutura do show que compensa, com o perdão do trocadilho infame, “every little cent spent for the ticket” porque “every little thing they do seems to be magic”.

Não há musica ruim no repertório que a banda apresenta. De clássicos como “De do do do De da da da” e “Don´t stand so close to me” a outras músicas menos cantadas, mas igualmente apreciadas como “Walking on the moon”, “Driven to tears”, “Wrapped around your fingers”, “When the world is running down” e “Invisible Sun”, cada canção é como se fosse um clássico do rock.

Sim, rock, essa palavra é absolutamente presente no show do Police. Apesar do aquecimento com “Get up, stand up” de Bob Marley, o tom “reggaezístico” aparece pouco. É Summers com seus solos incrivelmente apreciados nos telões de altíssima definição, um paraíso para os estudantes de música, em especial guitarra, quem dá o tom do espetáculo.

Para apreciar tudo isso um som limpíssimo, no volume certo que no Rio aparentemente só conseguimos ter em shows ao ar livre, apesar do elogiável esforço de casas como o Vivo Rio e o Canecão. O Citibank Hall continua uma tragédia.

Inebriante é uma definição bastante apropriada para o espetáculo do Police que quando toca “Roxanne” comprova novamente sua popularidade no país empurrando o Maracanã inteiro a cantar pelo amor da prostituta que “don´t have to put on the red light”.

“Roxanne” termina a primeira parte do show. Quando o Police retorna é para cantar o contraste da extrema felicidade de seu público – o de verdade, aliás, não o vip que só atrapalhou os verdadeiros fãs da banda como aconteceu no show dos Stones – com “King of pain”.

“So Lonely” e “Every breath you take” encerram um fantástico espetáculo, mas Summers faz graça. Pede mais uma. Não sei se estava no roteiro, se a banda estava realmente emocionada, ou as duas coisas. De qualquer maneira, Sting, que canta soberbamente na 1h50m de show, e Copeland retornam para encerrar de vez o espetáculo com a ótima “Next to you”.

Uma apresentação mágica, histórica e inesquecível em uma noite que já fora iniciada com um excelente show do Paralamas do Sucesso acompanhado pelo eterno guitarrista do Sepultura Andreas Kisser. Um show de peso só com clássicos da banda de Herbert Viana.

Há algumas semanas eu disse que o ingresso do Police era um assalto de tão caro. Mantenho a minha opinião, mas foi um delicioso assalto. Uma noite daquelas de guardar lembranças do show e do Maracanã para contar aos netos como relíquias da memória, pois pode não haver oportunidade semelhante.

Dois momentos especiais: “Message in a bottle” e “Every breath you take”:




2 comentários:

Unknown disse...

Olá Marcelo
adorei a matéria. Fiquei até vontade de ter estado lá.

Anônimo disse...

Foi um showzaço. Você teria gostado como boa parte das 74 mil pessoas que lá estiveram