domingo, 16 de dezembro de 2007

De volta a Seattle

Para muitos o tempo é um detalhe. Por mais distante que o movimento grunge de Seattle tenha sido pulverizado com o tiro na cabeça de Kurt Cobain em 1994 e dos caminhos diferentes que seus principais expoentes tomaram após aquela bala – o Pearl Jam passou a fazer um rock, rock mesmo, digamos assim, o Alice in Chains desapareceu na poeira, mesmo caminho tomando pelo Soundgarden e o Mudhoney sempre foi mais alternativo e tratou a música como bico – ainda é possível em um show aqui e outro acolá que remeta aqueles tempos, ver os velhos tênis all-star e as camisas de flanela.

Reminiscências à parte e a caráter ou não, aqueles que encararam o temporal bíblico que desabou na última quarta-feira, enfrentaram a ressaca pós-Police e o engarrafamento absurdo para chegar ao Citibank Hall não se arrependeram e viram um showzaço do cantor Chris Cornell, a voz dos finados Soundgarden e Audioslave, esta uma banda mais recente formada por Cornell e os integrantes do Rage Against the Machine que lançou três excelentes discos, mas se separaram por “conflitos de personalidade”, segundo atestou o próprio cantor norte-americano. Para mim isso é, junto com as famosas “divergências musicais”, sempre um sinônimo para saíram na porrada.

Os antigos companheiros acabaram voltando para os braços do vocalista Zack de la Rocha, com quem tiveram “divergências musicais” e também políticas no passado para retomarem o Rage Against.

Em 2h30m, Cornell cantou, para delírio de seus fãs, músicas como “Outshined”, “Fell on black days”, “Rusty Cage”, “Burden in my hand” e “Black Hole Sun” do Soundgarden e “Like a Stone”, “Cochise”, “Show me how to live” e a cantada em coro “Be Yourself”, dos tempos de Audioslave. Além de “Hunger Strike”, do Temple of The Dog, projeto que envolvia o Soundgarden e o Pearl Jam para lançar bandas novas de Seattle. Ela foi igualmente cantada em coro e verdadeiramente emocionou os quase quatro mil presentes.

Sua bela e inconfundível voz, seu jeito meio introspectivo, o estilo um tanto desleixado é contrastado com a energia de uma grande apresentação. Claro que ajuda a boa banda que o acompanha nesta sua empreitada solo depois de dois projetos que fracassaram precocemente. Apesar do erro de um dos guitarristas da banda no solo de “Be Yourself”. Mas é perdoável. Nem todo mundo pode ser Tom Morello.

Ao contrário do Police, no entanto, e sem qualquer crítica à banda de Sting, Cornell tinha algo a mostrar. As mais recentes canções de “Carry On”, seu segundo disco solo (o primeiro é “Euphoria Morning” de 1999), como “No such thing” ainda não estão na boca do povo, mas são boas. Não têm potencial de hits como nos seus melhores momentos, mas agradam aos seus muitos fãs que estiveram na casa de shows da Barra da Tijuca.

A mais conhecida é “You know my name”, a única coisa que presta no filme “Cassino Royale” do fracassado Daniel 007 Craig. Uma música até esperada pela galera e que levou Cornell a obviamente puxar a sardinha para a sua brasa.

O cantor lavou a alma da galera e se permitiu até algumas experimentações como um longo set acústico em que se destacaram uma versão de “Like a Stone” e um pitoresco cover de “Billie Jean” de Michael Jackson, que foi gravado para “Carry On”. Embora goste de todo o disco “Thriller” de Jackson, confesso que achei meio estranho. Mas teve gente que até dançou na platéia.

E o melhor de tudo é que todo o show de Cornell foi feito num som que se não estava impecável, ao menos melhorou consideravelmente em relação à última vez em que estive no Citibank Hall, em abril, para o show do Velvet Revolver.

Não sei o que a nova administração fez, mas a acústica do lugar melhorou bastante. Com um pouco mais de atenção dava para ouvir até o baixo, distinguir o som das duas guitarras tocando juntas e, o mais importante, ouvir Cornell cantando no tom certo, nem muito baixo, nem muito alto em relação aos outros instrumentos. Parece que a casa está aprendendo que o fã de rock gosta de qualidade no som.

No fim, depois de gastar seu repertório com o que tinha de melhor, Cornell ainda colocou mais uma vez a galera no bolso com uma pesadaça versão de “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin. Na semana em que a velha banda inglesa voltava para se apresentar na O2 Arena, em Londres, foi um breve consolo de quem vira um belo show e agora sonha em ver Robert Plant e Jimmy Page ao vivo e juntos novamente.

Três dos grandes momentos do show. Chris Cornell canta “Hunger Strike”, “Be Yourself” e “Black Hole Sun”.






5 comentários:

Anônimo disse...

Comentando em cima dos dois textos musicais, blz? mto bons, mto bons mesmo. Mas, com todo respeito, the police já deu, né... Esse negócio de ondas retrô enchem o saco. ou são a prova de que a nova geração é péssima. ou os dois... abs, fábio balassiano

Anônimo disse...

Meu caro, permita-me discordar. Quando uma banda volta a tocar, não é uma onda retrô como festas de DJs organizadas com músicas dos anos 80. É uma vontade de voltar a tocar com os velhos companheiros, vontade de reviver grandes momentos, enfim, motivos verdadeiros. Ou motivos puramente comerciais, ou seja, fazer dinheiro. Nenhuma grande banda "já deu" exatamente porque ela é grande. A nova geração realmente é fraca, mas tem alguns bons valores. Nenhum deles, evidentemente, que possam ser comparados aos melhores dos anos 60 e 70.
valeu

Taísa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

hahaha desculpa mas eu concordo com o comentário acima.retrô é isso ai!!HAHAHA Show pra 3ª idade!!
Mas tá muito bem escrito mesmo!! =0)

Anônimo disse...

Não existe show para a terceira idade. Existe o bom e o ruim. E a nata do rock sempre estará naqueles que fizeram história. Mas eu respeito o comentário de vocês