segunda-feira, 29 de março de 2021

“Druk” fica no meio do caminho entre reflexão e celebração

Madds Mikkelsen tomando todas
Segundo uma teoria do psiquiatra norueguês Finn Skarderud, o homem tem o nível de álcool no sangue muito baixo. Mais precisamente 0,5% a menos do que o normal. E se os homens bebessem alguma substância alcoólica diariamente para compensar esta suposta perda, terão melhor desempenho em suas vidas pessoais e profissionais. Com o intuito de testar a teoria, quatro professores do ensino médio resolvem inserir a bebida como uma atividade constante em suas vidas. Essa é a premissa de “Druk — mais uma rodada” (Druk, no original) novo filme do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, que concorre a dois Oscar.

A partir das experiências de Martin (Madds Mikkelsen), Tommy (Thomas Bo Larsen), Nikolaj (Magnus Millang) e Peter (Lars Ranthe), “Druk” levanta algumas questões sobre o alcoolismo, mas não consegue se aprofundar ao que se propõe. O filme parece ter ficado no meio do caminho entre uma crítica social abordando um problema real na Dinamarca e uma celebração das intensidades da vida. E isso talvez possa ter relação com o trágico bastidor revelado a partir de sua dedicatória.

Ao fim do filme, vemos que “Druk” é dedicado a uma jovem chamada Ida, que vem s ser a filha de Vinterberg que morreu em um acidente de carro na Bélgica pouco antes do início das filmagens deste seu novo trabalho. Ida participaria do filme como uma filha de Martin, um dos protagonistas. Com a sua morte, o roteiro foi modificado e Martin passou a ter dois filhos homens.

Foi de Ida a ideia de que Vinterberg transformasse a peça de teatro que escrevera em filme. Também foi da filha que Vinterberg colheu muitas das histórias de bebedeiras de jovens que foram usadas no filme.

Por trás disso, há uma estatística perigosa. A Dinamarca tem uma das mais altas taxas de consumo de álcool entre jovens. Um jovem dinamarquês de 15 anos consome quase o dobro de álcool que seus colegas de idade semelhante em toda a Europa.

Toda essa questão do uso de álcool é levantada no filme nas experiências dos quatro professores que vão escalando até ficarem insustentáveis e com consequências para as suas vidas, mas também são verbalmente explicitadas numa briga que Martin tem com sua esposa Anika (Maria Bonnevie) antes de se separarem. É quando Anika diz que “A Dinamarca está bebendo demais”.

Portanto, “Druk” arranha nestas questões do alcoolismo, mas não aprofunda a discussão. Não traz consequências mais graves ou não jogar mais luz ao debate envolvendo seus protagonistas. O único que sofre consequências mais dramáticas é justamente o menos relevante dos quatro amigos. E mesmo ela não traz impacto, pois os três amigos restantes já haviam largado a bebida. Até com uma certa facilidade para quem estava flertando perigosamente com o alcoolismo.

Nesse ponto, o filme também se encaminha por uma celebração da vida. Vinterberg disse que o filme é também sobre “estar acordado para a vida”. E não tem como imaginar que a sua filha podia ter sido um dos jovens na grande e bonita celebração do fim do filme, com os jovens aprovados do ensino médio.

No fim, o filme se equilibra muito entre estes dois mundos, o da crítica ao uso incontrolável do álcool e o da celebração de um meio de viver do dinamarquês que é muito associado ao álcool. E a sua cena final, com a bela coreografia de dança de Mikkelsen é a exibição física desta dualidade que Vinterberg construiu e que Mikkelsen soube personificar tão bem.

“Druk” não é tão interessante quanto “A caça” (2012), só para ficar em outra parceria entre Vinterberg e Mikkelsen. Arranha em seus objetivos, sem realmente dizer para onde quer seguir. Mas ainda que, depois de muito prometer, tenha ficado no meio do caminho, não deixa de ser um bom filme.

Cotação da Corneta: nota 7.

Indicações ao Oscar: Direção (Thomas Vinterberg) e filme em língua estrangeira.



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