segunda-feira, 29 de março de 2021

“Nomadland”: A dor e a beleza da vida de nômade moderno

Frances McDormand na vida de nômade moderno
Após o colapso de uma empresa em Nevada causada pela Grande Recessão de 2008, Fern (Frances McDormand) pega a sua van e embarca numa viagem pelos Estados Unidos vivendo uma vida fora dos padrões estabelecidos pela sociedade como uma nômade moderna.

O enredo de “Nomadland” deixa claro que é o chamado “filme de Oscar”, mas o trabalho escrito e dirigido pela diretora Chloé Zhao não é exatamente um desfile de clichês Oscar bait para fisgar os prêmios da Academia ao qual o filme recebeu cinco indicações de prêmios.

“Nomadland” tem a delicadeza, a beleza e a sutileza dos grandes filmes. Daqueles que surgem de tempos em tempos e elevam o grau de beleza do cinema que está sendo exibido na ocasião do seu lançamento.

Na jornada de Fern, acompanhamos as dores , as dificuldades, mas também a beleza do estilo de vida nômade, enquanto a própria personagem tenta reencontrar o seu lugar no mundo e se reconectar com algo em sua vida depois de ter perdido tudo. Fern não viu apenas o emprego e a casa se perderem com a falência da empresa para a qual trabalhava. Ela também é uma viúva cujo marido morrera recentemente no tempo em que acompanhamos a história.

Enquanto perpassa por muitos ciclos de luto de uma vida que não voltará mais, Fern vai sobrevivendo com uma série de empregos temporários. Nos silêncios, nos olhares distantes para horizontes curtos ou longos, conseguimos imaginar tudo o que pode estar passando pela cabeça desta mulher na casa dos 60 anos, dirigindo uma van que tem a sua cara, o seu estilo, mas também parece ter a sua idade e os seus problemas.

Fern e sua “Vanguard”, como apelidou o carro, já viveram muito, mas não querem assentar em algum lugar e nem receber olhares piedosos de ninguém. Aposentadoria está fora de questão. Ela quer um emprego, pois tem forças para se manter. Sua casa é a estrada e sua vida é construída em meio aos quilômetros rodados.

E é no silêncio da estrada e nas oportunidades que se vê em contato com a natureza que Fern recupera as energias. Nestes pontos, o filme ganha enorme beleza, graças a direção de Zhao e a fotografia de Joshua James Richards.

Já os amigos e contatos que faz na estrada funcionam como uma espécie de mentores para Fern. Boa parte dos personagens com quem McDormand contracena no filme são nômades reais. Pessoas como Bob, Linda May e Swankie estão no filme para contarem suas histórias. Seus depoimentos fazem “Nomadland” ganhar uma aura de documentário deste estilo de vida e dão muita personalidade ao filme.

E não podemos deixar de citar o belo trabalho de McDormand. Ela, que durante as filmagens passou por diferentes estágios da vida nômade, desde ter trabalhado de fato em alguns dos empregos temporários, a dirigir e dormir num trailer pelos Estados Unidos, conseguiu captar, ou melhor, transpor para a tela com bastante veracidade a vida do nômade moderno.

McDormand, Zhao e os nômades reais formam a trinca que faz com que “Nomadland” seja um grande filme.

Cotação da Corneta: nota 9.

Indicações ao Oscar: Filme, atriz (Frances McDormand), direção (Chloé Zhao), roteiro adaptado, edição, fotografia.



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