domingo, 4 de abril de 2021

“Minari”: imigração e o sonho americano

Chung queria um filme sobre fracasso e renascimento
Um ano depois da consagração de “Parasita”, o Oscar tem mais um filme falado quase que na sua totalidade em coreano concorrendo na categoria principal. Mas as comparações entre o filme de Bong Joon Hoo e “Minari” param por aqui. O trabalho de Lee Isaac Chung, indicado em seis categorias, é um drama calcado em um tema importante e que está presente no mundo praticamente desde que o homem existe: a imigração e os dramas particulares e gerais que vêm junto com o deslocamento de alguém de um lugar onde se tinha raízes para outro em que você não é ninguém até que consiga se transformar em alguém.

É a partir da jornada de uma família coreana que se muda para uma fazenda no Arkansas, nos Estados Unidos, com o intuito de construir uma nova vida que vamos acompanhando o drama de “Minari”. Por trás da esperança e do desejo de sucesso de Jacob (Steve Yeun) e Monica (Yeri Han), está uma crítica, ou talvez uma reflexão, ao ideal do sonho americano, a ideia de sucesso e prosperidade para quem trabalha arduamente e é vendida pelos americanos ao redor do mundo.

Não é por acaso que Jacob dirige-se a mulher ao longo do filme com a frase: “A vida na Coreia era dura. Falávamos que viríamos para os Estados Unidos para nos salvar”. Nesta frase está contida tanto a dor quanto a esperança daquele homem e da esposa que, querendo ou não, foi forçada a comprar essa ideia pela união da família.

Imigrar é renascer. É ter que reaprender códigos, língua, entender e aceitar hábitos e costumes. Cair e levantar. Errar e começar de novo. “Minari” tem tudo isso e mostra como o aprendizado é árduo.

Chung disse que queria fazer um filme sobre “família, fracasso e renascimento”. É possível ver estes três elementos bastante presentes no filme. A família e seus dramas seja pelo filho David (Alan S. Kim), que sofre de um problema de coração, seja pela presença da avó (Yu-Jung Youn), que sofre um derrame ao longo da história, tornando a vida ainda mais complicada naquela fazenda isolada.

Youn, aliás, é o coração de “Minari”. Na relação avó-neto, nas suas diferenças e semelhanças, vemos a riqueza desta família ao passo que Jacob começa a se afastar dela, pois o seu sonho americano o torna obsessivo e cego. Jacob escorrega na própria teimosia e vê o casamento quase se esfacelar numa cena muito bonita do filme quando Monica tem uma conversa muito franca com ele. Sem exageros hollywoodianos. Apenas as cartas da verdade sendo postas à mesa.

Por trás da insistência de Jacob está o desejo deste homem comum de ser um exemplo positivo para os filhos. Ele quer que as crianças o vejam como alguém bem sucedido e não como um mero empregado descartável de uma fábrica, tal como os pintinhos que ele deve descartar ou não diariamente. E com isso ele põe em risco o próprio relacionamento com Monica.

Mas todos terão seu momento de recomeço após aprenderem com os erros. Afinal, como Chung diz, este também é um filme sobre renascimento.

“Minari” por vezes é um filme árido. Em outros momentos, parece apenas exibir um manancial de tragédias para o prazer de espectadores sádicos. Não é um filme perfeito, mas na sua jornada de superação e renascimento de um homem comum e sua família, é possível ver alguma beleza.

Cotação da Corneta: nota 7,5.



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