segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Sem o povo não há revolução

Sete meses depois do lançamento de “Che – The Argentine”, chega aos cinemas a parte final do épico de Steven Soderbergh, “Che 2 - Guerrilla”, que conta os últimos momentos da vida do revolucionário Ernesto Che Guevara (Benício Del Toro). Neste capítulo final de um filme de 4h30m dividido em dois, a revolução cubana já foi feita e Fidel Castro se encontra devidamente alojado no El Nacional tomando champagne. Che não está ao seu lado, pois resolve levar a revolução para a Bolívia, sua terceira tentativa após a vitória de Cuba e o fracasso retumbante no Congo.

Soderbergh dedica boa parte deste filme a contar o último ano de vida de Che Guevara, mostrando os erros cometidos pelo líder que queria levar a revolução para todo o continente, mas esqueceu de perguntar se todos queriam esse levante comunista.

Na Bolívia, Che não conseguiu o mais importante e o que foi fundamental em sua vitória cubana: o apoio do povo. Se em Cuba, ele fora ajudado e derrubar Fulgêncio Baptista e podia facilmente se misturar à multidão, que por sua vez o protegia, na Bolívia, Che, seus revolucionários cubanos e companheiros bolivianos não conseguiram arregimentar a massa.

Acabou vencido pelo instrumento de propaganda maior feito pelo então presidente René Barrientos (Joaquim de Almeida) e pelo aparato militar dos Estados Unidos, que não estavam nem um pouco interessados em ver um novo país tomado pelo comunismo.

Mas o fundamental é que não se faz revolução sem o povo. E a propaganda via imprensa entre a população boliviana foi eficaz transformando os revolucionários em ateus sanguinários (só faltou espalharem que eram comedores de crianças), embora a figura de Che Guevara já tivesse aquele ar mítico que as versões e as histórias criaram sob um homem que era bem menos "heróico" do que o que diziam. Mas Che ainda conseguia magnetizar com seu ideal alguns menos afortunados, como o soldado que tinha que vigia-lo e quase foi, digamos, seduzido.

Sem o apoio popular, Che e seus aliados foram antes da atuação do exército boliviano consumidos pela floresta, tiveram problemas de saúde – o próprio líder teve uma séria crise de asma – e sucumbiram quando já não tinham sequer condições de mais nada e só lhes restava mesmo morrer pela revolução.

Este, aliás, teria sido o último ato de Che antes de ser fuzilado por Mario Terán, um sargento boliviano, depois de preso. Quando perguntado se ele tinha noção de sua imortalidade, Che disse apenas que pensava na imortalidade da revolução. “Você está apenas matando um homem”, teria dito, segundo Terán. Che, no entanto, acabou ganhando mais relevância como o passar das décadas como ícone pop a ponto de a camisa com a sua famosa foto feita por Alberto Korda ser vendida junto com camisetas de Barack Obama numa loja de Londres como você pode ver na imagem deste post. A dita revolução morreu nos fracassos e erros de Fidel Castro. Entre eles, o de permanecer mais de 50 anos no poder.

Esta cena final, porém, não é mostrado no trabalho de Soderbergh. Nada que faça falta, pois o diretor vinha mostrando desde o início com a ajuda de Benício Del Toro um sóbrio equilíbrio entre o mito e o ódio criado em torno do líder revolucionário.


Não cabia a ele, e o diretor deixou bem claro o seu desejo em entrevistas, fazer juízos sobre Che Guevara. Era apenas uma história que ele se dedicou a contar com a ajuda de Del Toro. E “Guerrilla”, tal qual um “Além da linha vermelha” (1998) guerrilheiro – mas sem a chatice do trabalho de Terrence Malick – é apenas a história de um homem que vai se definhando pela sua causa. São as últimas horas de um sonho que vira mito para alguns e páginas de livro para outros. Entre eles, apenas o bom cinema de Soderbergh e a camisa já quase com ares de kitsch.

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