
Os filmes de Dirty Harry – “Dirty Harry” (1971), “Magnum 44” (1973), Sem Medo da Morte (1976), “Impacto Fulminante” (1983) e “Dirty Harry na lista negra” (1988) – fizeram muito sucesso nas décadas de 70 e 80, mas também eram bastante criticados pela postura politicamente incorreta, preconceituosa e misógina do seu principal personagem.
Há, portanto, uma semelhança entre Harry e Walter Kowalski, personagem central de “Gran Torino”, novo e elogiável trabalho de Eastwood. Recentemente, o diretor deu declarações criticando toda essa postura politicamente correta do cinema e até da vida atualmente. Foi apenas uma constatação. Não significa que Eastwood pense como seu personagem, mas revelou a sua necessidade de mostrar outras cores em sua obra. Por mais que elas não sejam das mais agradáveis.
Em “Gran Torino”, o diretor e ator vive um trabalhador aposentado da Ford que viveu as agruras da guerra da Coreia e hoje é praticamente um estrangeiro num bairro americano cercado de “chinas”, “pretos” e toda a “escória da humanidade”, como ele pensa.
Para todos eles, Kowalski rosna como um cão raivoso seja pelo seu comportamento, sua cultura e, claro, sua aparência nada caucasiana. A recente viuvez de Kowalski só aguça sua impaciência e preconceito, ainda ampliada por um padre mala que tenta cumprir o último desejo da esposa de Kowalski: fazê-lo se confessar.
Kowalski é, assim, alguém que só aceita viver entre os seus, o que exclui a sua própria e problemática família, cujos netos se vestem mal, são mal educados e apenas ambicionam o seu Ford Gran Torino estacionado na garagem, e os filhos usam carros japoneses, ou “chinas”, fabricados por gente que ele se “acostumou a empilhar e transformar em sacos de areia ou trincheira” quando estava no Exército.
Ao conviver forçosamente com os hmong, povo que lutou ao lado dos americanos na guerra do Vietnã e foi perseguido e massacrado pelos comunistas depois que os americanos abandonaram, derrotados, a região, ele vai perceber, no entanto, que tem mais em comum com aquela família de hábitos para ele estranhos do que com a sua própria.
O ponto de ligação com os hmong é Thao, jovem tímido que cultiva os valores que Kowalski admira e é importunado juntamente com sua família por uma gangue do bairro. É para ajudá-los que Kowalski entra em cena com sua pistola e escopeta e acaba virando, inicialmente a contragosto, o herói do bairro.
Ironicamente são os hmong outrora vistos como inimigos que vão lhe dar um sopro de vida na sua até então amarga existência e a chance de recomeçar, de rever os seus erros, tão perto do seu fim.
Pode-se dizer, portanto, que “Gran Torino” é a redenção de Dirty Harry. E seu desfecho não poderia ser mais apropriado a alguém que de qualquer forma sempre foi um herói.
6 comentários:
parabéns, amigo.
suas resenhas estão demais de ótimas!
parabéns mesmo.
o filme eu achei nota 7, 7.5, nd mais q isso.
abs, fábio
7,5 me parece um nota bastante boa. Eu concordo. O que não deixa de ser um bom conceito.
abs,
marcelo
Oi, Marcelo!
Não sei se o parabenizo ou se brigo com você. Eu já tenho a maior dificuldade em cumprir a minha sempre defasada listinha de filmes-que-eu-preciso-ver e você ainda me vem com mais um?
Até agora eu simplesmente ignorei o "Gran Torino", mas a sua resenha me deixou com vontade de ver o filme. Você não tem vergonha de influenciar assim, descaradamente, as pessoas? :-)
O mínino que você pode fazer é me dar uma opinião sobre um filme que eu não sei se é muito bom (gosto do diretor) ou uma roubada: Já viu o "Simplesmente Feliz"?
Bj,
Geisa
Eu não vi ainda "Simplesmente Feliz", mas o meu amigo Fábio, que escreveu ai em cima, viu e me deu ótimas recomendações. Por isso entrou na minha lista.
No meu caso, já estou acostumado em ter uma lista defasada. É de filmes, de livros, de discos. Não tem jeito.
Eu não influencio tão descaradamente as pessoas. Nem sou conhecido e tenho um blog lido por poucos. Mas quem sabe um dia eu não domino o mundo. hahahaha
Aliás, eu entrei no seu myspace. Muito bom hein. De verdade. Gostei.
beijo,
marcelo
Curtiu o som? Jura? Então me arruma muitos shows com seus contatos do alto clero, que eu lhe pago uma porcentagem.
Bora ver o Simplesmente Feliz!
Pra deixar de ser "anônimo":
geisaf@hotmail.com
Bj
Eu estava querendo ver na quinta. Mas te mando um e-mail confirmando.
Gostaria de ter contatos no alto clero, mas infelizmente eu estou abaixo do baixo clero.
Postar um comentário