quinta-feira, 23 de abril de 2009

Quinze anos sem Kurt Cobain

Eu devia ter uns 10 anos quando tive meu primeiro contato com o rock and roll. Até então, eu gostava do que todo mundo gostava naquele final de anos 80 e início de anos 90. Ou seja, Madonna, Michael Jackson e Tina Turner. Bem, acho que nem todo mundo gostava de Tina Turner. Por outro lado, eu detestava e ainda detesto Prince, que era igualmente idolatrado como os ídolos pop aqui citados.

Mas como eu dizia, devia ter uns dez anos quando do rádio do carro do meu pai ouvi pela primeira vez “Smells like teen spirit”. Não entendia praticamente nada de inglês (um "yes", um "no" e um "apple pie" ou "chocolate cake" era o máximo que eu poderia arriscar), mas aquele riff de guitarra e a voz agonizante daquele vocalista que parecia estar expulsando demônios ou, vá lá, espíritos, do recinto, entraram pelo meu ouvido e eu não queria escutar mais nada dali para frente.

Assim eu era apresentado ao Nirvana e ao chamado “Movimento de Seattle”, uma vez que logo depois eu ouviria outro som definitivo, “Even Flow”, do Pearl Jam. Mas esta é outra história.

Eu já era um fã de rádio do Nirvana - não tinha discos, não gostava dos bolachões e quase não comprava fitas – quando Kurt Cobain foi encontrado morto no dia 8 de abril de 1994 em sua mansão em Washington. Eu tinha 12 anos e lembro vagamente da tristeza das pessoas. Lembro de uma senhora loura com cara de maluca completamente desolada (ela era Courtney Love, a então mulher de Cobain e vocalista do Hole), via várias pessoas chorando, lembro vagamente de outras cantando em volta do túmulo e de notícias começando a surgir de outros adolescentes tirando suas vidas pelo mundo afora como fizera Cobain na estufa de sua casa.

Não senti a dor lancinante de um ídolo que se fora, pois eu era novo demais para esses tipos de manifestações adolescentes. Mas tinha alguma noção da importância que ele tinha. Desconhecia seus problemas de depressão, seu vício em heroína, seus problemas com Love e as terríveis dores no estômago. E lamentavelmente não estava presente no show chamada por muitos de catártico e por alguns de desastroso do Nirvana no Hollywood Rock de 1992. Dizem que Cobain teria esculachado com a apresentação quando descobriu que o festival era patrocinado por uma marca de cigarro. Ele achava que o Hollywood fazia referência à meca do cinema. Pelo visto, no entanto, para a grande maioria o tiro saiu pela culatra.

Enfim, meu gosto se resumia a algumas excelentes canções contidas em “Nevermind” (1991), certamente um dos 100 maiores discos de rock de todos os tempos.

Mas tudo o que eu descrevi acima fui descobrindo conforme o Nirvana ia se tornando importante na minha vida e na minha discografia da banda orgulhosamente completada. Incluindo os caça-níqueis, para a alegria da gravadora.

Por isso neste mês quando se completou 15 anos da morte/suicídio de Cobain sinto falta dele. Lamento mais ainda saber que nunca poderei assistir a um show do Nirvana. É um vazio que jamais será preenchido.

Se não fosse pela banda formada por Cobain, pelo baterista Dave Grohl, hoje líder dos Foo Fighters, e pelo baixista Krist Novoselic, hoje um irreconhecível político, o grunge talvez não teria saído das garagens e porões de Seattle. Suas guitarras distorcidas e suas letras um tanto depressivas, que demonstravam ansiedade, infelicidade, a apatia da vida, enfim, um completo niilismo, contrastavam com todo o colorido e brilho que imperava até então sobre e através dos reis do pop.

Cobain foi um chute na porta da música e atrás dele vieram outras grandes bandas como o Pearl Jam, o Soundgarden e o Alice in Chains, além do Mudhoney, que até hoje permanece fiel e único sobrevivente do som de Seattle.

Dois discos são fundamentais para o movimento. “Ten”, do Pearl Jam, lançado em agosto de 1991 e o "Nevermind", lançado um mês depois. Eles são os pilares que sustentaram o grunge e possibilitaram o surgimento de outras bandas, além de uma maior atenção à música que se fazia por ali até então.

Curiosamente Cobain tinha uma rixa com o Pearl Jam. Neste mês, a “Rolling Stone” do Brasil resgatou duas matérias da “Rolling Stone” americana para lembrar os 15 anos da morte de Cobain. Numa delas, é reproduzida uma entrevista com o líder do Nirvana em que ele diz que não gostava da banda por ela não desafiar seus fãs fazendo novas experiências.

“É um exemplo de banda de rock segura e agradável que todo mundo gosta sem desafiar seu público”, disse ele, afirmando ser necessário usar novas idéias e conceitos, o que ele estaria propondo com o lançamento de “In Utero” (1993), terceiro e último disco de estúdio da banda, que realmente tinha uma sonoridade levemente diferente dos dois primeiros álbuns do Nirvana. Mas Cobain depois reconhecia na entrevista, feita seis meses antes do suicídio, que não deveria ter criticado o Pearl Jam, mas a sua gravadora.

Seja como for, havia muito respeito entre as duas bandas. Tanto é que quando soube da morte de Cobain, Eddie Vedder cancelou o prosseguimento de uma turnê do Pearl Jam e disse durante um show em Washington que “nenhum de nós estaria aqui nesta sala hoje se não fosse Kurt Cobain”.

Cobain tinha um gosto mais refinado do que podiam imaginar os preconceituosos de plantão. Apreciava os clássicos – na entrevista à “Rolling Stone” citou os discos “Rocks”, do Aerosmith, “Led Zeppelin II”, do Led Zeppelin, “Never mind the bollocks”, do Sex Pistols, e “Back in Black”, do AC/DC, como os seus favoritos – e admirava o R.E.M. (“Se eu pudesse compor tão bem quanto eles. Não sei como conseguem fazer o que fazem. Meu Deus, eles são os maiores”, declarou ele, revelando que gostaria de trabalhar com Michael Stipe, projeto que realmente estava em andamento como revelou o vocalista do R.E.M. após a morte de Cobain).

Revelava ainda a sua preocupação em não ser rotulado (“Grunge é um termo tão potente quanto new wave. Não dá para cair fora. E uma hora vai ser um termo ultrapassado”) e sonhava em fazer coisas diferentes, trabalhos diferentes, o que desembocou na gestação de “In Utero” e o fez se “desarmar” para expor a voz que supostamente não tinha no acústico da MTV.

Gravado cinco meses antes da morte de Cobain, o acústico pode ser visto como uma espécie de despedida e uma biografia musical do cantor. Em um documentário feito pela MTV quando fez dez anos da morte do líder do Nirvana, o produtor do unplugged Alex Coletti contou que a decoração com velas e flores foi sugestão de Cobain, que respondeu positivamente quando ele perguntou se o cantor queria uma decoração como se “fosse um funeral”.

No set com um total de 14 canções, havia poucas músicas conhecidas do Nirvana e seis covers. Todas eram de certa forma autobiográficas como “Something in the way”, que fala de um período de sua vida em que ele dormiu embaixo de uma ponte, “All Apologies”, dedicado à sua esposa Courtney Love e sua filha, Frances Bean Cobain, ou “About a Girl”, que fala sobre uma antiga namorada de Cobain, Tracy Marander.

A expressão de Cobain durante o acústico era de alguém que havia sido realmente derrotado pelo vício em heroína, pela depressão, pelas dores no estômago, o estilo de vida que ele aparentemente detestava ou simplesmente não via mais sentido, ou todas as respostas anteriores. Enfim, era alguém cansado de tudo e preso em si mesmo. Cobain mergulhara fundo na temática do grunge e se fechara completamente para o mundo exterior. “Last Days” (2005), o filme de Gus Van Sant levemente inspirado em sua história, mostra bem como foram os últimos dias do cantor.

Com a sua morte todo o movimento grunge perdeu o fôlego. Poucas bandas ainda seguem o estilo e o outro ícone do movimento, o Pearl Jam, soa mais roqueiro desde “Yield” (1998). Prova de que o líder do Nirvana era o grande catalisador de tudo ou que talvez tivesse certo ao dizer que o grunge era um som que iria se tornar ultrapassado.

É difícil saber o que Cobain estaria fazendo hoje se estivesse vivo e com 42 anos. Nunca soube que tipo de projeto ele teria com Stipe. Ao mesmo tempo ele parecia inquieto com o som do Nirvana, em que não via muito futuro mais pelo castigo que ele trazia à sua garganta.

“É impossível olhar para o futuro e dizer que vou conseguir tocar as músicas do Nirvana daqui a dez anos”, declarou na já citada entrevista à “Rolling Stone” americana.

Cobain tinha 27 anos quando deixou o mundo. “Entrou para aquele clube idiota”, declarou na época sua mãe, Wendy O’Connor, num misto de revolta e tristeza, referindo-se a Janis Joplin, Jim Morrison e Brian Jones, também mortos aos 27 anos. Deixou um legado musical e muita saudade daqueles que amam a boa música.

Discografia comentada:

“Bleach” (1989) – A estreia do Nirvana com suas marcas registradas. A guitarra distorcida, os vocais de Cobain e a temática grunge. Destaque para “Floyd the Barber”, “Negative Creep”, “Scoff”, “School” e “About a Girl”, a única canção mais diferente do resto do álbum e que se tornou um sucesso.

“Nevermind” (1991) – Um clássico. Poucos discos conseguem ser bons do primeiro ao último segundo. Tem “Smells like teen spirit”, “Lithium”, outra porrada espetacular, “Come as you are” e uma espetacular “Territorial Pissing” com Cobain perdendo a voz de tanto berrar.

“Incesticide” (1992) – Compilação de gravações demo e sobras não lançadas muito interessante. Tem “Sliver” e “Aneurysm”.

“In Utero” (1993) – Último álbum de inéditas do Nirvana. A banda soa mais pesada neste disco que tem com destaques “Heart-Shaped Box”, “Rape Me”, “Pennyroyal Tea” e “All Apologies”.

“MTV Unplugged in New York” (1994) – O acústico definitivo da MTV. Depois disso, a emissora seja aqui ou lá fora jamais conseguiu fazer um acústico tão bom. Colocar o Nirvana, banda explosiva, para tocar com banquinho e violão foi uma idéia sensacional que Cobain soube levar ao seu jeito para protagonizar uma apresentação histórica.

“From the muddy banks of the wishkah” (1995) – Disco que tenta captar algo próximo do que era o Nirvana ao vivo. Bom para fãs que nunca verão Cobain ao vivo.

“Nirvana” (2002) – Coletânia caça-níqueis que só vale a pena por ter uma canção inédita: “You know, you’re right”.

“Silver: The best of the box” (2005) – Mais restos de gravações demo e sobras jogadas por aí que a gravadora resolveu usar para fazer caixa. Só para fãs como eu e você que chegou até o fim deste texto.

Abaixo alguns momentos marcantes da carreira Nirvana:

Imagens do último show do Nirvana, em 1º de março de 1994:

Videoclip de "Smells like teen spirit":

Videoclipe de "Lithium":

Videoclipe de "Heart-shaped Box":

Nirvana tocando "Drain You" durante a turnê do disco "In Utero":

Nirvana tocando "Come as you are" durante o Hollywood Rock no Rio de Janeiro:

Nirvana tocando "Territorial Pissing" em apresentação na MTV americana:

Nirvana tocando "About a Girl" no Acústico MTV:

Nirvana tocando "Where did you sleep last night" no Acústico MTV:

3 comentários:

Bobby disse...

ee
gostei mto do post
,es,o depois que ele morreu o Nirvana continuou fazendo fãs
eu spu um deles ahuhasu
quando ee se foi eu tinha apenas 1 ano
e conheci o nirvana aos 10 anos
hj eu sou um grunge viciado

e como vc disse la neh que quem nao foi num show do Nirvana fika um vazio dentro de vc que nao da pra preencher

uma pergunta: quando ele morreu, vc se lembra se ouve polemica no caso de sua morte?
se vc lembra de entrevistas reportagens falando sobre isso. se foi suicidio ou assasinato?

vlw

nicolas lopes

Bobby disse...

ee
gostei mto do post
,es,o depois que ele morreu o Nirvana continuou fazendo fãs
eu spu um deles ahuhasu
quando ee se foi eu tinha apenas 1 ano
e conheci o nirvana aos 10 anos
hj eu sou um grunge viciado

e como vc disse la neh que quem nao foi num show do Nirvana fika um vazio dentro de vc que nao da pra preencher

uma pergunta: quando ele morreu, vc se lembra se ouve polemica no caso de sua morte?
se vc lembra de entrevistas reportagens falando sobre isso. se foi suicidio ou assasinato?

vlw

nicolas lopes

Marcelo Alves disse...

Olá teen spirit. Obrigado pela visita ao blog.
Respondendo à sua pergunta, do pouco que eu lembro na época que ele morreu nunca se cogitou a tese de assassinato. Isso só começou a ficar mais forte há dez anos quando a BBC fez um documentário chamado "Kurt & Courtney", que pode ser encontrado em boas locadoras. No filme, o diretor Nick Broomfield expõe algumas questões, aborda estudos dizendo que seria improvável que a bala atingisse o ponto que atingiu no caso de suicídio e diz que a morte de Cobain é cercada de mistérios. Além disso ele cita o pai de Courtney Love, que escreveu um livro afirmando que na verdade Cobain foi assassinado. A viúva de Cobain, aliás, quis proibir a transmissão do documentário. É um filme muito interessante que vale a pena assistir. Tem alguma de teoria conspiratória? Sim, claro, mas muita coisa pode ser verdade. Assassinato ou não, porém, infelizmente ele não está mais entre nós.
Um abraço e volte sempre,
marcelo