sábado, 18 de abril de 2009

A redenção de Dirty Harry

Perto de completar 80 anos, Clint Eastwood parece ter resolvido fazer uma revisão ou um exercício de futurologia para um dos seus mais conhecidos personagens, Harry Calahan. Dirty Harry era basicamente um justiceiro na pele de um policial que fazia a justiça com as próprias mãos sem se importar com regras ou ter papas na língua.

Os filmes de Dirty Harry – “Dirty Harry” (1971), “Magnum 44” (1973), Sem Medo da Morte (1976), “Impacto Fulminante” (1983) e “Dirty Harry na lista negra” (1988) – fizeram muito sucesso nas décadas de 70 e 80, mas também eram bastante criticados pela postura politicamente incorreta, preconceituosa e misógina do seu principal personagem.

Há, portanto, uma semelhança entre Harry e Walter Kowalski, personagem central de “Gran Torino”, novo e elogiável trabalho de Eastwood. Recentemente, o diretor deu declarações criticando toda essa postura politicamente correta do cinema e até da vida atualmente. Foi apenas uma constatação. Não significa que Eastwood pense como seu personagem, mas revelou a sua necessidade de mostrar outras cores em sua obra. Por mais que elas não sejam das mais agradáveis.

Em “Gran Torino”, o diretor e ator vive um trabalhador aposentado da Ford que viveu as agruras da guerra da Coreia e hoje é praticamente um estrangeiro num bairro americano cercado de “chinas”, “pretos” e toda a “escória da humanidade”, como ele pensa.

Para todos eles, Kowalski rosna como um cão raivoso seja pelo seu comportamento, sua cultura e, claro, sua aparência nada caucasiana. A recente viuvez de Kowalski só aguça sua impaciência e preconceito, ainda ampliada por um padre mala que tenta cumprir o último desejo da esposa de Kowalski: fazê-lo se confessar.

Kowalski é, assim, alguém que só aceita viver entre os seus, o que exclui a sua própria e problemática família, cujos netos se vestem mal, são mal educados e apenas ambicionam o seu Ford Gran Torino estacionado na garagem, e os filhos usam carros japoneses, ou “chinas”, fabricados por gente que ele se “acostumou a empilhar e transformar em sacos de areia ou trincheira” quando estava no Exército.

Ao conviver forçosamente com os hmong, povo que lutou ao lado dos americanos na guerra do Vietnã e foi perseguido e massacrado pelos comunistas depois que os americanos abandonaram, derrotados, a região, ele vai perceber, no entanto, que tem mais em comum com aquela família de hábitos para ele estranhos do que com a sua própria.

O ponto de ligação com os hmong é Thao, jovem tímido que cultiva os valores que Kowalski admira e é importunado juntamente com sua família por uma gangue do bairro. É para ajudá-los que Kowalski entra em cena com sua pistola e escopeta e acaba virando, inicialmente a contragosto, o herói do bairro.

Ironicamente são os hmong outrora vistos como inimigos que vão lhe dar um sopro de vida na sua até então amarga existência e a chance de recomeçar, de rever os seus erros, tão perto do seu fim.

Pode-se dizer, portanto, que “Gran Torino” é a redenção de Dirty Harry. E seu desfecho não poderia ser mais apropriado a alguém que de qualquer forma sempre foi um herói.

6 comentários:

fábio balassiano disse...

parabéns, amigo.
suas resenhas estão demais de ótimas!
parabéns mesmo.
o filme eu achei nota 7, 7.5, nd mais q isso.
abs, fábio

Marcelo Alves disse...

7,5 me parece um nota bastante boa. Eu concordo. O que não deixa de ser um bom conceito.
abs,
marcelo

Anônimo disse...

Oi, Marcelo!

Não sei se o parabenizo ou se brigo com você. Eu já tenho a maior dificuldade em cumprir a minha sempre defasada listinha de filmes-que-eu-preciso-ver e você ainda me vem com mais um?
Até agora eu simplesmente ignorei o "Gran Torino", mas a sua resenha me deixou com vontade de ver o filme. Você não tem vergonha de influenciar assim, descaradamente, as pessoas? :-)

O mínino que você pode fazer é me dar uma opinião sobre um filme que eu não sei se é muito bom (gosto do diretor) ou uma roubada: Já viu o "Simplesmente Feliz"?

Bj,

Geisa

Marcelo Alves disse...

Eu não vi ainda "Simplesmente Feliz", mas o meu amigo Fábio, que escreveu ai em cima, viu e me deu ótimas recomendações. Por isso entrou na minha lista.

No meu caso, já estou acostumado em ter uma lista defasada. É de filmes, de livros, de discos. Não tem jeito.

Eu não influencio tão descaradamente as pessoas. Nem sou conhecido e tenho um blog lido por poucos. Mas quem sabe um dia eu não domino o mundo. hahahaha

Aliás, eu entrei no seu myspace. Muito bom hein. De verdade. Gostei.

beijo,

marcelo

Anônimo disse...

Curtiu o som? Jura? Então me arruma muitos shows com seus contatos do alto clero, que eu lhe pago uma porcentagem.

Bora ver o Simplesmente Feliz!

Pra deixar de ser "anônimo":

geisaf@hotmail.com

Bj

Marcelo Alves disse...

Eu estava querendo ver na quinta. Mas te mando um e-mail confirmando.

Gostaria de ter contatos no alto clero, mas infelizmente eu estou abaixo do baixo clero.