sábado, 27 de outubro de 2007

O The Police é um assalto

Ainda tento entender a lógica da venda de ingressos para shows no Brasil. Antigamente as coisas eram mais claras. Quanto menor a casa, maior o preço do ingresso. É natural. O preço do artista é único e a casa tem que bancá-lo não importando se a capacidade é para 5 mil ou 50 mil pessoas.

Hoje, diante da lei da meia entrada que só prejudica as pessoas honestas (são poucas, mas elas existem), essa lógica ganha tons de perversidade. O que leva alguém a cobrar de R$ 160 a R$ 500 pelo ingresso do “The Police” num estádio que pode receber facilmente 100 mil pessoas e R$ 180 por shows do Tim Festival em tendas que com boa vontade cabem 4 mil pessoas?

Claro que ambos os preços são abusivos. Verdadeiros assaltos num tempo em que o dólar está na casa do R$ 1,80. Quando a moeda americana custava entre R$ 3 e R$ 4, os shows não passavam de R$ 120 e isso já era considerado um absurdo.

O dólar alto impediu o investimento em artistas. Perdemos turnês de U2, Madonna, entre outros. Com a cotação favorável, diversos músicos têm desembarcado no país para fazer shows. O que é muito bom, mas o ingresso continua batendo recordes astronômicos. A continuar assim, o cidadão terá que desembolsar em breve um salário mínimo para assistir a duas horas de música.

Gostaria que a organização da turnê do The Police viesse a público explicar os números que levaram a esse valor de R$ 160 per capita. Para mim, ele não tem lógica nenhuma. Parece que quem vai tocar é Jimi Hendrix, voltando do inferno com sua guitarra ao som de “Purple Haze”. Por esse preço, se devia esperar pelo menos Jim Morrison saindo das catacumbas de Père-Lachaise com seu vozeirão cantando “Riders on the storm”.

Sempre dei razão a quem organiza shows no Brasil e reclama da lei da meia entrada. Realmente, o que menos tem é estudante de verdade e já escrevi neste blog minha posição a favor da extinção da lei. Contudo, eles estão abusando. Nada justifica R$ 160 como o ingresso mais barato de um concerto, por mais clássica que seja a banda.

Além disso, a julgar pelo posicionamento do público, a apresentação do The Police promete ser fria como a dos Stones na Praia de Copacabana quase foi não fosse a genialidade daquela que considero a maior de todas as bandas. Criaram uma área vip e uma área premium – aquela dos R$ 500 – em frente ao palco matando de maneira absurda o gargarejo. Ora, as fileiras da frente são as que mais animam a banda e onde melhor ocorre a interação artista-público. Ou alguém acredita que o Sting está preocupado com quem estiver na arquibancada lateral – a de R$ 160 – a milhares de metros de distância?

Mas as inteligências superiores entre os organizadores do show criaram um espaço onde quem tem dinheiro vê melhor e quem é fã se fode, com o perdão do palavrão, aqui absolutamente necessário.

Apesar do preço extorsivo tenho a absoluta convicção que o show do The Police terá “sold out” rapidamente. A banda está tocando muito bem como você pode comprovar abaixo em dois vídeos da volta deles que catei no "Youtube" e o show é marcado só por clássicos do Police.

Enfim, quem cobra esse preço sabe que o que faz, sabe que está lidando com fã e fã paga qualquer preço para ver sua banda favorita. Eles sabem que quando se tratam de concertos, não tem como a pirataria roubar a bilheteria como faz com o mercado fonográfico e cinematográfico. Enquanto isso, todos nós que gostamos de assistir a shows passamos pelo papel de otários. Idiotas assaltados pelo The Police.


Veja o The Police tocando “Message in a bottle” e “Roxanne”:




5 comentários:

Luisa Belchior disse...

Que honra!
Vou fazer jus a essa concessão aumentando a freqüência dos textos!
Beijos.

Anônimo disse...

Pois é, Luisa, e sempre apareça por aqui para comentar. Viu como o blog agora está mais moderno com vídeos, fotos e tudo o mais. É a nova era de Memórias da Alcova.

Anônimo disse...

Caro Crescenet,
No momento estou satisfeito com o meu provedor. Se for do meu desejo mudar, entrarei em contato com vocês. Obrigado pelos elogios.

Anônimo disse...

"A volta do The Police"
é engraçado falar na volta quando parece que eles nunca foram...Quando eram e depois que foram, a estrela sempre foi mesmo o Sting!!! A volta do que não foi!
ps:é,os preços são um absurdo,mas hj em dia realmente é difícil músico fazer dinheiro vendendo disco....

Anônimo disse...

Pois é, Taísa, mas você há de concordar comigo que a carreira solo do Sting é bem insípida.
Concordo que artista só faz dinheiro com show, mas os ingressos poderiam ser bem mais baratos não fosse a combinação ganância/oportunismo do brasileiro. E a lei da meia entrada só tem atrapalhado nos últimos tempos.