quarta-feira, 10 de outubro de 2007

28 horas

Ao contrário do que cantou Mick Jagger, definitivamente o tempo não está ao nosso lado. Talvez nos anos 60 estivesse. Hoje tenho sempre a sensação de que não cabe mais fazer planos para o futuro. Daqui a pouco teremos que fazer planos para as próximas encarnações.

Eu por exemplo, me comprometi a quando voltar aprender a fazer duas coisas que sempre quis, mas a falta de tempo me impede: surfar e dançar tango. Marcelo surfando!!!!!!! Exclamam uns. Dançando tango!!!!!!!??????? Exclamam ainda mais/questionam (rindo muito), outros.

Ora, por que não? Sempre gostei de esporte e o surf me parece extremamente divertido, além de ser uma bela maneira de estar em contato com a natureza por mais que as ondas de Jaws não sejam lá muito convidativas a um amador. Quanto a dançar tango, bem, ainda estou inebriando pela famosa cena de Al Pacino em “Perfume de Mulher”, que para mim foi decisiva para ele faturar o Oscar. Depois daquilo pensei que tango era algo que eu precisava aprender.

Fica para a próxima encarnação. Não dá mais para realizar todos os sonhos num mundo que tem 365 dias por anos e apenas 24 horas em cada dia. O tempo é o mesmo, mas a velocidade é impossível de acompanhar. Você dorme com o computador mais moderno e acorda obsoleto.

O ser humano, aliás, está ficando a cada dia mais rapidamente obsoleto. Chegará o dia em que cursar três faculdades será obrigação para que o mercado de trabalho não o jogue no limbo. E aí vai faltar ainda mais tempo para se dedicar aos prazeres da vida.

Mas eu não desisto. Havia um terceiro sonho que estou tentando deixar nessa encarnação. Tocar guitarra perfeitamente é mais que um compromisso. É um destino. Espero que os fatos o comprovem.

O fato é que o tempo anda surreal. Daí a escolha por Salvador Dali – com o perdão do trocadilho infame – na obra “A persistência da memória” (1931) para ilustrar esse post. Vai dizer que aquele relógio derretendo e se esvaindo não é uma metáfora perfeita para cada dia da sua vida?

Uma análise da tragédia nossa de cada dia. Passamos dois terços de cada 24 horas que vivemos na tríade verbal trabalhar/dormir/comer. Restam oito horas. Seriam suficientes se não fizéssemos horas extras, perdêssemos tempo no trânsito, tivéssemos que pagar contas no banco, enfim, se não tivéssemos outras obrigações.

O resultado? São filmes a não ver. Livros a não ler. Cursos a não fazer. E até, por que não? Falta de tempo para não fazer nada. O ócio criativo é fundamental, já disse o sociólogo italiano Domenico De Masi.

Os romanos fizeram besteira. E Não podemos mudar o passado. Mas como não podemos trabalhar menos – num mundo capitalista isso seria impossível e poderia provocar a terceira guerra mundial – fica a sugestão para continuarmos a trabalhar da mesma maneira, porém com o diferencial do calendário ser alterado.

Se cada dia tivesse 28 horas, teríamos quatro horas para nos dedicarmos aos prazeres da vida da forma como desejarmos. Seria fantástico, nos deixaria mais felizes e produziríamos mais.

Do ponto de vista biológico seria uma loucura, admito, uma vez que a Terra leva 24 horas para girar em torno de si mesma no tal movimento de rotação. Mas se nos acostumássemos a tomar café da manhã em pleno breu e jantar com o galo cantando, como provavelmente aconteceria com essa diferença de quatro horas, teríamos mais qualidade de vida.
E se nada desse certo, na pior das hipóteses, teríamos mais quatro episódios para ver Jack Bauer acabando com os terroristas que invadem os Estados Unidos.

2 comentários:

fábio balassiano disse...

Pertinente texto. Um dos meus ex-objetivos também é/era aprender a surfar. Falta tempo, saco e alguém pra ensinar. Mas, sinceramente, acho que tem duas coisas que você deveria aprender a fazer antes de tocar guitarra: jogar bola e apreciar o basquetebol em sua essência!
abs, fábio

Anônimo disse...

Meu bom amigo Fábio, os gramados já dominei com a maestria dos românticos da bola. Se tivesse tido o trabalho de contar os meus gols, de mil já teria passado também. Quanto ao basquete, admirei-o quando ele estava no auge. Ver Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird jogarem juntos é adentrar os portões do paraíso e ser abençoado pelos deuses da bola laranja. Depois disso... bom, quem viu Jordan não precisa ver mais nada. Deve ser a mesma sensação de quem viu Pelé
abs