quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Alemães riem

Se joga, filha
Uma das grandes descobertas dessa maratona do Oscar que vai chegando ao fim (para mim, só falta um filme!) é que o alemão tem senso de humor. Sim, é verdade. Eu também não sabia. Eles têm até uma expressão para isso: Sinn für Humor. E é isso que presenciamos em "Toni Erdmann". 

O filme de Maren Ade é o indicado alemão e, dizem, o grande favorito ao careca dourado de filme estrangeiro. Mas ao contrário dos tradicionais dramas de guerra ou que refletem sobre a Alemanha dividida pelo muro de Berlim que nos acostumamos a ver, "Toni Erdman" é uma comédia. Isso mesmo. Essa palavra existe também em alemão: Komödie. 

O enredo de "Toni Erdman" pode ser resumido num tweet: pai malucão e amoroso tenta se reconectar com a filha careta que está desperdiçando a vida só trabalhando (Deu 135 caracteres). Dá até para completar com cinco emojis. 

A filha se chama Ines Conradi (Sandra Hüller). Ela vive em Bucareste, na Romênia, onde trabalha numa firma de consultoria especializada em organizar passaralhos em empresas pelo mundo sob a pecha de "modernizar". Enfim, conhecemos esse discurso. 

É uma função ingrata e logo o pai Winfried (Peter Simonischek) percebe que a filha não é realmente feliz ali pendurada no celular e tendo uma vida workaholic e artificial, sem aproveitar as coisas boas da vida. Pior, bajulando potenciais clientes com comprinhas em shoppings só para fechar um negócio. 

É quando ele resolve agir. Vai para Bucareste, se disfarça como o coach picareta Toni Erdmann e começa a bagunçar as estruturas certinhas da filha, mexer com seus amigos, seus colegas de trabalho, seu amante e, o pior de tudo, forçá-la a cantar Whitney Houston na frente de um monte de romenos desconhecidos. Mandar um "Greatest love of all" foi pesado. Pode até ter sido didático, mas foi pesado. Parecia um dos treinamentos duros do senhor Myiagi com o Daniel San em "Karatê Kid". 

Mas o objetivo de Erdmann/Winfried é não apenas se reconectar, mas humanizar a filha. Mostrar que a vida é mais do que o trabalho.  E com isso eles vão vivendo uma série de situações. Algumas engraçadas, outras bizarras e outras meio nada a ver que eu imagino que sejam engraçadas, mas devem ser mais a cara de um humor típico alemão (deutsche stimmung) e aí eu não peguei. Mas nada supera a impagável cena do aniversário de Ines, que acaba sendo uma metáfora para a desconstrução absoluta do seu personagem e ponto de inflexão psicológico para ela. 

"Toni Erdmann" é um pouco longo. São quase três horas, mas não chega a ser cansativo. Para uma comédia alemã (eu não consigo deixar de achar estranho juntar estas duas palavras), até que se sai relativamente bem no teste da Corneta. Ganhará uma nota 7

Indicação ao careca dourado: melhor filme estrangeiro

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