segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Diário de guerra do Rio-2016 - 23º dia

Samba na estação de trem/Marcelo Alves
Diário de guerra da Olimpíada do Hell de Janeiro

23° dia

Brasileiro adora reclamar que, às vezes, é estereotipado por gringo. Além disso, a chiadeira sempre é geral quando um estrangeiro fala mal, critica - vide a "polêmica" do biscoito Globo, como se todo mundo fosse obrigado a gostar dele - ou faz alguma brincadeira. Mas quando tem a oportunidade de mudar a imagem do estereótipo, o que ele faz? Reforça-os, é claro.

É a única explicação que eu tenho para a desagradável e insistente presença de escolas de samba em equipamentos olimpicos. É um tal de mulata rebolando no Parque Aquático, escola de samba desfilando no Engenhão... Até o trem tinha lá o seu batuque. Ainda veremos algum grupo dançando o chá-chá-chá enquanto o Bolt corre na pista.

E os estrangeiros encantados, é claro. Afinal é exótico. Eu também ficaria encantado com um ritual viking. Desde que eu não fosse sacrificado.

Ok, a poluição sonora não é uma exclusividade da Olimpíada do Rio. Vocês não têm noção de como o vôlei de praia era terrivelmente chato em Londres. Mas bem que os Jogos podiam ser mais silenciosos e seus sons ficarem mais concentrados no que realmente importa. A reação da torcida, a vibração do atleta e informações relevantes. Afinal, é competição esportiva. Não é circo.

De resto, a galera podia ser menos chata quando os Simpsons fizerem uma nova sátira do Brasil no futuro. Porque tudo aquilo acontece mesmo. Macacos na rua (eu já vi vários micos), povo alegre, samba e futebol. E isso não é defeito. É característica. Ainda que eu ache samba uma porcaria.

Nunca antes na história da minha vida eu havia feito atletismo. Perdi a virgindade hoje numa ida ao Engenhão, que obviamente estava vazio, como é tradição do estádio. Lá, eu tive pena dos atletas.

Zona mista do atletismo/Marcelo Alves
Imagine que você corre, salta, arremessa, faz tudo dentro do seu limite. Até além do seu limite. Tudo para conseguir sua melhor marca e entrar para a história naquele que é o esporte mais nobre e mais importante da Olimpíada. Depois disso tudo você passa por longas entrevistas para a TV no cercadinho VIP. Mais longas entrevistas para a AFP, AP e Reuters no cercadinho das agências internacionais.

Por fim, você passa por um corredor polonês labiríntico de jornalistas com gente que vai desde o cara fodão prêmio Pulitzer do "New York Times" até o jovem repórter da "Gazeta de Quixeramobim"... Não é fácil.

Deu pena ver a polonesa Anita (chamemos apenas pelo primeiro nome, pois seu sobrenome tem um monte de encontros consonantais) exausta e tendo que sentar numa cadeira para falar com pelo menos 10 jornalistas poloneses. Ela havia acabado de bater o recorde mundial do arremesso de martelo, ganhando o troféu Thor 2016. Mas ainda tinha que falar com os coleguinhas da Polska Press.

O atletismo é muito roots. Muito desgastante para todos. Os atletas principalmente. E belo. Incrivelmente belo. Tentarei entender da próxima vez que um atleta não quiser dar uma entrevista na zona mais mista de toda a Olimpíada.

Faltam seis dias para o fim. #cornetaonfire

PS: neste post, as imagens do dia. A enorme e labiríntica zona mista do atletismo e o samba onipresente na Olimpíada. Até a moça do "Posso Ajudar" arriscou uns passos.

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