sábado, 6 de agosto de 2016

Diário de guerra do Rio-2016 - 12º dia

A vida não é fácil/Marcelo Alves
Diário de guerra da Olimpíada do Hell de Janeiro:

12° dia

Em menos de uma semana de Parque Olímpico eu já tive tantos problemas técnicos e de saúde que se eu não reagir logo serei apelidado de delegação da Austrália. Mas sobreviver é preciso.

Aliás, por um momento eu pensei que tinha mesmo segurado na mão de Odin e ido embora. Foi quando eu entrei no ônibus e ele estava mais lotado que o Charitas-Gávea na hora do rush. Só que ele estava lotado de deusas nórdicas. Valquírias saídas de óperas de Wagner. Pensei: "Morri e fui para o Valhalla". Mas era apenas (e aparentemente) um grupo de turistas que desembarcaram na porta de um hotel.

Neste período de cobertura já deu para notar algumas diferenças em relação aos coleguinhas de outros países. Por exemplo, só eu e meus colegas do Hell de Janeiro sentimos frio nos ônibus gelados rumo ao fim do mundo (A Olimpíada, convenhamos, acontece no fim do mundo). Os europeus ficam de boa de bermuda como se estivessem na praia.

Outra diferença está no volume dos pratos no restaurante. Como o preço de R$ 98 temers por quilo foi certamente feito baseado no euro, o prato dos coleguinhas do primeiro mundo é sempre mais ABASTADO. Tem alguns daquele tipo que minha avó chamaria de "prato de peão".

O que eu não consigo entender é como alguém escolhe almoçar essa combinação exótica: mamão, abacaxi e batata frita. Tudo junto e misturado. Mas não quis perguntar para a pessoa o motivo deste prato, digamos, diferente.

Aliás, um jornalista espanhol perguntou se tinha alguma coisa de graça para a imprensa no refeitório. Tive que acabar com as ilusões dele e dizer que vivíamos num país capitalista. Já é muito eles darem camisinha de graça.

O primeiro dia oficial da Olimpíada é tipo o dia do N'Sync e Sandy e Júnior no Rock in Rio. Café com leite e sem relevância. Por exemplo, eu não sei por que insistem em fazer festa de abertura. Um negocio chato, longo e que não dá medalha. Só serve para gastar dinheiro. Festas de abertura de Olimpíada, Copa do Mundo ou Jogos Escolares deveriam ser abolidas.

Não vi a abertura desta sexta-feira. Estava trabalhando. Comendo poeira de versões gourmetizadas do 410 que saiam da Vila Olímpica levando atletas para o Maracanã. Não senti falta. Mas acabei chegando em casa a tempo de ouvir na TV da sala o Galvão berrando: "Como é BOM ser brasileiro". Deu vontade de vomitar. O nacionalismo é uma das maiores pragas da humanidade.

Neste sábado é que começa a Olimpíada de verdade. Oremos para tudo dar certo.

Faltam 17 dias para o fim #cornetaonfire

PS: a foto abaixo é a prova de que a imprensa está sofrendo no refeitório. R$ 51 por isso? (Mas a batata frita estava boa).

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