quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Diário de guerra do Rio-2016 - 18º dia

Ver, um conceito relativo/Marcelo Alves
Diário de guerra da Olimpíada do Hell de Janeiro

18º dia

O jornalismo tem alguns mitos que vão se desfazendo no dia a dia. Por exemplo, sempre achei que as convocações da seleção brasileira eram um evento solene com o treinador anunciando o nome de cada um como se o exército tivesse te chamando para a guerra. Também achava que os críticos de shows assistiam às apresentações em lugares privilegiados para melhor avaliarem o espetáculo.

Tudo mito. A convocação da seleção é um papel distribuído por um assessor de imprensa ou o nome dos atletas jogados no telão. Depois, o técnico só dá coletiva. E os shows, bem, é provável que você já tenha visto algum ao lado de um jornalista trabalhando.

A Olimpíada também tem seus mitos que caem por terra. Especialmente na natação. Ah, você vê todos aqueles nadadores se perto e em posição privilegiada. Você fala com Michael Phelps... Quem dera.

As provas de natação são uma loucura. Tudo acontece ao mesmo tempo e é com o tempo cronometrado nos seus segundos. Portanto, se a quinta bateria dos 200m borboleta estiver marcada para às 14h53min, ela acontecerá exatamente às 14h53min. E logo depois, às 15h02min tem a sexta bateria e por aí vai.

Assim, quando você vê uma prova em que tem um atleta que te interessa entrevistar, você se dirige para a zona (em todos os sentidos) mista e espera ele passar. Nesse meio tempo entre ele sair da piscina, falar com as TVs (sempre a prioridade que fica num cercadinho VIP), falar com as principais agências internacionais e chegar até você (a imprensa escrita é sempre a última na cadeia alimentar), você já perdeu umas cinco provas. Ou as viu pela TV da zona mista igual ao espectador comum. Sim, a maioria das provas de natação nós vemos igual ao amigo internauta: da telinha da TV.

Mas aí um mito como Katie Ledecky, que pulveriza marcas como quem brinca de Barbie, passa na zona mista. Você é um privilegiado. Vai falar com uma campeã olímpica. Uma mulher fantástica dona de três medalhas de ouro e uma de prata no Rio...

É, não é bem assim.

Você quer falar com Katie no momento em que o planeta quer falar com Katie. E é claro que a imprensa americana será privilegiada. Aos demais que não conseguem sequer esticar o gravador perto da nadadora campeã resta a situação sui generis de gravar a declaração dela que está sendo reproduzida nos alto-falantes da zona mista através de um microfone. Encosta o gravador na caixa de som e sai com sua "entrevista" com Katie Ledecky. A entrevista de alguém que não sabe que você existe.

Mas no fim você viu relativamente de perto Katie e Phelps nadarem e fazerem história. E não deixa de ser um privilégio. Só não tem nenhum glamour. Afinal, quando você sai do Parque Aquático às 2h, você está indicando que é um adepto do #Muricystyle. #Aquiétrabalho.

Este diário estava sumido porque a natação anda bem pesada. Sobre ela, alguns comentários:

1. Michael Phelps é um animal sobrenatural. Não é apenas o maior nadador da história. É o maior atleta da história. Nunca mais alguém sequer igualará as suas marcas. É um privilégio vê-lo nadar. 

2. O ano é das mulheres na piscina. Além de Katie Ledecky, a húngara Katinka Hosszu e a sueca Sarah Sjöström entraram para a história com ouros e recordes. Só Phelps brilhou mais do que elas. Pelo motivo óbvio listado no item 1. 

3. O ano também é de outra coisa na piscina, mas eu não posso falar ainda porque essa matéria ainda está em fase de produção. 

4. Meu maior desejo olímpico é nadar nessa piscina. Bater um 400m medley e sair feliz. Mas dificilmente realizarei esse sonho. 

5. Yulia Efimova, suas colegas não gostam de você, mas eu gosto. Fiquei realmente com pena, ao ver a sua cara contrita e sua expressão de quem sofria um bullying imerecido. Foi a medalha de prata mais pesada e dolorosa. Força!

PS: Abaixo a tela da TV onde os jornalistas vêem as provas e a caixa de sol para pegar as entrevistas mais concorridas. Ao lado da TV, papeis penduradas na parede com o resultado das provas.

Faltam 11 dias para o fim #cornetaonfire

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