terça-feira, 5 de julho de 2016

Paraty Facts

Contemplando Paraty/Marcelo Alves
A Corneta Travel pegou cinco horas de busão para trazer a vocês o que só ela viu. Preparamos para ti um post especial sobre Paraty (e eu prometo que este será o único trocadilho infame deste texto).
Ahh Paraty, a cidade histórica, a terra da Flip... Bem, mas deixemos para que nosso SAGAZ e observador viajante fale sobre esta cidade em tópicos absolutamente irrelevantes.
1- Para começo de conversa a rodoviária sabota essa cidade imprimindo bilhetes com destino a Parati, causando uma crise de consciência e ortografia no ser humano de primeira viagem. Estarei eu indo para a bela cidade da Costa Verde vizinha menos famosa de Angra dos Reis ou para um carro da Volkswagen? Mas basta avistar a placa Welcome to Paraty para sabermos que estamos no lugar certo. 
2- Se você andou pelo cidade durante alguns dias e não torceu o pé, não caiu e nem mesmo deu uma leve escorregadinha, considere-se vitorioso. Porque é inevitável andar SAMBANDO pelas ruas tomadas de pedras, pedrinhas e pedronas do centro histórico. 
3- É claro que essa observação só vale para haoles. Os locais LÊEM as calçadas como o Neo, de "Matrix", em seu estágio mais evoluído. E se deslocam por elas como ninjas em telhados chineses. 
4- Paraty tem muita farmácia. E tem muita sorveteria. Se juntarmos o consumo de gordura hidrogenada e chocolates com a quantidade de farmácias, pelo exercício de lógica, diria que a venda de Imosec é um hit. 
5- Por falar em farmácias, não sei por que os principais anúncios no lado de fora das drogarias faziam referências à venda de um genérico do Viagra em promoção. Será que tem a ver com velhinhos escritores visitando a feira? 
6- O centro histórico tem zilhões de casinhas coloniais branquinhas com detalhes em azul, amarelo, verde e marrom que tentamos admirar enquanto estamos nos equilibrando nas pedras. 
7- Paraty, vocês sabem, é a terra da cachaça. É entrar numa daquelas lojas e já sentir a vista meio turva com a quantidade de mé envolvido na cena. Obviamente não experimentei nenhuma, pois se assim fizesse meu jornalismo malemolente transformar-se-ia em jornalismo gonzo. 
8- Mas de comer eu não me furto. Logo, ali pertinho da Tenda dos Autores tinha um pastel de 30cm que é um escândalo de bom. O de carne com queijo com a carne moída grudada no queijo como moscas desesperadas em teias de aranha era tão delicioso que eu lamentei profundamente nunca ter encontrado na vida outro que tivesse tido a mesma ideia.
Melhor sorvete da cidade/Marcelo Alves
9- "Finlandês". Esse é O SORVETE de Paraty. Experimentei seis sabores, entre eles o inédito (na minha boca, é claro), chocolate branco com brownie. Mas tem muitos outros bons. Ganhou 2,5 estrelinhas do Guia Marcelin Ice Cream. 
10- Restaurantes: ou você é atendido como a rainha Elizabeth no Palácio de Buckingham ou como Michel Temer numa reunião de petistas. Não tem meio termo. 
11- O orçamento não permitia muitas estripulias (não esqueçam, a Corneta Travel ainda não tem patrocínio), mas me fizeram ir num tal de tailandês que eu torci a cara inicialmente como torço a cara para qualquer culinária do antigo muro de Berlim para lá. Mas o espírito de viajante que gosta de experimentar tudo o que tem de destaque na área (para cornetar, é claro), foi mais forte. E não é que eu gostei muito da comida? Inspirado pelos vídeos de heavy metal, pedi um pad thai. Bonito não era, mas era gostoso.
12- E fechando o bloco comida direi apenas mais cinco palavras: doce de leite com brigadeiro. 
13- Faz frio, bota o casaco. Faz calor, tira o casaco. Faz frio, veste a calça. Faz calor, coloca a bermuda. O tempo em Paraty nessa época é mais instável que geminiano com ascendência em Áries. 
14- Tem muito cachorro em Paraty (chineses iam amar). Tem muito cavalo em Paraty (quase fui atropelado por um). Logo, desviar-se da bosta enquanto você tenta se equilibrar nas pedras é uma arte. Convém estar com o olfato em dia.
15- As mesas. Não fui o loko das mesas, mas aqui está um resumo do que vi:
A) Abertura muito bonita com o filme do Walter Carvalho
B) Adriana Calcanhoto lendo um belo texto de Ana Cristina César
C) Silviano Santiago não apareceu
D) Juliana Frank quis aparecer tanto que tirou parte da roupa, se mexeu, fez gracinhas. Parecia uma adolescente em busca de atenção. Foi irritante e fui embora quando ela chamou parte da anatomia feminina utilizando um termo chulo só para dizer que é hetero até essa mesma parte sangrar. 
E) Essa mesa, aliás, não funcionou. Foi desconexa, rolou falha de comunicação. E muita gente foi embora por causa dos momentos deselegantes de Juliana, que não se portou como uma devida Juliana (toda Juliana que eu conheço varia entre ser gente boa e maravilhosa). 
F) Gregório Duvivier, Tati Bernardi e Ricardo Araújo Pereira, por outro lado, fizeram um debate muito engraçado. O português roubou a cena com tiradas inteligentes e espirituosas. 
G) Benjamin Moser e Heloísa Buarque de Holanda fizerem um debate de muita classe traçando paralelos entre Clarice Lispector e Ana Cristina César, a homenageada da Flip. Foi educativo para um leigo na obra de ambas como eu. 
H) Peguei a meia hora final de Arthur Japin falando de Santos Dumont e lamentei muito não ter visto a mesa na íntegra. 
I) Que mulher incrível é Svetlana Alexievitch. A prêmio Nobel de literatura me fez chorar com seus relatos e sua sensibilidade sobre a guerra. E me fez comprar dois dos seus livros. Ou seja, vendeu bem o peixe dela. Seria capaz de ouvi-la por mais dois dias em russo que não cansaria. Foi o momento mais emocionante dos que vi. 
Paraty, uma bela cidade/Marcelo Alves
16- A Flip, aliás, é realmente um evento incrível. Ver tanta gente falando sobre o processo criativo, contando histórias... Um aprendizado. Quero voltar todo ano. 
17- O prêmio de melhor trocadilho da cidade vai para a vendedora de Açaí, cujo estabelecimento se chama "Açaideira". Tum dum tsss. E ela ainda tem programa de fidelidade: a cada seis açaís, ganhe um de graça. É muito empreendedorismo deste Brasil. 
18- Sorte da viagem: entrar numa igreja no exato instante em que uma mulher afinava um piano. Daqueles momentos musicais que você guarda. 
19- Saldo final: 
Voltaria para Paraty? Com certeza. Agora que finalmente abri a porteira do conhecimento espero voltar muitas vezes em muitas Flips. 
Moraria na cidade? Aí acho que não, porque se equilibrar naquelas pedras do centro histórico cansa demais depois de um tempo. Mas se eu me acostumasse....

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