sexta-feira, 29 de julho de 2016

Diário de guerra do Rio-2016 - 6º dia

Kobe em Londres/Marcelo Alves
Diário de guerra da Olimpíada do Hell de Janeiro

6º dia

Hoje começou a trégua olímpica. É aquele momento em que, a pedido do COI, a ONU vira para o mundo e diz: "Crianças, não briguem. Cadê o espírito do Barão de Coubertin?". Você sentiu o mundo menos tenso hoje? Menos violência? Você pode achar que é por causa da trégua olímpica.

A trégua surgiu no século VIII A.C., na Grécia antiga. Era chamada Ekecheiria, ou dar as mãos. Naquela época, todo mundo largava as armas, tirava a roupa e ia competir nas Olimpíadas em paz. Sim, é isso mesmo. A Olimpíada já foi um grande evento naturista. Sim, e já existia a hoje chamada luta greco-romana. Aliás, eles não apenas lutavam pelados, mas com o corpo envolto por azeite e areia. Não devia ser nada agradável.

Enfim, é fato que a trégua, o sonho de paz ao menos por dois meses a cada quatro anos, sempre foi um mito olímpico. Não apenas porque os Jogos já tiveram dois atentados dos anos 70 para cá, como é impossível mapear o planeta inteiro para saber se todos estão cumprindo as ordens da ONU. Ou você imaginava agentes secretos interrompendo uma briga de bar na Suazilândia em nome da trégua olímpica? Mas o sonho é como "Imagine", de John Lennon: uma bela utopia.

Há duas semanas eu estive em um encontro com uma jornalista magnífica, de uma sabedoria ímpar e várias Olimpíadas nas costas. Em dado momento, alguém perguntou qual era a maior preocupação dela nos Jogos. A resposta: "Transporte. Não vai dar certo".

Placa indicando os caminhos/Marcelo Alves
Ao baixar o aplicativo dos ônibus, percebi que será realmente desafiador se locomover. Mas inicialmente achei que fosse tudo fruto do meu mal humor natural com a cidade. Perguntei então a opinião de um colega isento, mais jovem e menos intolerante, cujo nome omitirei porque a Corneta não revela suas fontes. Resposta: "Cara, ele é confuso mesmo. Não mapeia igual ao Google".

Para completar ainda tem a sopa de letrinhas, que levará um tempo para a gente se acostumar. Mas ainda não dá para dizer que não dará certo. No fim, pode ir tudo bem. Só sei que se a parte do transporte estivesse em "Divertida Mente" não seria exatamente banhada pela Alegria.

Hoje arrumei duas horas de vida no videogame olímpico (provavelmente as últimas até o fim de agosto) para ver "Jason Bourne". Parte do filme se passa numa Grécia sem nenhuma trégua olímpica. É simplesmente maravilhoso. Paul Grengrass fez tudo tão perfeito que devia organizar a Olimpíada.

Quartos inabitáveis, bate-boca com Eduardo Paes, jornalista quase assaltada por travestis e agora incêndio no prédio. Tudo acontece com a Austrália nestes Jogos. Alguém poderia indicar um pai de santo aos aussies?

As fotos deste post são de dois momentos. Um deles, uma lembrança do Facebook mostrando que há quatro anos eu estava tentando ouvir o Kobe Bryant após a estreia dos Estados Unidos no basquete masculino em Londres. Há quem ache que Olimpíada é fácil. Nada. Ela muitas vezes é a arte de construir matérias enormes com duas frases de um cara fodão (nessa coletiva aí ele só respondeu quatro perguntas).

A segunda mostra o metrô do Rio já decorado com orientações fundamentais para turistas e locais. Tratemos de decorar e rezar. Locomover-se é preciso.

Faltam 23 dias para o fim #cornetaonfire

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