sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Corneta Rock in Rio - terceiro dia

System of a Down no Rock in Rio/Marcelo Alves
A Corneta chega ao terceiro dia do Rock in Hell. Apesar do calor senegalês que atingiu a City of Rock, lá estávamos com o nosso pretinho básico para conferir bandas de hard rock, metal e classic rock. Definitivamente foi o melhor dia do festival até aqui.
Halestorm - A banda tem uma vocalista mulher, o que é bem raro no mundo do hard rock. Lzzy Hale tem carisma, toca guitarra, mostra a língua, faz chifrinho (Dio curtiu) e grita "Screaaaamm for me Rio" (Bruce Dickinson curtiu). Ela também fez uma média dizendo que "o Rock in Rio é o melhor festival de todos". Ou Lzzy fala isso para todos ou está cavando um lugar no palco mundo em 2017.
O guitarrista Joe Hottinger tem um anel de caveira estiloso e gosta de fazer um malabarismo com os dedos e trabalhar ali entre a 14ª e a 17ª casas da guitarra só para mostrar que é fodão e me causar uma invejinha. Já o baterista e irmãozinho de Lzzy, Arejay Hale, parece que foi ao show depois de surfar na Prainha. Ele é presepeiro e gosta de ficar em pé igual ao Lars Ulrich.
Mas o Halestorm fez um bom show e tinha seus fãs à frente do Sunset. Entre eles muitas mulheres. Talvez Lzzy seja uma inspiração. Ela só precisa parar de trocar o dia pela noite. Toda hora falava em "tonight" e o relógio ainda nem marcava 17h.
Lamb of God - Embora se chame CORDEIRO DE DEUS, a banda é encapetada. Seu vocalista, Randy Blythe, é especialista em balançar os cabelos e cantar de forma GUTURAL. Também não faltam palavrões a ele. Logo, não se engane. Não é uma banda cristã.
O Lamb of God tem um guitarrista e um baixista cabeludos e com a maior pinta de profetas. Não dá para entender nada que a banda canta, mas o som é maneiro.
CPM 22 - Ainda no palco a banda de "punk-rock" brasileira reconheceu que estava TENSA e com medo de ser o Glória ou o CARLINHOS BROWN desta edição do Rock in Hell e tomar vaias e copos d'água na cabeça. "A gente estava apreensivo", disse o vocalista Badauí. Mas vejam só como é a vida. O CPM 22 chegou logo de cara quebrando tudo, mandou uma sequência de hits acumulados em duas décadas de carreira e quando chegou em "Um minuto para o fim do mundo", Badauí se deu ao luxo de deixar a galera cantar boa parte da canção.
Jogo ganho, o vocalista foi pra galera, disse que estava emocionado, não sabia o que dizer e continuou tocando deixando o povo feliz. Assim, o CPM 22 ganha o Prêmio Pato Fu de banda que conseguiu dobrar uma galera supostamente resistente.
Deftones - O Deftones é outra banda que teve muitos fãs na City of Rock. Muitos mesmo. Eles devem ser bons, mas eu devo ter uma deficiência auditiva, porque eu não conseguia diferenciar uma música da outra. Quase todas têm a mesma pegada na guitarra, quase todas tem aquela bateria tocada do mesmo jeito, em quase todas o vocalista canta como se estivesse se derretendo por dentro. Deve ser um Chitãozinho & Xororó style. Só faltou o Deftones cantar "Evidências" mesmo.
Hollywood Vampires - Os Vampires têm lendas do rock como Alice Cooper, Joe Perry e Duff McKeagan, mas tinha uma galera, uma galera mesmo (mulheres em sua maioria. Esse cara e bom), LOUCA para ver o Johnny Depp. Convenhamos, Depp é um excelente ator, mas como guitarrista ele ainda está no Intermediário 2 do curso. Os que seguram mesmo a peteca são Perry e outro guitarrista que sequer foi apresentado, enquanto Depp joga pra galera e imita o Keith Richards, que parece o Jack Sparrow, que se assemelha ao Johnny Depp, que.....
Mas como a banda é boa e este é um projeto displicente de amigos que estão se divertindo em meio a bebedeiras, tudo dá certo e Depp age como o Odvan jogando ao lado do Mauro Galvão na antiga zaga do Vasco.
O Hollywood Vampires é uma banda de covers de clássicos do rock (tem "My generation", "Another brick in the wall", "Brown Sugar"...). E com músicos fodas (o baterista Matt Sorum não está inserido neste contexto) e consagrados, não tinha como esse show ser ruim. O que eu não esperava e que o espetáculo comandado por Tia Alice fosse tão excelente e divertido.
Alice tem 67 anos, mas nem parece. Continua ali cantando como um garoto canções como "School's out". Sempre segurando o seu bastão e comandando a festa que em um dado momento teve quatro, eu disse, QUATRO, guitarristas com a entrada do eternamente presente neste Rock in Hell Andreas Kisser, e dois bateristas. E ainda teve uma palhinha de Lzzy, a vocalista do Halestorm, cantando e tocando "Whole Lotta Love". Foi uma grande celebração do rock. Eu quase subi no palco para tocar também. Afinal, eu estou no intermediário 3.
Queens of the Stone Age - Graças aos deuses do rock todos os integrantes estavam vestidos dessa vez. Catorze anos depois, o Queens of the Stone Age é obviamente uma banda melhor e com mais repertório do que naquele Rock in Hell de 2001. O vocalista Josh Homme gosta de cantar numa penumbra. Timidez ou estilo? Não sabemos.
O QOTSA foi a primeira GRANDE banda do dia. Aquela azeitada e com boas canções praticamente do início ao fim. Fodaço.
System of a Down - A cada show do System of a Down eu me sinto numa igreja. Serj Tankian é o meu pastor e nada me faltará. Deve ser porque o vocalista da banda americana segura o microfone com aquele jeito de pastor e levanta o outro braço como se estivesse pregando. Serj ainda tem aquele jeito de cantar meio declamado num ZÉ RAMALHO style alternado com explosões de fúria. O pastor perfeito.
O SOAD é uma banda só com descendentes de armênios. O som é um hard rock que por vezes desemboca no metal e com dancinhas que o faz pensar que está num casamento típico da.... Armênia talvez. Ou uma festa turca, ou indiana, enfim, qualquer celebração que tenha aquela dancinha com pulinhos, os braços pra cima e o corpo girando.
Serj tem a maior vibe "estou curtindo muito isso aqui sem estresse". Mas a voz pareceu falhar em alguns momentos. No caso de Daron Malakian sempre fico impressionado com o domínio que ele tem da guitarra tocando coisas complexas facilmente, sem olhar e emendando as 27 músicas do set list praticamente sem parar. Vai ser confiante assim lá na Armênia.
Confirmando suspeitas que tinha desde cedo, 80% das pessoas estavam lá para ver a banda. E cantar a plenos pulmões como se não houvesse amanhã a maioria das músicas. "Aerials", por exemplo, é o "Fear of the dark" do System e começa com um coro eterno de "Õoooo". É bonito.
A banda também tem uma canção vegana, em que se repete a palavra banana eternamente. E uma canção de "confraternização", em que se repete a palavra pogo, a famosa rodinha dos shows de rock, até o dia seguinte. Para não falar na música de auto-ajuda ("Life is a waterfall/We're one in the river/And one again after the fall") e na letra contra os bonzinhos ("angels deserve to die").
São canções como "BYOB", "Chop Suey", "Hypnotize", "Lonely Day", "Question" e "Toxicity" que soam como canto gregoriano para os fiéis, quer dizer, os fãs. Voltem sempre, viu, que foi lindo. Foi incrível. Foi épico.

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