sábado, 19 de setembro de 2015

Corneta Rock in Rio - primeiro dia

Adam Lambert mandou bem/Marcelo Alves
Corneta é vida, corneta é música, corneta é arte. Muitos não se lembram, outros sequer sabiam, mas a prática da Corneta surgiu num Rock in Hell. Sendo assim, temos que manter a tradição de fazer análises MALEMOLENTES sobre essa Disneylândia da música.
O primeiro dia foi um show de covers. Mais parecia um KARAOKÊ do Bazar da Cantoria. E tudo com uma penca de fãs do Queen com camisetas, coroas e bigodinhos. Mas vamos ao que interessa. A análise de desempenho de cada um.
Ira! + Rappin Hood + Toni Tornado - Convenhamos, essa é uma mistura exótica como o ótimo palco Sunset exige. E não é que deu certo? Nazi abandonou as costeletas de Wolverine, mas canta com aquela voz de vilão de filme B desafinado. Edgar Scandurra exibia um bigodinho que só podia ser homenagem ao Freddie Mercury e tocava guitarra com a costumeira perfeição.
O Ira! tem canções muito legais como "Envelheço na cidade", mas também é capaz de versos veganos/ambientais do tipo "Como eu sou um girassol/você é o meu sol". Mas faz um show divertido. E as entradas de Rappin Hood e Toni Tornado trouxeram mais MALEMOLÊNCIA, diversidade e militância ao show.
Se você é da minha geração ou mais jovem, devo dizer: não gente, Toni Tornado não é só ator da Globo. Ele sempre teve uma carreira de cantor. Toni entrou com pinta de JAMES BROWN e pedindo ao povo "CLAP YOUR HANDS". Lembrou de como eram bons os anos 70 e estava visivelmente feliz em dividir o palco com aquela galera e o filho, Lincoln Tornado, vulgo Furacãozinho, responsável pelos passinhos meio Michael Jackson, meio James Brown em "BR-3". Toni chegou lá, exibiu seu soul cheio de onomatopeias e no fim, todos ficaram satisfeitos, banda e público. Como disse insistentemente o cantor, "Valeu, Dom".
Lenine + Projeto Carbono - Lenine tem uma música que se chama "Paciência". E é preciso exercê-la quando se vê um show dele. No outro Rock in Hell, Lenine tocou com o Gogol Bordello e ai ficou bom porque o Gogol tem pilhas Duracell acopladas no corpo. Dessa vez ele tocou com o Projeto Carbono, que consiste numa galera, mas numa galera, enfim tinha umas 75 pessoas no palco. Lenine pode até ser um artista de qualidade, mas eu bocejei, amigos. Eu bocejei, Brasil. Ganha até aqui o troféu João Gilberto de chatice.
Homenagem a Cássia Eller - Não fossem pelas ausências de Marcelo Fromer por motivos óbvios e extraterrenos, e do Charles Gavin, por motivos desconhecidos, o Rock in Hell teria reunido a formação original inteira dos Titãs. Se uma galera tocou no palco mundo, Nando Reis e Arnaldo Antunes foram homenagear a Cássia Eller. O primeiro cantou músicas dele, o segundo pareceu ter dificuldades em lidar com algo que não fosse poesia concreta. Mas irregularidades são normais neste tipo de show. Zélia Duncan foi muito bem. Não se pode dizer o mesmo de Mart'nália.
Rock in Rio 30 anos - Como não imaginar que essa autoadulação do Rock in Hell vai virar DVD? O show em que o Andreas Kisser tocou com quem aparecesse no palco, que tinha Ney Matogrosso dando seus PASSINHOS DE LAGARTIXA. Tivemos bons momentos como os Titãs cantando "Polícia" e "Bichos escrotos", Skank e Erasmo Carlos, Frejat tocando "Pro dia nascer feliz", o Paralamas do Sucesso mandando "Óculos".
Por outro lado, bem, eu imaginava que só havia uma chance de eu ver a Ivete Sangalo ao vivo: chantagem emocional de uma mulher por quem eu estivesse muito apaixonado. Até que o Medina resolveu fazer uma pegadinha do Mallandro comigo. É assim que você trata um cliente antigo né?
O combo Ivete + Jota Quest foi como um chute no saco. Mas podia piorar. Quando o Dinho começou a cantar "Ratamahatta", do Sepultura, eu só pensava em uma coisa: Isso não dá processo não?
The Script - Taí uma das bandas que estava fora do... script do festival. Dentro da cota de 10% de novidade do Medina, o grupo é irlandês. E assim descobrimos que a safra da Irlanda já foi melhor.
O vocalista Danny O'Donoghue estava sedento por interagir com a plateia. Foi na galera, filmou, beijou, abraçou, fotografou, twittou, postou no face... mas, gente, falta testosterona ao The Script. Parece uma boy band, parece um Matchbox 20, parece um GOO GOO DOLLS. Tanto é que a galera estava dispersa e a uns dois metros de mim um cara começou a fazer uns abdominais (é sério!). Quando alguém faz abdominais no seu show é porque tem algo errado.
Nem a música que diz que "a energia nunca morre", uma ironia com a Light e a Ampla, é claro, vingou. Para completar, os caras ainda vieram com os altamente condenáveis "elementos de brasilidade" como bandeira e camisas 7 a 1. A Corneta reprovou.
One Republic - Esta certamente não é uma banda PLATÔNICA, ainda que tenha a República no nome. Foi o show mais esquizofrênico da night. Teve momentos que a banda soava como o Coldplay, teve momentos que ela soava como o Maroon 5 e teve momentos que até parecia uma banda legal.
Ryan Tedder ganharia o prêmio de rei do falsete se não soubéssemos que o A-Ha vai tocar no Rock in Hell. Ele pareceu emocionado por estar no festival, mas a melhor parte do show foi o momento Paco de Lucía do guitarrista.
Queen + Adam Lambert - O Queen, vocês sabem, é uma espécie de Capital Inicial da Inglaterra. Cheio de hits, mas muitos não levam a sério. No resto do mundo, no entanto, os caras são idolatrados. O problema é que Freddie Mercury já morreu, Paul Rodgers não está mais ai, e Roger Taylor, vulgo Papai Noel, e Brian May, resolveram recrutar um garoto num reality show.
Pois bem, e não é que deu certo? Adam Lambert chegou cheio de glitter, lantejoulas, leque, sofazinho LILÁS, salto alto, microfone DOURADO e uma COROA para dar um tapa na cara da Corneta. Apesar do seu jeitão de George Michael jovem, o cara afastou toda a minha desconfiança.
Se Paul Rodgers tinha mais cancha e é melhor, Lambert é um bom vocalista, com personalidade, carisma e, digamos, o lado feminino super aflorado que o Queen sempre teve. E Lambert, que não é parente do Highlander Christopher Lambert, ainda ganhou o prêmio Beyoncé de troca de roupas da night.
O Queen tem hit a dar com o pau, e se garante tanto que o Brian May até burlou a segurança e levou o proibido pau de selfie para a City of Rock. Mas não precisava de insossos solos de bateria (sempre desnecessários) e de guitarra (neste caso só desnecessário). Rolou também momentos espíritas com Freddie Mercury surgindo em "Love of my life" (não gente, parem de se sentir em 85 e de chorar porque não tem nada a ver e está pegando mal) e no ÉPICO "Bohemian Rhapsody".
No geral, o resultado foi positivo e todos saíram felizes deste grande karaokê. O Queen, o Adam Lambert e a galera, a parte mais interessada da história.

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