sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As rosas murcharam

Axl estava irreconhecível no palco
Sentado com um olhar atônito e vazio diante do céu que já começava a clarear na Cidade do Rock, um amigo fã do Guns N’Roses me sussurra uma pergunta buscando um bálsamo que contrarie o que seus olhos acabaram de presenciar: “Foi ruim?”. Minha resposta foi com a sutileza de um javali: “Foi uma merda”.

Eu demorei a escrever sobre o show do Guns N’Roses. Aliás, eu nem iria fazer um post específico sobre um show. Pretendia apenas falar sobre o Rock in Rio como um todo (o que virá no próximo texto). Mas eu demorei porque ainda tentava entender o que eu vira na madrugada de segunda-feira, durante o encerramento do festival. O que aconteceu com Axl Rose? Como pode um cara como ele errar o assobio de “Patience”? Não ter fôlego para cantar “You could be mine” ou “Paradise City”? Como pode a banda errar tudo em “November Rain”?

Resolvi voltar no tempo. Mais precisamente até abril do ano passado, onde assinei um post aqui no blog com o título “A ressureição de Axl Rose”. Nele eu falava sobre o show do Guns N’Roses que fora realizado dias depois de um adiamento por causa da queda de parte do palco em uma chuva torrencial no Rio de Janeiro.

Ao reler o texto, recordo passagens como frases que eu colhi naquela noite em que Axl, claro, se atrasou muito (o show só começou 1h30m). Ali eu lembrava a frase de um fã que resumiu a essência daquele Guns N’Roses que renascia com os guitarristas DJ Asbha, Ron Bumblefoot e Richard Fortus, o baixista Tommy Stinson, o baterista Frank Ferrer e o velho parceiro que sobrava do velho Guns ao lado de Axl, o tecladista Dizzy Reed. Um fã perto de mim dizia: “Ele está cantando como nos discos. Parece que estou ouvindo os discos do Guns”.

Em outros trechos eu lembrava que o enterro artístico de Axl estava muito longe de acontecer e que o cantor apresentara uma surpreendente forma física e vocal, embora continuasse gordo. E uma banda afinada. E lembrava da tragédia do Rock in Rio de 2001, quando Axl errou tudo e mais um pouco. Assim como no Rock in Rio de 2011. Será que o problema está no festival capitaneado por Roberto Medina?

Eu considerei aquele show do Guns um dos melhores do ano passado da mesma forma que o que eu vi na segunda-feira pode ser descrito como uma das coisas mais constrangedoras em 15 anos de shows e mais alguns ouvindo esse tal de rock and roll.

Axl estava devagar, começou mal com “Chinese Democracy”, não se acertou com “Welcome to the jungle”. Cometeu bobagens em “Nightrain” e esteve apático em praticamente todo o set list previamente anunciado com 39 músicas, mas que mal passou de 20.

Tudo bem que ele estivesse receoso de tomar um tombo no palco molhado pela chuva que caía e por isso não dava aqueles conhecidos piques ali em cima. Mas a chuva não podia tê-lo impedido de cantar de uma forma minimamente decente. Isso não tem desculpa.

Axl já tinha começado o dia mal após a história de que perdeu o voo. Já no Brasil, não passou o som com a banda. Grupo este que embarcou na mediocridade de Axl para se mostrar irreconhecível em relação ao show de 2010. Como convencer os meus amigos que não estiveram na Apoteose em abril do ano passado, que DJ Ashba é um bom guitarrista e não uma caricatura do Slash? Impossível. A apatia tomou conta de todos.

Não vi as apresentações do Guns no Rock in Rio de 1991, quando a banda estava no auge e com sua formação mais clássica com Slash (guitarra), Duff McKeagan (baixo), Matt Sorum (bateria) e Gilby Clark (guitarra). Só tenho na mente três shows, justamente estes três últimos. Dois ruins e um bom. O que me faz pensar que o que eu vi no ano passado, na realidade, foi mais um canto do cisne do que uma ressureição.

Aos 49 anos, Axl parece ter acabado cedo para a música. Se for para ser desse jeito, Axl, é melhor você ir para casa e deixar apenas o seu legado de pelo menos três álbuns inesquecíveis: “Appetite for destruction” (1987), “Use your Illusion I” e “Use your Illusion II” (1991). As pistolas parecem não ter mais munição. Enquanto isso, as rosas murcharam.

Abaixo, cenas de uma tragédia no Rock in Rio em cinco capítulos:




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