domingo, 2 de outubro de 2011

Dois sessentões no palco

David Coverdale em ação
Diz a lenda que antes de morrer Kurt Cobain não via muito futuro para o tipo de música que fazia em dez anos porque neste período sua garganta já não seria mais a mesma e ele não poderia soltar seus berros guturais que eram uma das marcas do Nirvana. O palco do Citibank Hall viu recentemente dois exemplos de como o tempo pode ou não ser cruel com um vocalista de hard rock e heavy metal quando a idade começa a chegar.

Seis anos depois da última turnê que fizeram juntos e passou pelo Brasil no mesmo local no Rio de Janeiro, Whitesnake e Judas Priest voltaram a se encontrar em terras cariocas para dois shows em que o tempo foi o protagonista em tudo que ele tem de bom e de ruim, mas que também foi marcado por momentos de muita emoção em 3h35m de muito rock and roll (1h20 de Whitesnake e 2h15m de Judas Priest).

Em seis anos, deu para notar o quanto o tempo foi pesado para David Coverdale. Se ele ainda está longe dos micos que Ian Gillan paga a cada turnê do Deep Purple, é possível notar que o velho David, 60 anos, hoje já joga mais para a galera do que naquela época. Muito mais do que há três anos, quando a sua banda esteve aqui em turnê do disco “Good to be bad”.

Coverdale já não conserva mais a voz de outrora e está visivelmente acabado, mas tem carisma e uma penca de canções que levantam a galera. E é isso que emociona e faz o povo vibrar com ele, os guitarristas Doug Aldrich e Reb Beach, o baterista Brian Tichy, o baixista Michael Devin e o tecladista Brian Ruedy.

Para o Whitesnake, a receita “Espero morrer antes de ficar velho” cantada por Roger Daltrey em “My Generation” como prólogo do show é uma alusão dos velhos e felizes tempos que começa com “Best Years”: “Você veio como um sol na noite/Tirou-me das trevas para a luz/Agora esses são os melhores anos/Verdadeiramente os melhores anos da minha vida”.

Para retomar os tais melhores anos, o Whitesnake exibe três canções do novo disco. Boas músicas com a marca do Whitesnake: “Steal your heart away”, “Love will set you free”, com refrão grudento para pegar e cantar junto, e “Forevermore”, baladinha estilo Coverdale para cantar com a mão no coração e que o cantor diz que foi feita para homenagear os fãs que apoiam a Cobra Branca desde a sua fundação em 1978.

Mas é nos clássicos de outrora, nas eternas músicas com “love” no título que o Whitesnake ganha a galera. “Give me all your love” esquenta para a explosão da sequência com “Love ain’t no stranger” e “Is this love”.

Dois solos de guitarra e de bateria (este um show a parte de Brian Tichy jogando suas baquetas para o alto) depois, que revelam pausas estratégicas para Coverdale respirar, e a banda ataca de “Here I Go Again”. Com “Still of the night”, Coverdale acaba com o que lhe restava na garganta. O fim apoteótico com “Burn” é com o refrão levado pelo guitarrista Reb Beach e o público cantando “Buuuuuurnnnn”.
O Judas Priest mandou bem

O tempo foi mais generoso com Rob Halford, 60 anos. O cantor do Judas Priest mostrou que não perdeu muito da forma apresentada em 2005 e fez uma apresentação de clássicos da banda que é uma das mais importantes do heavy metal.

Inicialmente a turnê “Epitaph” era para marcar a despedida do Judas Priest. Depois virou a despedida da banda de grandes turnês e, por fim, um tchauzinho com promessa de novo disco em breve e, quem sabe, mais alguns shows. O que explica esse recuo estratégico do Judas, dizem, é a entrada do novo guitarrista Richie Faulkner. O músico de 31 anos (portanto o mais novo do quinteto) entrou na banda porque K.K. Downing pediu o boné antes do início da turnê e deu novo gás ao grupo.

Faulkner está à vontade no Judas. Entrou como se fosse membro desde sempre e deu novo gás ao time. É dele muitos dos bons momentos do show marcados por clássicos da banda.

Rob Halford canta tudo o que os fãs querem ouvir e segue a cartilha Judas Priest. Ou seja, entra no palco com aquela roupa de couro preta pesada, andando como um paquiderme que carrega o peso da história do metal nas costas. No bis, não falta o número da moto Harley-Davidson no palco.

Perto de David Coverdale, a voz de Halford ainda dá para o gasto e ele manda bem mesmo nas músicas do Judas que o exigem um pouco mais. Mas em “Break the law” deixa tudo a cargo da galera, apenas regendo do palco.

Aliás, a parte final do show é a que concentra as melhores músicas do Judas. Tem “Painkiller”, “Hellbent”, “Live after midnight”, que fecha os trabalhos, “Blood red skies” e “Sentinel”. Petardos que valem o ingresso de uma noite emocionante protagonizada por dois sessentões do rock.

Set list do Whitesnake: Best Years, Give me all your love, Love ain’t no stranger, Is this love, Steal your heart away, Forevermore, Love will set you free, Here I go again, Still of the night, Soldier of fortune, Burn/Stormbringer.

Set list do Judas Priest: Rapid Fire, Metal Gods, Heading fot the highway, Judas Rising, Starbreaker, Victim, Never Satisfied, Diamonds and rust, Prophecy, Nightcrawler, Turbolover, Beyond the realms, Sentinel, Blood Red Skies, Green Manalish, Breaking the law, Painkiler, Hellion/Eletric Eye, Hellbent, Another Thing, Living after midnight.

Abaixo, alguns bons momentos dos dois shows:











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