quinta-feira, 1 de abril de 2010

Um homem sério

Os irmãos Coen são mestres em fazer filmes em que seus personagens passam pelas situações mais nonsense possíveis ou bizarras ou as duas coisas. Por causa de trabalhos em que não há necessariamente um força motriz que indique o caminho mais centrado de começo, meio e fim de uma história e da ausência de um roteiro até certo ponto linear é até frequente que as pessoas saiam do cinema dizendo que não entenderam o filme.

Foi assim com “Onde os fracos não têm vez” (2007), que lhes rendeu os Oscar de melhor filme, roteiro e direção, como também é com “Um homem sério”, que recebeu merecidas indicações de roteiro e filme neste ano, mas deixou a festa de mãos vazias.

Anunciado como o mais autobiográfico dos filmes da dupla, “Um homem sério” conta a história de Larry Gopnik (o relativamente desconhecido Michael Stuhlbarg), professor judeu que tenta levar uma vida, digamos, séria e centrada, mas é alvo das maiores adversidades pelas quais um homem pode passar em sua trajetória. Só que tudo de ruim que um cidadão pode viver numa vida, ele recebe em alguns dias apenas. O cara parece até ter sido amaldiçoado por um dibbuk (um espírito maligno), como o apresentado na divertida esquete que abre a película.

Fato é que Gopnik não vive bons dias. E pior. Aceita as mazelas de sua existência com uma passividade até irritante que o faz parecer um mero bobalhão e leva o espectador a se perguntar: “Como pode?”.

No ponto mais alto, digamos assim, da película, ele aceita sair de casa a pedido da mulher de quem está se separando e em seguida chega ao cúmulo de pagar o enterro do amante dela, morto num acidente de carro.

Todas essas situações esquisitas parecem ter sido criadas para que os irmãos Coen tenham a chance de ridicularizar os dogmas religiosos, com suas hierarquias bizarras e falta de explicação para diversos eventos humanos, demasiado humanos. Se a religião judaica, que os irmãos Coen seguem, é a escolhida para ser exposta na tela, não significa que a crítica bem humorada não possa ser estendida a outros credos. Todos eles seriam alvos fáceis do típico humor da dupla.

“Um homem sério” pode ter vários significados e eu mesmo me incluo entre os que não entenderam plenamente o filme. Precisaria vê-lo de novo para tirar ainda mais conclusões do trabalho. Mas aqui neste espaço abro um vértice do debate expondo que em minha opinião o filme é um pouco um retrato cético dos dogmas humanos. Sim, pois são os humanos que criam os conceitos religiosos e os seguem com excessiva fé.

E quando Gopnik questiona ao seu líder religioso o por quê de tudo aquilo estar acontecendo com ele, o cara o enrola de uma maneira como quem diz para seguir o que está escrito e vê se não enche o saco porque está escrito e é a lei superior. E me deixa em paz ouvindo o meu Alan Parsos Project. Enquanto isso, mais uma tragédia se aproxima na vida de Gopnik.

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